Nas redes sociais, espectadores repararam nos livros atrás dos jornalistas. Eles passaram a trabalhar em casa durante a pandemia da Covid-19 e contam ao G1 sobre seus autores favoritos. Parte dos jornalistas da emissora de notícias passou a trabalhar em casa durante a pandemia do novo coronavírus Reprodução/GloboNews O ambiente de trabalho dos jornalistas mudou, assim como o de muito brasileiro, durante o isolamento social para evitar a disseminação da Covid-19. Em vez de irem aos estúdios da GloboNews ou de saírem de casa, os jornalistas da foto acima (e outros) passaram falar ao vivo de casa. E as estantes cheias de livros, atrás deles, viraram assunto nas redes sociais. O G1 também reparou nas estantes e pediu dicas de leitura para Andréia Sadi, Ariel Palacios, Cristiana Lôbo, Eliane Cantanhêde, Jorge Pontual e Mônica Waldvogel. “Como as democracias morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, foi o único livro citado por mais de um jornalista (Andréia Sadi e Cristiana Lôbo); Já o escritor e jornalista Ruy Castro teve dois livros recomendados: “O anjo pornográfico” e “Carmen: uma biografia”; O escritor argentino Jorge Luis Borges também foi mencionado duas vezes, por Ariel Palacios e Cristiana Lôbo. Veja abaixo, em ordem alfabética, as recomendações desses jornalistas, com um breve resumo sobre o livro, feito por eles. ANDRÉIA SADI A jornalista Andréia Sadi recomendou os livros “She Said”, “A história de Mora”, “I am Malala”, “O livro de Jô” e “O anjo pornográfico” Reprodução/GloboNews “She Said”, de Jodi Kantor e Megan Twohey "As histórias de assédio contra Harvey Weinstein, o começo do movimento Me Too, os anos de silêncio na indústria de cinema para proteger o diretor que hoje está preso – só preso pela coragem que algumas mulheres tiveram de denunciá-lo. O livro é obrigatório em tempos em que discutimos a cultura do assédio, machismo, sexismo. As jornalistas do 'New York Times' que publicaram a primeira investigação sobre as denúncias de abusos contra o ex-produtor trazem detalhes sobre caso. Imperdível." “A história de Mora: a saga de Ulysses Guimarães”, de Jorge Bastos Moreno "Fiz a pesquisa do livro do Jorge Bastos Moreno, a convite dele, quando eu tinha acabado de mudar de São Paulo para Brasília. O livro, então, é especial para mim, porque é um projeto de um amigo que nos deixou e meu principal mestre no jornalismo. Especial para mim por isso – e imperdível para todos porque é um retrato da história recente do país por um jornalista que respirava bastidor político noite e dia. O livro conta a saga do doutor diretas na visão de sua mulher. Moreno misturou realidade e ficção para contar a história recente do país. Tenho relido em tempos de quarentena, porque apertou a saudade do amigo que nos deixou em 2017, meu maior mestre no jornalismo político e um dos melhores amigos de vida." “I am Malala”, de Malala Yousafzai e Christina Lamb "A autobiografia incrível e impressionante de Malala, que levou um tiro de um talibã na cabeça por defender a educação de meninas. A força e coragem dela são inspiradoras, uma lição de vida." “O livro de Jô”, de Jô Soares e Matinas Suzuki Jr. "Jô Soares é um ídolo nacional, patrimônio do país – e, para mim, uma das pessoas mais importantes da minha vida e generosas que eu já conheci. Após me entrevistar no programa, Jô me convidou para compor o quadro 'Meninas do Jô' quando eu ainda era, de fato, uma foca no jornalismo de TV, recém-chegada à TV Globo e o 'Meninas' tinha um significado para mim desde pequena, porque assistia com minha mãe. Depois disso, ficamos amigos. Contei essa passagem da minha vida porque acho que todo mundo tem uma memória relacionada ao trabalho e à figura do Jô, onipresente na TV em diferentes gerações. Sempre fui fascinada pelo jeito do Jô de extrair tudo dos entrevistados. O quadro 'Meninas', claro, é só uma das passagens do livro sobre a vida do Jô, que é leitura obrigatória para quem gosta de gigantes, mestres e histórias de A a Z." “O anjo pornográfico”, de Ruy Castro "A biografia de Nelson Rodrigues por Ruy Castro. Um dos meus personagens favoritos de vida, autor de clássicos e obras primas que me fascinaram por suas histórias durante toda a vida. Mas, como dizem, a história de vida de Nelson Rodrigues foi mais espantosa do que qualquer uma de suas histórias. Clássico, leitura obrigatória." ARIEL PALACIOS O jornalista Ariel Palacios recomendou os livros “Um espelho distante", “Outras inquisições”, “A queda de Berlim 1945”, “Guerra e paz”, “Os canhões de agosto” e a série “Fundação” Reprodução/GloboNews “Um espelho distante”, de Barbara Tuchman "É uma escritora que tem um estilo fantástico para escrever. Você mergulha na história porque ela explica de forma fascinante. O livro se passa no século 14 marcado pela peste negra e por guerras. Depois disso, o mundo acabou chegando ao renascimento. É