Capa do álbum 'Sambossa', de Elza Soares Reprodução ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Sambossa, Elza Soares, 1963 ♪ Renascida artisticamente ao longo dos últimos cinco anos, em mais um movimento de fênix iniciado com a edição do impactante álbum A mulher do fim do mundo (2015), Elza Soares tem passado musical desconhecido por grande parte do público que a segue somente em discos e shows recentes. Projetada em dezembro de 1959 com retumbante gravação do samba Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938), a cantora carioca viveu proveitosa fase na carreira fonográfica nesse início de trajetória. De 1959 a 1973, Elza lançou pela gravadora Odeon série de singles e álbuns que evidenciaram a bossa negra da voz rouca, esperta nas divisões, cheia de manemolência. Em essência, Elza Soares atravessou os anos 1960 como hábil cantora de sambalanço. Quarto álbum da discografia da artista, Sambossa se inseriu nesse sincopado universo musical, como já sugeriu o título. O álbum Sambossa foi lançado em março de 1963, precedido por disco de 78 rotações por minuto editado em janeiro daquele ano de 1963 com as gravações de Só danço samba (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) – em interpretação apimentada – e Sim e não (Venâncio, Carlos Magno e Edilton Lopes, 1963), fonogramas registrados anteriormente, em dezembro de 1962, e reaproveitados para o álbum. Gravado de 8 a 22 de janeiro no estúdio da sede carioca da gravadora Odeon, sob a direção artística do pianista José Ribamar (1919 – 1982), o álbum Sambossa fez jus ao título. Resultou em disco de sambas amplificados com a bossa negra da voz de Elza, então com 33 anos. Como já mostrava a gravação do samba Rosa morena (Dorival Caymmi, 1942) alocada na abertura do disco com arranjo orquestral, a cantora recorreu aos scats para cair em suingue singular. Evocando com personalidade o canto jazzístico de Louis Armstrong (1901 – 1971), astro norte-americano que Elza conhecera em 1962, a cantora envenenou Gamação (José Roberto Kelly, 1962) e elevou A banca do distinto (1959), sucesso do cancioneiro de Billy Blanco (1924 – 2011), compositor paraense que vivia bom momento na carreira projetada nos anos 1950 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). As duas faixas sobressaíram no álbum. Nome dominante nos créditos do repertório de Sambossa, Blanco assinou quatro das 12 músicas do disco. Além de A banca do distinto, Elza incluiu no álbum os já esquecidos sambas Primeira comunhão (Billy Blanco e Miguel Xavier, 1963), Vaca de presépio (1958) e Maria, Mária, Mariá (1962), composição lançada na voz da própria Elza no ano anterior. O toque do piano de Primeira comunhão deu molho jazzy à faixa. Com tom sentimental, quase dramático, Leilão (Nazareno de Brito e Armando Nunes, 1962) evidenciou a eventual falta de sintonia entre o repertório e o balanço de Elza. Quando Elza deu voz a um repertório à altura do canto da intérprete, o resultado quase sempre foi empolgante. A reluzente gravação de A corda e a caçamba (Antônio Almeida, 1962) exemplificou que Elza Soares era a tal na década de 1960 quando combinava samba e bossa negra. Com balanço aliciante, o samba Mulata de verdade (Sérgio Malta, 1963) – ambientado em clima de gafieira – corroborou essa sensação e completou com Quando o amor não é mais amor (Cirene Mendonça e Ricardo Galeno, 1963) o repertório de Sambossa, disco que retratou bem Elza Soares na fase inicial da carreira da cantora.