Capa do álbum 'Elba', de Elba Ramalho Frederico Mendes ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Elba, Elba Ramalho, 1981 ♪ Elba Ramalho estava à beira da consagração popular quando lançou, no segundo semestre de 1981, o último dos três álbuns que gravou pelo selo Epic da gravadora CBS. Intitulado Elba, este álbum permaneceu como um dos títulos mais obscuros da discografia da cantora paraibana sem ter gerado sequer um sucesso perene para o repertório da intérprete que despontara na carreira solo há dois anos com o primeiro álbum, Ave de prata (1979), ao qual se seguiu um segundo álbum igualmente arretado, Capim do vale (1980). Ao ser contratada naquele ano de 1981 pela Ariola, gravadora que botou banca no mercado fonográfico ao se instalar no Brasil em trajetória que seria efêmera pela impossibilidade de recuperar os altos investimentos feitos na contratação de elenco estelar, Elba Ramalho foi catapultada para o estrelato com repertório forrozeiro e junino revestido com a roupagem tecnopop da década de 1980. O marco zero dessa fase mais pop foi o sucesso da regravação de Bate coração (Cecéu, 1980), incluída no coletivo álbum ao vivo lançado pela Ariola ainda em 1981 com números dos shows feitos por Elba, Moraes Moreira (1947 – 2020) e Toquinho no Montreux Jazz Festival. As edições desse álbum ao vivo de 1981 e do compacto com o registro de estúdio de Bate coração, este já em 1982, praticamente enterraram o álbum Elba no mercado. Até porque já não havia o interesse da gravadora CBS de promover o disco de cantora que já assinara com outra companhia fonográfica. Com dez faixas que totalizavam menos de 28 minutos, o álbum Elba ficou para a posteridade como o último retrato da fase mais agreste do canto da Leoa do Norte. Ao imprimir a cor sertaneja do canto na Aquarela nordestina (Rosil Cavalcanti, 1958), sucesso da antecessora Marinês (1935 – 2007), Elba Ramalho demarcou território neste disco em que encarnou a retirante para refazer O pedido (1973) de Elomar – somente com os toques do violão de Vital Farias e da viola de Joca – e no qual baixou os tons para dar voz com sedutora delicadeza às divagações filosóficas de Cajuína (Caetano Veloso, 1979). Música então inédita, Temporal (Fuba e Bráulio Tavares) desabou já na abertura do disco com a ambiência épica do arranjo de pianista e maestro uruguaio Miguel Cidras (1937 – 2008), principal orquestrador do disco produzido por Mauro Motta. Cidras jamais se prendeu à identidade nordestina do repertório e, em vez de sanfonas e zabumbas, foi por outros caminhos ao amplificar com metais Oitava (Cátia de França, compositora paraibana de Kukukaya, faixa cult do primeiro álbum de Elba) e ao embalar Amanhã eu vou (Luiz Gonzaga e Beduíno, 1981) com cordas. As cordas também sublinharam o lirismo de Dono dos teus olhos (Humberto Teixeira, 1956), crônica do amor possessivo que destoaria da ideologia politicamente correta dos dias de hoje. Ainda assim, o toque da sanfona de Zé Américo chamou o ouvinte para a cadência do xote Lua viva (Tito Lívio e Lua Cortes) e para o tom da já mencionada Aquarela nordestina, faixa arranjada por Zé Américo. Neste disco que insinuou outros caminhos musicais para Elba e que foi encerrado com suave abordagem violeira do samba-canção Eu queria (Roberto Martins e Mário Rossi, 1942), sucesso do cantor carioca Cyro Monteiro (1913 – 1973), o convite de Vem (Ser navegador) (Marco Polo) soou como viagem lisérgica para desbravar mares, amores e sentidos. Mas a rota de Elba foi outra. A partir de 1982, o coração brasileiro da Leoa do Norte bateu com mais força e se fez ouvir em todo o país. Valente, Elba Ramalho venceu preconceitos, segurou com orgulho a bandeira do Nordeste – sem se limitar ao rico cancioneiro da região – e se firmou como uma das maiores cantoras do Brasil, fazendo ecoar a voz que já mostrara vigor e personalidade na inicial trilogia fonográfica encerrada em 1981 com o pouco ouvido álbum Elba.