Analistas do setor apostam em uma nova onda de consumo para a reposição de estoques. As vendas em supermercados paulistas começam a desacelerar nesta semana, com queda em relação ao início do mês passado. Os dados indicam que houve uma forte antecipação de compras nas lojas, e o consumidor, estocado com receio do coronavírus, reduziu a ida aos pontos de venda. A dúvida dos executivos do setor é se essa curva voltará a subir e se estabilizar – com os clientes retornando às lojas para a reposição dos estoques – ou se a antecipação foi tão forte que o ritmo de desaceleração se intensificará. Especialistas ouvidos pelo Valor acreditam mais na primeira opção. Supermercados tiveram alta procura e falta de alguns itens durante quarentena pelo coronavírus Camila Lima Os dados da Apas, a associação paulista de supermercados, mostram que, na segunda-feira, 30 de março, houve queda de 2,9% nas vendas em relação a 2 de março, outra segunda-feira. Foi o segundo período consecutivo com retração. No relatório da Apas relativo aos dias 27 a 29 de março, versus 28 de fevereiro a 31 de fevereiro, o recuo foi mais intenso, de 7,7%. O movimento de desaceleração e até retração na demanda já era esperado pelo mercado. “Agora, as vendas estão relativamente em ritmo normal e abaixo do movimento do começo do mês de março”, resume comunicado da Apas. Esse dado de comportamento do consumidor é importante dentro da discussão de como os supermercados podem ser impactados negativamente pela crise, apesar do crescimento das vendas em primeiro momento, dada a necessidade de estoque da população. “A expectativa é que depois dessa queda, volte a subir um pouco, numa nova onda de consumo, menor que a do pico verificado dez dias atrás”, disse sócio diretor da consultoria Martinez de Araújo, Manoel de Araújo, ex-diretor do Carrefour. “Depois dessa alta, o provável é que volte a cair na segunda semana do mês”, afirma. “Quem vai sofrer mais é quem depende de Páscoa, que será muito ruim neste ano.” “Viemos de uma curva com alta forte, meio em ‘V’, e agora devem vir novas ondas com altas mais suaves. Isso se, obviamente, a situação da quarentena não piorar e formos para alguma normalidade”, diz Antonio Coriolano, analista a RetailConsulting. As vendas do setor supermercadista em São Paulo chegaram a superar taxas de crescimento diárias de 40%, com alguns produtos triplicando de venda em março. No último dia 19, na semana em que se decretou quarentena no Estado, as vendas subiram 48,5% em relação a 20 de fevereiro. De sexta a domingo, a alta foi de 45,6%. A partir de 23 de março, houve desaceleração contínua das vendas, até ter a queda no índice no fim de semana.