Paralisia econômica fez desabar a demanda por petróleo e o preço da commodity. Vagões-tanque da Pemex, no México Daniel Becerril/Reuters Onde armazenar o petróleo bruto? Essa é a grande preocupação de um mercado inundado de barris, cuja demanda evaporou, devido à paralisia global causada pela pandemia de coronavírus e às medidas de confinamento decretadas. A questão se tornou premente nos últimos dias nos mercados, onde os preços caíram a valores negativos, o que significa que os investidores estavam dispostos a pagar para se livrarem de barris de petróleo. Ao mesmo tempo, foi iniciada uma corrida para encontrar espaços de armazenamento livres, em terra, como é o caso do terminal de armazenamento de Cushing, nos Estados Unidos, quase cheio, ou no mar, onde muitos navios-tanque foram requisitados. Esse é um setor que opera por dia, cuja "capacidade de armazenamento é baixa em comparação à produção", ressalta Frédéric Rollin, consultor de estratégia de investimentos da Pictet AM, em conversa com a AFP. Manter a produção em um nível relativamente alto, uma vez que um corte a seco acabaria com a receita e geraria outros problemas técnicos, causa essa necessidade de armazenamento em massa. Além disso, a escassa demanda no curto prazo criou no mercado uma situação que os especialistas chamam de diferimento, ou seja, os preços dos contratos com entrega no próximo mês são mais baixos do que aqueles com um horizonte mais distante. Isso rompe a lógica tradicional desse tipo de transação. Os investidores correram para tirar proveito dessa situação e encher seus armazéns, esperando revender seu petróleo a um preço melhor quando a atividade recomeçar. A demanda por armazenamento realmente acelerou "a partir da segunda semana de março", diz Ernie Barsamian, diretor da The Tank Tiger, uma corretora especializada no setor. Acesso mais difícil Atualmente, ainda há espaço para o equivalente a 130 milhões de barris do outro lado do Atlântico, além de reservas estratégicas, dizem analistas da Kpler. Existem "inúmeros lugares menores", disse Barsamian à AFP. Eles não são levados em consideração a princípio, porque são "menos acessíveis e nem sempre estão conectados a um oleoduto, por exemplo". Mas Krien van Beek, corretor da empresa holandesa Odin-RVB Europe, destaca que, embora não estejam totalmente lotados, muitos armazéns foram alugados e, portanto, não estão disponíveis. A situação é menos crítica para o petróleo Brent, referência europeia, que não escapou ao colapso dos preços, mas resistiu melhor do que o WTI, referência americana. Retirado do Mar do Norte, o Brent é "mais fácil de armazenar em navios do que em terra", de acordo com Rollin, embora a oferta de armazenamento no mar também tenha multiplicado e esteja chegando ao seu limite. Na Ásia, a China tem mais capacidade de armazenamento do que os Estados Unidos (181 milhões de barris), e o Japão segue com 58 milhões de barris, segundo a Kpler. Preço do petróleo cai abaixo de zero pela primeira vez na história Enquanto as empresas estão se voltando para as chamadas reservas comerciais, que empresas privadas como a Vopak holandesa possuem em todo mundo, os Estados têm locais específicos para suas reservas estratégicas. Mas esses locais também estão se enchendo rapidamente, pois muitos países, como Austrália, China, Índia, ou Coreia do Sul, aproveitam esses preços extremamente baixos para encher seus depósitos. O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que quer adicionar 75 milhões de barris à reserva estratégica de seu país. Armazenada em quatro enormes depósitos subterrâneos na costa do Golfo do Texas e de Louisiana, no sul do país, a reserva americana tem uma capacidade total de armazenamento de 727 milhões de barris.