Começo do ano registrou maior saída de dólares do país desde 1999. Swaps cambiais geraram perda de outros R$ 50 bilhões; venda pode ser ampliada, diz presidente do banco. O Banco Central vendeu US$ 25,399 bilhões em recursos das reservas internacionais brasileiras neste ano, aponta balanço divulgado nesta quarta-feira (8). O mecanismo é uma forma de tentar conter a disparada do dólar, que tem sido maior do que em outros países emergentes.
O valor inclui operações liquidadas até a última sexta-feira (3) e já se aproxima dos US$ 36,88 bilhões vendidos em todo o ano de 2019, quando o BC voltou a operar com venda direta das reservas.
Além disso, a instituição também efetuou os chamados "leilões de linha", nos quais o BC vende recursos das reservas internacionais com compromisso de recompra. O acumulado até 3 de abril chegou a US$ 15,7 bilhões.
Nos leilões de linha não há impacto de redução das reservas internacionais, pois os recursos retornam posteriormente para as mãos do Banco Central. Mesmo que temporariamente, entretanto, há um efeito de aumento de dólares no mercado, contribuindo para diminuir as pressões de alta da moeda.
Maior saída de dólares
Também nesta quarta, o Banco Central divulgou que a saída de dólares da economia brasileira superou a entrada da moeda em US$ 11,35 bilhões de janeiro a março.
A saída de recursos do país também gera pressão de alta sobre a taxa de câmbio. O acumulado parece pequeno frente aos US$ 44,76 bilhões que deixaram o Brasil em 2019 mas, segundo o BC, é a maior cifra para o período desde 1999 – ano em que o governo abandonou o teto fixo para o dólar.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, observou nesta quarta-feira que os investidores estão retirando recursos de países emergentes por conta das incertezas causadas pela pandemia do novo coronavírus.
Neste ano, disse ele, a saída de dólares dos países emergentes beira a marca dos US$ 100 bilhões.
"No bloco da América Latina, caso típico, a gente uma saída dez vezes maior do que tivemos em 2008. É rápido, um 'flight to quality' [fuga para países com economias mais sólidas, como os Estados Unidos], de ativos de maior risco para menor risco", afirmou ele.
Pela primeira vez, presidente do Banco Central admitiu que o PIB de 2020 pode ser negativo
Mais venda, se necessário
Em videoconferência nesta quarta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, explicou que o câmbio no Brasil é flutuante, de modo que a instituição não tem uma meta para o dólar.
Ao mesmo tempo, Campos Neto acrescentou que presta atenção à variação do real frente a outras moedas e se mostrou aberto a intensificar o ritmo de vendas da moeda norte-americana – se julgar necessário.
"Há uma parte do mercado que advogava programas mais agressivos, com vendas [de dólares], no câmbio. Sempre entendemos que era importante dar liquidez, não influenciar na trajetória de preço, mas sempre olhando o real em relação o outras moedas", disse.
"Temos um arsenal grande. Entendemos que o real se desvalorizou muito, e pouco mais em relação a outras moedas, e estamos preparados, a qualquer momento, para fazer uma coisa maior, se for necessário, no câmbio."
Campos Neto disse que todos os mercados emergentes registraram saída de recursos e subsequente desvalorização de suas moedas (com alta do dólar). A avaliação é de que, no caso do Brasil, houve uma "depreciação um pouco maior".
"Estamos preparados, as reservas são grandes, temos um 'swap' que foi feito [de US$ 60 bilhões com o Federal Reserve BC dos EUA]. Entendemos que as intervenções tem sido feitas de forma apropriada. Podemos, a qualquer momento, atuar de forma mais forte do que temos atuado até então", concliui o presidente do Banco Central.
Intervenções no mercado futuro
Além das vendas de dólares no mercado a vista, o BC também intensificou a emissão de contratos de swaps cambiais – instrumentos que equivalem a venda de moeda estrangeira no mercado futuro –, o que gerou uma perda de R$ 50,932 bilhões até 3 de abril.
Se não houver reversão desse resultado, será a maior perda de recursos desde 2015 (prejuízo de R$ 89,657 bilhões). A venda de contratos de swaps cambiais, no mercado futuro, serve para atenuar as pressões sobre o dólar no mercado à vista.
Em janeiro deste ano, o BC tinha R$ 140,75 bilhões em contratos de swaps cambiais no mercado. Na última sexta (3), por conta da emissão de novos contratos nos últimos meses, esse montante já tinha subido para R$ 244,597 bilhões.
De forma geral, o BC registra lucro com esses contratos quando o dólar cai e perde quando a cotação da moeda norte-americana sobe. De janeiro até o fim de março, a alta do dólar foi de quase 30%.
Os prejuízos do Banco Central com os contratos de swaps cambiais são incorporados às despesas com juros da dívida pública e ajudam a impulsionar o déficit nominal – que somou R$ 440,419 bilhões em doze meses até fevereiro, o equivalente a 6% do PIB. Esse conceito é acompanhado pelas agências de classificação de risco.
Embora a alta do dólar resulte em perdas com os contratos de "swaps cambiais", o BC argumenta que esse fatore também gera líquido o ganho líquido com a valorização das reservas internacionais brasileiras, que é calculado pela sua rentabilidade (com a alta do dólar, as reservas em reais também ficam maiores) menos o custo de captação. De janeiro a 3 de abril, esse ganho foi de R$ 465,773 bilhões.
Ainda de acordo com o BC, a valorização das reservas, entretanto, não tem impacto nas contas públicas, mas incorporam o balanço do Banco Central. Os valores são exclusivamente utilizados, posteriormente, para abater a dívida pública.