Unidades processaram 590,36 milhões de toneladas de matéria-prima até o final de março e produziram 33,2 bilhões de litros de combustível, aponta Unica. Setor retomou atividades, mas espera impactos da pandemia no ciclo 2020/2021. Etanol brasileiro é feito majoritariamente a partir da cana de açúcar BBC Incertas sobre o futuro do setor diante da pandemia do novo coronavírus, as usinas da região Centro-Sul do país fecharam a safra 2019/2020 com uma alta de 3% da moagem de cana-de-açúcar e uma produção recorde de etanol, apontam dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). Em meio ao avanço da Covid-19 e medidas de isolamento social adotadas em todo o mundo, as indústrias retomaram 100% das atividades desde março com medidas de higiene e segurança para funcionários, mas ainda é cedo para se projetar como os mercados vão se comportar no ciclo 2020/2021, afirma Antônio de Pádua Rodrigues, diretor da entidade. Álcool 70% fabricado por usinas no Centro-Sul começa a ser levado aos estados "Você não tem alternativa, com a cana-de-açúcar, de deixá-la no campo. Ou você começa ou não começa. Eu não consigo estocar cana no campo. As empresas começaram a produzir até elas conseguirem manter essa atividade", diz. Safra 2019/2020: alta As unidades, que respondem por cerca de 90% da produção nacional, moeram 590,36 milhões de toneladas de matéria-prima entre abril de 2019 e março de 2020, diante de 573,1 milhões da safra anterior, aponta o balanço divulgado esta semana pela Unica. Depois de uma alta de 88% na moagem na primeira quinzena, as duas últimas semanas fecharam com baixa de 1,47%. Principal subproduto do setor, com 65% do mix de processamento, o etanol atingiu um volume de 33,2 bilhões de litros, montante 7,39% superior ao obtido na safra anterior, que também foi recorde, com 30,9 bilhões de litros. Concorrente da gasolina, o etanol hidratado totalizou 23,3 bilhões de litros e o anidro, que é adicionado na mistura com o derivado do petróleo, 9,9 bilhões de litros. O aumento da moagem está atrelado a uma estabilidade na área de colheita bem como a condições climáticas favoráveis, segundo Rodrigues. Além desses fatores, a alta na produção de etanol, por sua vez, foi resultante de: um incremento de 0,5% na qualidade da matéria-prima – com um total de 138,57 quilos de açúcar totais recuperáveis (ATR) por tonelada de cana -; um consumo favorável ao combustível renovável, com maior competitividade em relação à gasolina, com preços atrelados ao mercado internacional; além do estímulo ao uso de fontes sustentáveis de energia do programa Renovabio, política nacional de biocombustíveis que entrou em vigor em 2020. "Muitas dessas usinas aumentaram ainda mais a produção de etanol porque já tinham um investimento na capacidade de destilação de etanol. O cenário do Renovabio já vem trazendo investimento ao setor produtivo na expectativa da expansão que temos que ter para atender as metas da COP 21 [cúpula do clima de Paris]", afirma. Safra 2020/2021: incerteza Os números positivos antecedem, por outro lado, um dos maiores períodos de incerteza do segmento, diante da pandemia do novo coronavírus. As usinas da região Centro-Sul, que anteciparam a volta das atividades em março em regiões como a de Ribeirão Preto (SP), estão em atividade com 198 unidades processadoras até o início da segunda quinzena de abril, mas com dúvidas sobre os impactos que a Covid-19 deve causar à demanda de etanol e de açúcar. Antes da pandemia mundial, especialistas do setor projetavam: um incremento de até 3% na moagem de cana para o ciclo 2020/2021; uma maior participação do açúcar – com um mix de 41,5% – nas usinas, garantido pelo déficit de produção em países da Ásia e da América Latina; e um recuo do etanol, já afetado pela queda nos preços do barril do petróleo, em meio à guerra comercial entre Arábia Saudita e Rússia. O diretor da Unica avalia que o setor sucroenergético já passou por momentos de indefinição representativos, como em 1998, quando uma mudança na política de preços provocou um excedente de 2 bilhões de litros nos estoques de etanol, e em 2008, com a crise mundial financeira, mas nenhuma é tão significativa em relação ao consumo. Além do etanol, que já vinha com expectativa de baixa por outros fatores, o açúcar pode ser impactado. Após o anúncio da pandemia, a precificação do produto bruto no mercado externo já caiu de US$ 0,15 para US$ 0,11 por libra-peso, estima o representante das usinas. Quem fechou contratos com os preços anteriores, no entanto, ainda pode se beneficiar, avalia o diretor da Unica. "Neste momento, as empresas que têm logística para exportação, que têm inteligência de mercado. Essas praticamente fixaram já toda essa comercialização de açúcar para a próxima safra. Um cenário que nós temos é que grande parte do volume de exportação já foi negociado a um preço que foi negociado lá atrás. Essas empresas vão ter uma condição melhor que aquelas que são mais dependentes do etanol." Veja mais notícias da região no G1 Ribeirão Preto e Franca