Acordo avaliado em US$ 5,2 bilhões, anunciado em 2018, acabou rompido oficialmente neste sábado (25), em meio a crises no setor de aviação e na economia global. Combinação de fotos com as marcas da Boeing e da Embraer Denis Balibouse/Reuters; Roosevelt Cassio/Reuters Um negócio bilionário e completamente frustrado. O anúncio do acordo na área de aviação comercial entre Boeing e Embraer criou expectativas no mercado desde 2017, mas acabou rompido oficialmente neste sábado (25), em meio às crises no setor de aviação e na economia global. De um lado, a Boeing afirma que a Embraer não cumpriu com as “condições necessárias” para o acordo. De outro, a empresa brasileira diz que foi pega de surpresa pela decisão e que a Boeing rescindiu “indevidamente” o negócio, “fabricando falsas alegações”. Abaixo, o G1 relembra o histórico dessa negociação bilionária que movimentou o mercado nos últimos anos: Negócio Avaliado em US$ 5,2 bilhões, o acordo entre as duas companhias previa a criação de uma empresa conjunta que ficaria sob comando da Boeing, com 80% de participação. A Embraer ficaria com os 20% restantes e poderia vender a sua parte para a americana. Em maio do ano passado, as empresas, inclusive, divulgaram o nome da nova companhia: Boeing-Brasil Comercial. A expectativa era de que a empresa movimentaria, anualmente, cerca de US$ 150 milhões, sem considerar impostos, até o terceiro ano do negócio. Em uma segunda transação, Embraer e Boeing criariam uma joint-venture (nova empresa) voltada à produção da aeronave KC-390, de transporte militar, o maior modelo de cargueiro produzido no Brasil. O futuro deste segundo acordo também é incerto após o rompimento entre as empresas. Na época do acordo, a Embraer deixou fora do negócio os setores de defesa e aviação executiva. Preparação Pela operação, a nova empresa ficaria com unidades da Embraer em São José dos Campos (SP), com realocação dos funcionários. A Embraer, que é a terceira maior fabricante de aviões do mundo, chegou a ampliar a unidade da empresa no distrito de Eugênio de Melo, onde funcionaria sua nova sede. A empresa brasileira informou, num balanço do ano de 2019, que investiu R$ 485 milhões naquele ano para preparar a venda da divisão comercial à Boeing. A Boeing, por outro lado, já tinha até um escritório em São José dos Campos e planejava expandir a fábrica da Embraer em Taubaté (SP), para produzir trens de pouso. Ao longo dos meses, inclusive, o novo negócio havia sido aprovado por órgãos reguladores nacionais e internacionais, dependendo apenas do aval de reguladores do mercado da Comissão Europeia. Começo do fim Rumores que o acordo poderia ser rompido começaram a ventilar no mercado desde meados de março. A queda nas ações da Embraer e preocupações com dinheiro na Boeing, impulsionadas pelo impacto do coronavírus nas viagens aéreas, foram um golpe para a transação, aumentando a incerteza sobre a viabilidade do acordo. Fim do acordo Neste sábado (25), em comunicado oficial, a Boeing confirmou o fim do negócio. “É uma decepção profunda. Entretanto, chegamos a um ponto em que continuar negociando dentro do escopo do acordo não irá solucionar as questões pendentes”, diz o comunicado aos investidores divulgado pela Boeing. O texto diz ainda que a Boeing “exerceu seu direito de rescindir" o acordo "após a Embraer não ter atendido as condições necessárias”. Já a Embraer afirmou que a Boeing rescindiu "indevidamente" o acordo e que a empresa norte-americana "fabricou falsas alegações como pretexto para tentar evitar seus compromissos de fechar a transação". Próximos passos As empresas não divulgaram o valor da multa de rescisão do acordo, mas especialistas acreditam que a Embraer tenha direito a ser ressarcida em até US$ 100 milhões. A empresa, inclusive, disse que irá a Justiça para buscar as medidas cabíveis contra a Boeing, pelos danos sofridos com a rescisão. Segundo o presidente da Embraer Francisco Gomes Neto, a empresa "tem liquidez suficiente e acesso a fontes de financiamento para alavancar a continuidade dos seus negócios". Situação das gigantes aéreas Embraer, Boeing, Airbus e Bombardier Alexandre Mauro/G1