Capa do álbum 'Moraes Moreira', lançado em 1981 Reprodução ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Moraes Moreira, Moraes Moreira, 1981 ♪ Em 1981, Gal Costa liderou as paradas do Brasil com Festa do interior, marcha-frevo em clima de quadrilha junina que disparou feito rojão para o topo das playlists. A música era mais um sucesso do cancioneiro festivo do compositor baiano Moraes Moreira (1947 – 2020) – no caso, em parceria com o poeta Abel Silva, autor da letra. Curiosamente, Moraes Moreira atravessou o ano de 1981 sem um hit massivo como o que fornecera para cantoras como Gal. O álbum lançado pelo eternamente novo baiano naquele ano de 1981, intitulado Moraes Moreira, seguiu a linha do anterior Bazar brasileiro (1980). Produzido pelo próprio artista para a gravadora Ariola (então recém-chegada ao Brasil), sob a direção de Marco Mazzola, o álbum Moraes Moreira foi gravado entre agosto e setembro daquele ano de 1981 e apresentou dez músicas autorais. Uma delas, Vida vida (Moraes Moreira, Zeca Barreto e Guilherme Maia), foi gravada simultaneamente por Ney Matogrosso (em tom mais vibrante), em álbum também feito com Mazzola para a Ariola, e fez sucesso na voz de Ney. Ambas as gravações foram formatadas na linha tecnopop que, no disco de Moraes, também embalou músicas como Bateu no paladar (Moraes Moreira, Zeca Barreto e Fausto Nilo). Como toda a discografia solo do cantor baiano na década de 1980, o álbum Moraes Moreira merece ser descoberto e ganhar edição digital decente (o disco pode ser ouvido somente no YouTube). Pode não ter resultado no melhor ou mais coeso disco do artista, como sinalizou a canção Nossa voz (Moraes Moreira, Toni Costa, Zeca Barreto e Guilherme Maia), mas exemplificou bem a efervescência rítmica tropicalista que pautou a obra fonográfica desse cantor que iniciara carreira solo em 1975, um ano após deixar o grupo Novos Baianos. No bazar brasileiro do álbum de 1981, o cantor e compositor ofereceu Paxorô (Moraes Moreira e Charles Negrita) – ijexá cantado em feitio de oração, em particular dialeto africano – e celebrou o trio elétrico Dodô e Osmar com a participação do trio, à época já comandado por Osmar Macedo (1923 – 1997) com Armandinho, já que Adolfo Nascimento (1920 – 1978), o Dodô, morrera há três anos. A propósito, o título da elétrica faixa Dodô no céu Osmar na terra (Passo doble Carnaval) (Moares Moreira, Osmar Macedo e Solon Melo) aludia à saída de cena do pioneiro artista que criara o trio elétrico no Carnaval de 1950. A faixa simbolizou a gratidão de Moraes por ter sido o primeiro cantor a soltar a voz em cima de trio elétrico, em 1976, a convite de Dodô & Osmar. Com marcha-frevo baiana moldada para os trios e para a folia do verão com o idioma da juventude na época, As quatro curtições do ano (Moraes Moreira), o álbum reverberou a baianidade nagô de Moraes Moreira no pulso da veia pop que saltava na música brasileira no alvorecer na década de 1980. Com o também novo baiano Pepeu Gomes, parceiro de outros Carnavais, Moraes compôs Axé do Gandhy, saudação ao bloco de afoxé Filhos de Gandhy. Segunda das três parcerias de Moraes com o poeta baiano Waly Salomão (1943 – 2003), A lenda de São João tentou acender a fogueira, mas sem a chama de outros hits de Moraes na seara junina. Já o samba A terra é boa se tornou uma das composições mais obscuras da obra de Moraes com outro poeta baiano, Luiz Galvão, letrista dos maiores sucessos do repertório do grupo Novos Baianos, no qual Moraes tinha sido revelado em 1969. Parceria de Moraes com Aroldo Macedo, irmão de Armadinho, Mulher e cidade Marília sobressaiu no repertório inteiramente autoral com beats desacelerados na forma de samba-choro-canção de clima seresteiro. Nunca editado em CD na era áurea do formato, o álbum Moraes Moreira faz parte do legado inestimável deixado por esse artista que saiu de cena na madrugada de segunda-feira, 13 de abril, vítima de infarto. Celebrado pela revolução pop feita m 1972 com a trupe dos Novos Baianos, Moraes Moreira nunca perdeu o pique em discografia solo que, com exceções dos já reeditados álbuns individuais da década de 1970, caiu injustamente no esquecimento quando o Brasil começou a descer a ladeira.