Cantor surpreende ao disparar 'Um tiro no coração' no roteiro autoral de apresentação feita dentro da programação do festival 'BRB Play'. Resenha de live – Festival BRB Play Título: Voz e violão Artista: Nando Reis Data: 21 de abril, de 21h às 22h30m Cotação afetiva: * * * * * ♪ Dois dias após Roberto Carlos viver a “experiência um pouco rara” de fazer a primeira live, como ressaltou o cantor, foi a vez de Nando Reis viver a mesma experiência, também inédita para esse artista paulistano que subiu pela primeira vez ao palco em 1979. Ex-integrante do grupo Titãs que aos poucos se revelou um seguidor contemporâneo da dinastia do Rei na carreira solo que ganhou impulso ao longo dos anos 2000, Nando apostou na força de canções românticas durante a hora e meia de live realizada na noite de terça-feira, 21 de abril, dentro do festival BRB Play, organizado para celebrar os 60 anos da fundação de Brasília (DF), cidade-capital inaugurada em 1960. Munido de três violões, alternados pelo artista durante o roteiro, Nando mostrou o poder das grandes canções que, por terem melodia, resistem muito bem no formato despido de live forçosamente minimalista. Emoldurado por cenário caseiro no qual se via plantas e estante com discos, o cantor fez live que fluiu bem durante a primeira hora prevista pelos organizadores. Ao ser estendida de improviso, por conta do grande número de espectadores (quase 530 mil naquele momento), a apresentação virtual de Nando teve a fluência mais comprometida, mas, mesmo surpreendido e um tanto confuso com a liberação do horário, o cantor manteve o espectador entretido, atendendo pedidos para cantar músicas como Marvin (Patches) (Ronald Dunbar e General Johnson, 1970, em versão em português de Nando Reis e Sergio Britto, 1984), sucesso do grupo Titãs. E se, no geral, tudo funcionou tão bem foi simplesmente porque Nando Reis é um dos maiores compositores da geração pop projetada no Brasil a partir dos anos 1980. Menos evidenciada na coletividade dos Titãs, a habilidade do compositor de Os cegos do castelo (1997) – música incluída na parte estendida da live, aliás – para fazer canções aliciantes saltou aos ouvidos na carreira solo e garantiu uma das melhores apresentações virtuais da quarentena brasileira. Nando Reis atende pedido para cantar 'Marvin', hit do grupo Titãs, em live Reprodução / Vídeo Por diversas vezes, Nando externou certo desconforto com o fato de estar cantando sem a presença visível da plateia. Mas, para o público que estava do outro lado da tela (do computador, do celular ou da smart TV), a presença do artista era não somente visível, como acolhedora. Com segurança no canto, Nando foi encadeando baladas autorais como Sei (2012), As coisas tão mais lindas (1999), Só posso dizer (2016), N (2006 – com a sagacidade do improviso no verso “Espero que o tempo passe e essa quarentena acabe para que eu possa te ver novo”), Luz dos olhos (1996), Relicário (2000), Pra você guardei o amor (2009) e All star (2000). Ao desfiar esse rosário de pérolas apaixonadas, com romantismo que muitas vezes embute a eletricidade do rock, Nando Reis disparou Um tiro no coração (2000), música que nunca gravou na própria discografia e que foi lançada há 20 anos em álbum de Sandra de Sá em gravação feita pela cantora com Cássia Eller (1962 – 2001), intérprete referencial do repertório de Nando por ter lançado canções como O segundo sol (1999), um dos destaques da live. Ao lembrar Onde você mora? (1994), composição do artista com Marisa Monte (com quem Nando teria recentemente retomado a parceria musical dos anos 1990…), o artista tirou sons mais percussivos do violão. Nando Reis canta com segurança em live pautada por sucessos do repertório romântico do artista Reprodução / Vídeo A seção de perguntas dos espectadores atrapalhou um pouco o fluxo da live que transcorria muito bem. “Esse negócio é novo para mim”, justificou Nando, se desculpando pelo que chamou de “gafes”, mas que, na realidade, foram somente comportamento naturais, resultado da inabilidade do artista para lidar com o formato tecnológico das lives. Problema mesmo foi o ruído no som do violão durante Por onde andei (2004) já perto do fim da apresentação encerrada com abordagem estranha da música Do seu lado (2003), revivida com cacos (sobre o momento atual) que não colaram bem na letra. Detalhe tão pequeno de apresentação que reiterou a grandeza da obra de Nando, um rei brasileiro da canção pop romântica.