Capa do álbum 'Brilho e paixão', de Joanna Antonio Guerreiro ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Brilho e paixão, Joanna, 1983 ♪ Voz carioca que se fez ouvir na corrente feminina que projetou cantoras e compositoras na MPB ao longo de 1979, Joanna emergiu identificada com o romantismo da canção popular. Mas já havia em algumas músicas do primeiro álbum da artista, Nascente (1979), brasilidade enfatizada no repertório do quinto álbum de Joanna, Brilho e paixão. Lançado em 1983, Brilho e paixão foi disco formatado com produção musical dividida por Arthur Laranjeira (???? – 1998) – jornalista e compositor que tinha sido fundamental no lançamento de Joanna no mundo do disco – com o compositor, violonista e arranjador Durval Ferreira (1935 – 2007). Batizado com o nome de canção então inédita de Joyce Moreno (artista na época já posta covardemente à margem do mercado fonográfico por ter entrado em litígio com a gravadora EMI-Odeon), o álbum Brilho e paixão mostrou de fato uma Joanna mais brasileira, capaz de dar vida a serelepe frevo de Sivuca (1930 – 2006) e Paulinho Tapajós (1945 – 2013), Pro que der e vier, regido pelo próprio Sivuca com profusão de trombones e trompetes. A propósito, os metais também conduziram o arranjo criado pelo pianista Luiz Avellar para Tua cara (Geraldo Amaral e Carlos Fernando), música escolhida pela gravadora RCA para promover o álbum Brilho e paixão nas emissoras de rádio e programas de TV. Ouvida 37 anos após o lançamento do disco, Tua cara resiste como uma das melhores músicas gravadas por Joanna, mas a faixa surtiu pouco efeito nas vendas (moderadas) de Brilho e paixão. O mesmo Luiz Avellar orquestrou a balada Eternamente (Drácula e Walnio), outra ótima “música de trabalho” – jargão fonográfico da época para designar o single promocional de um álbum – de Brilho e paixão. A mexida na fórmula da discografia de Joanna foi consequência do desempenho morno nas paradas do álbum anterior da cantora, Vidamor (1982). Embora lançado com toda pompa, promovido pela bela valsa Vertigem (Caio Silva e Graco, 1982), Vidamor jamais obteve a repercussão popular dos álbuns antecessores Estrela guia (1980) e Chama (1981). Talvez porque Joanna já mostrasse brilho menor como compositora, embora o voo mais livre de Pássaro (Joanna, Tony Bahia e Tharcisio Rocha) tenha sobressaído na reduzida safra autoral do álbum Brilho e paixão. Por questão de justiça, é preciso ressaltar que, a partir da explosão do rock brasileiro em 1982, a MPB perdeu progressivamente a hegemonia e cantoras como Joanna tiveram que aderir às industrializadas baladas sentimentais de hitmakers de gravadoras para sobreviver no mercado. No caso de Joanna, o mergulho na música industrializada foi tão profundo – a partir do álbum de 1986 que gerou o megahit Amanhã talvez (Michael Sullivan e Paulo Massadas) – que a cantora jamais recuperou o prestígio do qual desfrutava na fase 1979 – 1985. Desse período áureo do ponto de vista artístico, o álbum Brilho e paixão permaneceu como o título mais atípico da discografia da cantora. Joanna deu voz a um choro-canção de tom seresteiro, Minha alma suburbana (Claudio Jorge), e a um autoral samba sincopado e pretensamente malandro, Diz quem me diz (Joanna, Guará e Sarah Benchimol), que remeteu à nostalgia do samba Rio antigo (Nonato Buzar e Chico Anysio, 1979), lançado há quatro anos na voz de Alcione. Contudo, nem tudo funcionou tão bem no álbum Brilho e paixão. O arranjo tecnopop de Lincoln Olivetti (1954 – 2015) diluiu as emoções reais da canção Caminhos do coração (Pessoa – Pessoas), lançada pelo autor Gonzaguinha (1945 – 1991) no ano anterior no álbum justamente intitulado Caminhos do coração (1982). Houve também certa artificialidade na exaltação ufanista das miscigenadas riquezas culturais do Brasil, assunto de Maravilhas (Ronaldo Malta) que se repetiu em Acreditar (Joanna, Sarah Benchimol e Ronaldo Malta). No arremate do álbum Brilho e paixão, a sensível e melancólica canção Estranhas maneiras (Ruy Quaresma e Oswaldo Miranda) expôs sentimento e poesia que foram escasseando na discografia de Joanna a partir de 1986. Para quem desconhece a cantora, Brilho e paixão é disco que merece ser descoberto por resistir bem ao tempo como atestado do bom momento artístico vivido por Joanna na primeira metade da década de 1980.