Capa do álbum 'Roberto Carlos', de 1972 Carlos E. Lacerda ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Roberto Carlos, Roberto Carlos, 1972 ♪ A partir de 1968, com o fim da Jovem Guarda, Roberto Carlos iniciou cuidadosamente a transição de rei da juventude para ídolo romântico do Brasil adulto e conformista da década de 1970. Destaque da discografia amadurecida do artista, o álbum de 1971 consolidou o rito de passagem do cantor no embalo de canções como Detalhes e Amada amante, duas das muitas obras-primas da parceria de Roberto com Erasmo Carlos. Na sequência da repercussão fenomenal do LP de 1971, determinante para a conquista da realeza, o cantor lançou em dezembro de 1972 o álbum Roberto Carlos, gravado entre setembro daquele ano no estúdio da gravadora CBS em Nova York (1972). Roberto Carlos foi álbum pautado pelos arranjos de cordas orquestradas sob a regência do maestro norte-americano Jimmy Wisner (1931 – 2018). No todo, o repertório resultou menos impactante (para os padrões comportados de Roberto…) e menos coeso do que o álbum anterior de 1971. Ainda assim, o disco de 1972 legou para a posteridade joias como a a tristonha balada À distância… (Roberto Carlos e Erasmo Carlos) e a confessional canção O divã (Roberto Carlos e Erasmo Carlos). Na letra de O divã, música revivida com a devida melancolia por Nara Leão (1942 – 1989) seis anos mais tarde, em disco de 1978 dedicado ao cancioneiro de Roberto e Erasmo, o cantor expôs recordações da infância e do acidente de trem que levou Roberto, então criança, a amputar parte da perna direita, assunto que já abordara de forma cifrada em Traumas (1971), música do disco anterior . Das tristes canções românticas incluídas no disco, Por amor (Roberto Carlos e Erasmo Carlos) ficou esquecida, embora tenha merecido registro de Paulo Ricardo em 1999 em disco de fase em que o vocalista do RPM ambicionou o trono do Rei no universo pop roqueiro. Por amor – cabe ressaltar – foi gravada em junho de 1972 e lançada antes do álbum no 26º volume da série As 14 mais, disco no qual Roberto também apresentou Agora eu sei (Edson Ribeiro e Helena dos Santos), música alocada no fecho do álbum de 1972. Na área da sofrência, somente a canção Como vai você (Antonio Marcos e Mario Marcos) – veículo para a exposição da perfeita emissão vocal do cantor – rivalizou em beleza com a já mencionada À distância…, balada que permaneceu entre as mais bonitas de Roberto e Erasmo. Contudo, Você já me esqueceu (Fred Jorge) – balada de fato esquecida (exceto por Fernanda Takai, que a regravou em disco ao vivo de 2009) – também teria algum potencial comercial se fosse lembrada por algum cantor da atualidade. A partir de Jesus Cristo, obra-prima black do repertório do álbum de 1970, Roberto Carlos começou a professar a fé católica em músicas de temática religiosa compostas com o irmão camarada Erasmo Carlos. A do álbum de 1972 foi A montanha, canção levada com leveza que contrabalançou o tom épico do tema. A dupla também se mostrou inspirada ao retratar com embevecimento a gravidez de mulher desconhecida em Você é linda e ao abordar a cotidiana atribulação de casal com filhos na biográfica canção Quando as crianças saírem de férias. Em tom ainda mais confessional, À janela flagrou Roberto Carlos imerso em questões existenciais. Canção composta na linha black is beautiful, mas sem a alma do soul, Negra (Maurício Duboc e Carlos Colla) também integrou este disco em que Roberto Carlos se confirmou ótimo intérprete ao dar voz e lúdico ar celestial a Acalanto (Dorival Caymmi, 1957). Por ter atravessado a década de 1970 com inspirada produção autoral, Roberto Carlos lançou discos melhores do que este álbum de 1972. Mas também fez discos piores, sobretudo a partir dos anos 1980, década em que o artista diluiu e engessou progressivamente a monumental obra autoral construída com Erasmo Carlos. Ficaram no universo pop álbuns nem sempre devidamente lembrados como o Roberto Carlos de 1972.