um relato do século 14, é um livro de história." “Outras inquisições”, de Jorge Luis Borges "O Borges é famoso por três coisas: escreveu poesia, escreveu contos e escreveu ensaios. Esse é um livro de ensaios em que ele fala um pouco de tudo, desde Kafka, Oscar Wilde, desde a cultura chinesa. Ele fala sobre a inquisição, fala sobre a filosofia, faz um apanhado de um monte de coisas. São todos ensaios que ele escreveu." A série “Fundação”, de Isaac Asimov "É uma sequência de livros que ele começou a escrever quando tinha menos de 30 anos e terminou quando ele tinha uns quase 80 anos, pouco antes de falecer. São poucos livros. São um dos divisores d'água da ficção científica. É a história da humanidade. Tem muita ironia política, frases fantásticas e ele é muito sarcástico, irônico. Na construção dos personagens você cria carinho, desde o nerd, baixinho e fraquinho que enfrenta o vilão marombado até a menina que dá um jeito de dar a perna no vilão marombado. É um clássico e permanece ao longo de gerações." “A queda de Berlim 1945”, de Antony Beevor "Boa parte do filme 'A queda' se baseia nesse livro. É um livraço que conta as tropas indo e vindo, os tramas dos berlinenses, o desespero geral. É daqueles livros que você pega e não larga até que termine. E é um calhamaço." “Guerra e paz”, de Tolstói "É fenomenal. Tolstói é um dos grandes escritores da literatura mundial e da literatura russa. Ele consegue descrever desde os campos de batalha, com canhões disparando, até uma coisa totalmente diferente, como a aristocracia russa num salão de festas em Moscou, dançando valsa. E os personagens, que são muitos – até uma recomendação é pegar um papel e anotar o nome dos personagens. Você começa a ler o livro e vem uma quantidade enorme de personagens. São todos muito bem costurados, muito bem bolados e mostra como a guerra é algo absurdo e aquelas preocupações pelo status social – no caso da nobreza russa – eram coisas sempre banais. Tolstói é fascinante, escreve como se ele tivesse pintando um imenso quadro. Tolstói pinta aquela paisagem e você consegue ver os personagens e até como eles pensam." “Os canhões de agosto”, de Barbara Tuchman "É a história do primeiro mês da Primeira Guerra Mundial. O livro conta como foi uma guerra que poderia ter sido impedida, mas as diplomacias e os exércitos dos países envolvidos começaram a mobilizar tudo para que a guerra começasse. E depois já era tarde demais para parar tudo. Isso é interessante porque você vê que algumas decisões políticas fogem das mãos das pessoas, que não têm como deter mais aquilo que vai explodir. É uma obra magistral." CRISTIANA LÔBO A jornalista Cristiana Lôbo recomendou as leituras de "As fábulas de la Fontaine”, "As fábulas de Esopo”, “Como as democracias morrem”, "Carmen: uma biografia”, “Jacaré, não” e das obras completas de Jorge Luis Borges Reprodução/GloboNews “As fábulas de la Fontaine”, de Jean de La Fontaine “As fábulas de Esopo”, de Esopo "São dois livros que talvez nem entrassem na categoria de livros, mas de coletâneas, que têm muito significado em minha família. Eu fazia leitura para meus filhos e faço agora para meus netos." “Como as democracias morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt "Para os momentos atuais, esse livro é recomendável. Foi escrito por dois professores de Harvard que explicam muito do que estamos vivendo hoje em várias partes do mundo." “Carmen: uma biografia”, de Ruy Castro "Vale a pena também ler. A importância que teve a pequena notável, a riqueza de detalhes e a maravilha da pena de Ruy Castro." Cristiana Lôbo recomenda ainda as obras completas de Jorge Luis Borges e o livro “Jacaré, não”, de Antônio Prata. ELIANE CANTANHÊDE A jornalista Eliane Cantanhêde recomendou os livros “Fogo e Fúria”, “Tormenta”, “O homem que amava os cachorros”, “Como as democracias morrem”, a trilogia “Getúlio” e a Coleção Ditadura, de Elio Gaspari. Reprodução/GloboNews “Fogo e Fúria”, de Michael Wolff "O jornalista Wolff cobriu de dentro a campanha presidencial de Donald Trump e não apenas relata fatos como também desvenda com clareza e perspicácia a psicologia do homem mais poderoso do mundo, do seu governo e do seu entorno." “Tormenta”, de Thaís Oyama "Como Wolff fez com Trump e a Casa Branca, a também jornalista Thaís Oyama mostra com elegância e precisão a personalidade do presidente Jair Bolsonaro e do seu Palácio do Planalto. Sem grandes revelações, mas com ótimos momentos e diálogos, o livro explica muita coisa do que estamos vivendo no Brasil." “O homem que amava os cachorros”, de Leonardo Padura "Num livro contundente, dramático e real, o cubano Padura entrelaça as atrocidades stalinistas com a longa e complexa história do assassinato de Leon Trótsky no México. Leitura eletrizante." “Como as democracias morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt "Claro, didático, imperdível, esse livro mostra como os golpes toscos e as revoluções sangrentas evoluíram para formas bem mais sofisticadas – e disseminadas – de ataques à democracia. Uma verdadeira aula." A trilogia “Getúlio”, de Lira Neto "A monumental biografia de Getúlio Vargas, em três volumes, não descreve apenas a trajetória de um dos líderes mais complexos do Brasil, mas mostra também como foram construídas a engrenagem e a cultura políticas no país. Conteúdo denso em forma escorreita e agradável." A Coleção Ditadura, de Elio Gaspari "Mais tempo, mais sossego? É hora de ler a obra de um dos maiores jornalistas e especialistas em regime militar do Brasil. São cinco volumes imperdíveis, com destaque para os três primeiros: 'Ditadura Envergonhada', 'Ditadura Escancarada' e 'Ditadura Derrotada'. Vivência, pesquisa primorosa e texto impecável numa obra de imensa atualidade." JORGE PONTUAL O jornalista Jorge Pontual recomendou os livros “The Mirror and the Light”, “A Peste”, “The Coming Plague”, a trilogia “The Three Body Problem, Remembrance of Earth’s Past” e os sete volumes do romance “À la Recherche du Temps Perdu”. Reprodução/GloboNews “The Mirror and the Light”, de Hilary Mantel "Estou lendo no momento o genial último volume da trilogia que começou com Wolf Hall. Thomas Cromwell, o conselheiro de Henrique XVIII, é um protagonista fascinante." “A Peste”, de Albert Camus "Estou relendo. É um clássico. Uma cidade fechada, isolada, vítima de uma praga terrível. É outro romance para refletir sobre nossa situação." “The Coming Plague”, de Laurie Garrett "Em 1995, ela alertou para a pandemia que viria inevitavelmente. Não foi só ela, tem muitos livros sobre isso. Saiu nova edição atualizada. Os governos ignoraram." A trilogia “The Three Body Problem, Remembrance of Earth’s Past”, de Liu Cixin "Para quem gosta de ficção científica e até para quem não gosta. A mais genial obra no meu gênero favorito." Os sete volumes do romance “À la Recherche du Temps Perdu”, de Marcel Proust "Eu sempre disse que iria reler Proust quando tivesse tempo e nunca tive. Agora não tem desculpa. Um universo de emoção e inteligência." MÔNICA WALDVOGEL A jornalista Mônica Waldvogel recomendou os romances de Andrea Camilleri e os livros “Corpo”, “Breve história de quase tudo”, “Falando de música”, “O som e o sentido”, “Dom Casmurro” e “A educação pela pedra”. Reprodução/GloboNews Os romances de Andrea Camilleri "A literatura policial tem o condão de nos entreter para no final, ao resolver o mistério, produzir a sensação de ordem restabelecida. Talvez sejam recomendáveis neste tempo de incertezas. As histórias do Comissário Montalbano se passam na Sicília, as personagens são impagáveis, têm humor e têm enigma, a narrativa é deliciosa. Para quem quiser se iniciar nas aventuras de Montalbano, sugiro seguir a ordem cronológica dos lançamentos porque a vida pessoal dos heróis, como nas séries de TV, vai evoluindo. O primeiro romance é 'O cão de Terracota'." “Corpo” e “Breve história de quase tudo”, de Bill Bryson "Os livros de Bill Bryson são empolgantes. Em breve história de quase tudo o autor nos pega pela mão para nos conduzir pela formidável aventura do conhecimento científico que a humanidade acumulou. É uma reportagem jornalística através do tempo, e que desvenda as magníficas grandezas do universo e a imensidão das menores coisas. Um livro que nos enche de alegria pela curiosidade que moveu o desejo de compreender a natureza e seus fenômenos. O autor se faz o mesmo desafio no recém-lançado 'Corpo' – livro que acabo de começar a ler." “Falando de música”, de Leandro Oliveira "O músico e maestro Leandro Oliveira nos delicia neste livro com ensaios sobre o mundo infinito da música. Da mesma forma que a ciência, é maravilhoso ver como a arte musical produziu tanto com apenas doze notas." “O som e o sentido”, de José Miguel Wisnik "Outro livro bom de ler nesses dias acinzentados sobre a profunda marca que a música produz em nosso espírito e cultura." “Dom Casmurro”, de Machado de Assis "Para quem leu durante o período escolar e para quem se afasta por causa do título, essa é a hora de pegar 'Dom Casmurro' na estante e mergulhar naquele que é o melhor romance da literatura brasileira. Releio esse livro quase todo ano e sempre descubro algo que não tinha reparado em leituras anteriores. A ironia e o humor, o estilo da escrita, as personagens laterais, a misteriosa Capitu e o cínico narrador Bentinho valem cada investida neste livro inesgotável." “A educação pela pedra”, de João Cabral de Melo Neto "Para não fechar esta listinha sem poesia, escolho o grande João Cabral de Melo Neto. Dois ou três poemas para cada dia de quarentena e com eles aprender 'a carnadura concreta' da pedra e do verso enquanto 'o tempo que de nós se perde/ sem que lhe armemos alçapão, / nem mesmo agora que parece/passar ao alcance da mão'."