'Ver cantores gravando a si mesmos em casa nos lembra que somos todos iguais', diz ao G1. Artista lança 'I'm ready' com Demi Lovato, fala de disco adiado e lembra depressão no Brasil. Sam Smith, em sua casa na quarentena, grava versão da música 'How do you sleep?' Reprodução Sam Smith está bem. Em quarentena com a irmã em casa, vendo TV, comendo, tentando malhar, resolvendo umas coisas de trabalho. Até gravando vídeos na sala. Gente como a gente. A diferença é que esses vídeos são de sucessos onipresentes nos últimos anos com seu vozeirão sofrido. E as resoluções de trabalho são adiar uma turnê mundial e o lançamento do seu terceiro disco. O título seria "To die for" (motivo para morrer) e vai mudar, claro. A data e o novo nome não estão certos. Pelo menos sai na sexta (17) a faixa 'I'm ready", com Demi Lovato – tudo feito antes da quarentena. O clima ainda é emotivo, mas "para dançar triste", como Sam Smith define ao G1. Sam também fala sobre o exemplo dos vídeos caseiros em quarentena: "Nos lembra que somos iguais". Ao falar sobre o Lollapalooza em São Paulo, em 2019, Sam Smith descreve uma fase de depressão. O show aconteceu dias após uma entrevista que revelou sua identidade de gênero não binária. Ao marcar a entrevista, Sam, que não se identifica como homem nem mulher, pediu para ter identificação de gênero neutra na reportagem. Leia abaixo: G1 – O refrão de ‘I’m ready’ descreve uma coisa simples, mas que eu acho difícil alcançar: deixar alguém te amar. Você sentia que deixava isso nos seus primeiros discos? Sam Smith – A gente passa por fases. Amar alguém te deixa muito vulnerável. Só acontece algumas vezes na vida. Hoje sinto essa disposição. Há alguns anos senti também. Foram só algumas vezes na vida que consegui me expor, mostrar para a pessoa tudo de mim. G1 – O vídeo em que você aparece lutando no chão me lembrou de outra música com letra parecida, “Ready for the floor”, do Hot Chip. Como foi a ideia desse vídeo com a Demi? Sam Smith – Esse vídeo festeja as identidades LGBTQ em todas as suas formas. Eu não sei se você é “queer” como eu. Mas para alguém que é, o esporte pode ser assustador, um gatilho. Então, ser esportista num clipe com Demi Lovato foi incrível. Foi tão libertador. E as Olimpíadas foram canceladas nesse ano, então as pessoas gays têm dar sua contribuição. Sam Smith e Demi Lovato Divulgação G1 – Eu tinha esse medo nas aulas de Educação Física sim, entendo. Mas para mim, o esporte era um símbolo de estar pronto para ganhar ou perder numa relação. Sam Smith – É mesmo. Quer saber? Eu vou roubar isso de você! É verdade. G1 – Além dessa faixa, como foi a decisão de adiar o lançamento do seu terceiro disco? Os fãs estão em casa buscando alguma alegria. Sam Smith – Não foi uma decisão difícil, pois sei que tenho faixas que posso lançar, como essa. Mas eu queria ser sensível com os fãs. O que está acontecendo no mundo é muito intenso. Eu vou viajar na turnê do disco por próximos dois anos. Foi a coisa certa a se fazer. G1 – Como é seu processo de escolher um título? E em que pé está para o novo título do disco? Sam Smith – Eu já tenho um novo título. Normalmente tento achar uma letra do disco que resume esse período da minha vida. E mudo de ideia o tempo todo, é um pesadelo. Mas já achei o nome novo. Acho que é melhor do que “To Die For”. G1 – Sei que você não vai contar, mas vou chutar: “I’m ready for someone to love me”, certo? Sam Smith – (Risos). Não, na verdade nem sei se essa música vai estar no disco. Vamos ver como estará o mundo para saber a data também. Por isso decidi ao menos lançar “I'm ready”, espero que faça as pessoas sorrirem agora. Eu tenho um disco inteiro pronto, que pode não incluir nenhuma dessas já lançadas. Mas eu vou ver como me sinto depois de tudo isso acabar. G1 – Mas essas músicas apontam algo sobre o disco? Elas são mais pop e dançantes. Sam Smith – Sim. Os primeiros dois discos são muito profundos, emotivos. Eu passei pelo período mais triste da minha vida nos últimos anos. E não queria escrever tantas músicas tristes. Há algumas músicas tristes no disco. Falando a verdade, elas são todas tristes. Mas agora eu prefiro ficar triste enquanto danço. Dançar no clipe de “How do you sleep?” me libertou. Eu quero fazer isso mais, até na turnê. Esse é meu objetivo nesse disco, me divertir. E correr riscos, mostrar esse lado de mim. Porque eu sempre fui assim, só nunca mostrei para as pessoas. Sam Smith no vídeo de 'How Do You Sleep?' Reprodução/YouTube G1 – Essa pergunta que todo mundo tem que fazer atualmente: como você está passando esses dias? Sam Smith – Estou bem, numa posição privilegiada. Estou em casa com minha irmã. Comendo, tentando malhar, vendo TV, resolvendo umas coisas de trabalho. Só é difícil ficar em casa enquanto tem tanta gente lá fora lutando para viver. E lutando pelas vidas de outras pessoas. Só tento ficar o mais otimista que consigo. G1 – Você tem feito algumas gravações simples na sua casa, uma delas passou até no iHeart Festival. Para alguém que faz turnês com mil roadies, músicos e técnicos, como é a experiência? Sam Smith – Está incrível. E me lembro de quando eu tinha 13 anos e costumava cantar cantar sem ninguém no meu quarto, só pela alegria de cantar mesmo. Foi lindo fazer isso nesses dias. Não estou no clima de compor, mas sim de cantar. Está sendo legal. G1 – Você acha que isso dá um recado para os fãs que também estão em casa? Sam Smith – Totalmente. Ver cantores gravando a si mesmos em casa nos lembra que somos iguais. Somos humanos e estamos nessa juntos. Há muitas diferenças, claro, que dificultam a vida, mas passamos por isso juntos. Agora só quero ajudar. Se cantar ajuda, ótimo. G1 – Seu show no Brasil em 2019 foi um dos primeiros após sua entrevista em que você disse que era de gênero não binário. Como você se sentia naqueles dias? Sam Smith – Eu sempre fico feliz no Brasil, amo estar aí. Os shows foram ótimos. Mas nessa época minha saúde mental estava ruim. Estava em turnê por 100 dias, um cansaço emocional. Sam Smith canta em show no Lollapalooza 2019 Fábio Tito/G1 No palco me sentia incrível, mas assim que saía, era um peso. Estava em depressão. Mas não há nada como um show brasileiro para te fazer sentir melhor. G1 – Quando a turnê começar de verdade, acha que passará pelo Brasil? Sam Smith – A turnê começaria em setembro, então não sei. Espero que no ano que vem eu consiga. G1 – E você falou que gostou de dançar no clipe. Vai ter muita dança no show novo? Sam Smith – Claro, vou dançar muito na turnê, vai ser uma coisa totalmente Beyoncé! (Risos). Sam Smith e Demi Lovato Divulgação