Baterista da Legião Urbana lança disco com cinco músicas gravadas há cerca de dez anos com os toques dos baixistas Champignon e PJ. Capa do EP 'Outono', de Marcelo Bonfá Reprodução Resenha de EP Título: Outono Artista: Marcelo Bonfá Gravadora: ONErpm Cotação: * * * ♪ Uma das injustiças cometidas por parte da crítica musical brasileira dos anos 1980 e 1990 foi atribuir a Renato Russo (1960 – 1996) todos os méritos da Legião Urbana como se o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá – integrantes fundamentais de todas das fases da banda brasiliense – fossem meros robôs comandados por Renato. É fato que o vocalista e letrista da Legião Urbana foi o mentor e o pensador do grupo. Contudo, os arranjos das cinco músicas do EP Outono – lançado por Bonfá nesta quinta-feira, 23 de abril – evidenciam a contribuição do baterista e compositor na arquitetura sonora da Legião. Tanto que, ao dar o play na faixa Arco dos sonhos, destaque do repertório inédito e autoral do EP, o ouvinte tem a impressão de que vai entrar a voz de Renato Russo na gravação. Quinto título da discografia solo de Bonfá, iniciada há 20 anos com a edição do álbum O barco além do sol (2000), o EP Outono poderia ter sido lançado bem antes. As cinco músicas foram compostas e gravadas há cerca de dez anos, o que explica a presença do já falecido baixista original da banda Charlie Brown Jr., Champignon (1978 – 2013), na gravação de Como não ver? – música formatada com longa passagem instrumental de vibe prog. Em sintonia com o título Outono, o EP apresenta cinco faixas de climas amenos, nos quais Bonfá se ambienta bem. Na antiga safra autoral, a mencionada Arco dos sonhos e Fogo e ar sobressaem no disco e expõem certa beleza melódica que também atesta a contribuição de Bonfá na criação do repertório da Legião Urbana. Arco dos sonhos, Fogo e ar e Ei! Irmão – declaração de fraternidade feita com o coração aberto – são faixas que trazem o toque do baixo de PJ, músico da banda Jota Quest. Faixa que expõe na introdução o maior uso de recursos eletrônicos no instrumental de suave textura roqueira, Ilumino completa o disco com refrão quase certeiro, reiterando a opacidade do canto de Bonfá, obstáculo que parece impedir que a obra solo do artista paulista se comunique com a vasta legião seguidora da banda que deu projeção a Marcelo Bonfá a partir dos anos 1980.