Grupo de amigos se reunia em padaria na Gávea, bairro onde vizinhos prestaram homenagens nas janelas nesta segunda. Músico morreu em casa, de infarto, segundo a assessoria. Amigo fotógrafo registrou último show de Moraes Moreira Evandro Teixeira/ Arquivo pessoal O último show de Moraes Moreira foi registrado por um amigo. O fotógrafo Evandro Teixeira, um dos mais importantes nomes da história do fotojornalismo brasileiro, fez o registro da apresentação no dia 13 de março, no Clube Manouche, no Jardim Botânico, um dia antes do músico entrar em quarentena. Moraes Moreira morreu nesta segunda-feira (13), no Rio de Janeiro, após sofrer um infarto agudo do miocárdio, segundo a assessoria de imprensa do cantor. As informações sobre o enterro não serão divulgadas para evitar aglomerações, recomendação de vários órgãos de saúde como prevenção à Covid-19. VÍDEOS: Relembre a carreira do artista Confira fotos da carreira de Moraes Moreira Veja repercussão da morte do cantor As imagens mostram um músico vibrante, como Moraes Moreira se consagrou com os Novos Baianos e na carreira solo. “Ele me ligou e disse que ia fazer o show, e eu falei: 'eu vou lá', mas vou entrar em confinamento também'. E ele: 'É o último dia, vamos lá'”, contou Evandro, emocionado. Fotógrafo Evandro Teixeira registrou último show de Moraes Moreira, no Rio de Janeiro Evandro Teixeira/ Arquivo pessoal O fotógrafo conta que o show durou cerca de duas horas e terminou com o tradicional 'bis' pedido pela plateia. Evandro lembra que eles e outros amigos costumavam se encontrar era uma padaria na Gávea, bairro onde Moraes morava e era conhecido por todos. Aos sábados e domingos, era rotina tomarem café da manhã juntos. Das 9h às 13h, o grupo conversava, cantava, batucava e só era interrompido pela necessidade do estabelecimento servir o almoço. Morre, aos 72 anos, o cantor e compositor Moraes Moreira Placa Para celebrar a amizade, o grupo fez uma placa, que seria entregue a Moraes, mas que nunca chegou às mãos dele. As fotos que Evandro fez no último show só foram entregues virtualmente. “Eu mandei as imagens pela internet, ele olhou e disse que estava uma maravilha,” destacou Evandro. Imagem do último show de Moraes Moreira, em março, no Rio Evandro Teixeira/ Arquivo pessoal Fotojornalista com livros publicados e mais de 40 anos na imprensa, ele se surpreendeu com a morte do amigo. Depois que ambos entraram em quarentena, chegaram a conversar pelo menos duas vezes por telefone. “Agora eu recebi a notícia da Bahia e vários telefonemas”, ressaltou o fotógrafo. Baiano como Moraes, Evandro nasceu em Irajuba. Ele tem fotos em acervos de museus do Brasil e do exterior. Vizinhos prestam homenagem Vizinhos tocam música de Moraes Moreira e batem palmas em homenagem ao músico Na manhã desta segunda, moradores de prédios vizinhos de Moraes na Rua das Acácias, ao saberem da morte do músico, começaram a gritar nas janelas: “Viva, Moraes” e a bater palmas em homenagem ao músico. Um deles colocou para tocar “Preta Pretinha”, do álbum “Acabou Chorare”, de 1972, dos Novos Baianos — uma das músicas mais conhecidas da carreira de Moraes Moreira (veja o vídeo abaixo). Trajetória Antonio Carlos Moreira Pires nasceu em Ituaçu, no interior da Bahia, em 8 de julho de 1947. Moraes Moreira começou tocando sanfona de doze baixos em festas de São João e outros eventos na cidade. Na adolescência aprendeu a tocar violão, enquanto fazia curso de ciências em Caculé, na região sudoeste da Bahia, em 1967. Aos 19, ele foi para Salvador, onde começou a estudar no Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia. Lá, ele conheceu seus futuros companheiros dos Novos Baianos, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor, além de Tom Zé. Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal. O grupo já tinha também a participação de Baby do Brasil (Baby Consuelo, na época) na voz e o guitarrista Pepeu Gomes quando foi participar do popular Festival da Música Popular Brasileira na TV em 1969, com a música “De Vera”, de Moreira e Galvão. No ano seguinte, o grupo lançou seu disco de estreia, “Ferro na boneca”. Mas a grande obra deles viria após uma visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, já no Rio de Janeiro. Em 1972, eles lançaram o álbum “Acabou chorare”, que consagrou os Novos Baianos. O trabalho juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião. Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira, o álbum de 1972 é reconhecido como um dos melhores – senão o melhor – trabalho do pop brasileiro. Foi um passo adiante do tropicalismo de Caetano, Gil e Tom Zé – no abraço ao rock e à psicodelia hippie, na fusão de ritmos brasileiros, na recusa a seguir padrões no período mais duro da ditadura militar. O grupo foi morar em um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira. Lançaram ainda três discos, cujo sucesso não tão grande começou a gerar desentendimentos. Ele ficou no grupo de 1969 até 1975, quando saiu em carreira solo. Fotógrafo e amigo de Moraes Moreira, Evandro Teixeira registrou última apresentação do músico Evandro Teixeira/ Arquivo pessoal Carreira Solo Em 1976, já em carreira solo, ele se tornou o primeiro cantor de trio elétrico, ao subir no trio de Dodô e Osmar, e cantou a música “Pombo correio”, sucesso na época. Já em 1997, ele reuniu o grupo Novos Baianos para lançar o disco ao vivo Infinito Circular, com canções dos discos anteriores e algumas inéditas. Em 2007, Moraes Moreira publicou o livro A História dos Novos Baianos e Outros Versos, escrito em linguagem de cordel, que conta a história dos Novos Baianos. Em 2017, ele lançou outro livro, o "Poeta Não Tem Idade", com cerca de 60 textos sobre homenagens a Luiz Gonzaga, Machado de Assis, Gilberto Gil e muitos outros. Nos últimos anos, Moraes Moreira se envolveu em shows de reunião dos Novos Baianos e também de trabalhos solo. O artista também se dedicou a trabalhos com o filho. No total, ele lançou mais de 60 discos entre a carreira solo, Novos Baianos, Trio Elétrico Dodô e Osmar, além da parceria com o guitarrista Pepeu Gomes. Em março deste ano ele fez a última postagem no Instagram falando sobre a quarentena que o mundo vive por causa da Covid-19. Moraes Moreira se apresentou pela última vez em março. Imagem foi registrada pelo fotógrafo e amigo Evandro Teixeira Evandro Teixeira/ Arquivo pessoal Imagem de Moraes Moreira em show em março, feita pelo fotógrafo Evandro Teixeira, amigo do músico Evandro Teixeira/ Arquivo pessoal