
Rapper preserva a contundência do discurso em nove músicas inéditas que abordam racismo, sexo e Jair Bolsonaro sob o impacto da pandemia do coronavírus. Capa do álbum 'Não tem bacanal na quarentena', de Baco Exu do Blues Guil Resenha de álbum Título: Não tem bacanal na quarentena Artista: Baco Exu do Blues Gravadora: 999 / Altafonte Cotação: * * * * ♪ Preso em casa cheio de tesão. O título da quarta das nove músicas de Não tem bacanal na quarentena – álbum lançado por Baco Exu do Blues sem aviso prévio e disponível nos aplicativos de música a partir desta terça-feira, 31 de março – exemplifica a ansiedade que pauta o disco improvisado pelo rapper baiano neste período de isolamento social. O rapper convocou o engenheiro de som Dactes, montou estúdio em casa e, em três dias, deu forma a um disco que, por força das circunstâncias, passa a ser o terceiro álbum da discografia do artista projetado há três anos com a edição do álbum Esú (2017). Baco prefere caracterizar o disco como EP, mas a quantidade de músicas do disco – nove, todas inéditas e autorais – configura Não tem bacanal na quarentena inapelavelmente como álbum, apresentado primeiramente no canal de vídeo do artista na segunda-feira, 30 de março. Com capa criada por Guil com alusão explícita à capa de Ready to die (1994), primeiro álbum de estúdio do rapper norte-americano The Notorious B.I.G. (1972 – 1997), Não tem bacanal na quarentena ocupa o lugar do álbum Bacanal, gravado por Baco em 2019, em estúdio da cidade do Rio de Janeiro (RJ), com participações de Ney Matogrosso, Duda Beat, Hamilton de Holanda, BK, Urias e Kiko Dinucci. O disco sairia neste primeiro semestre, mas teve o lançamento adiado por conta da pandemia do coronavírus. Embora não tão elaborado e original como o do álbum Bluesman (2018), o discurso de Baco neste álbum improvisado preserva a habitual contundência da linguagem do rapper, com o benefício da atualidade. “Coronavírus me lembra a escravidão / Brancos de fora vindo e fodendo com tudo”, dispara o artista em versos de O sol mais quente. Baco encadeia ansiedades, ódios, raivas e desejos no jorro angustiado de disco que transborda testosterona na batida sensual de Ela é gostosa pra c… (faixa gravada com Maya) e da já mencionada Preso em casa cheio de tesão, música em que o rapper faz dueto com Lellê. Faixa ambientada nesse clima sensual, Humanos não matam deuses é raro instante de calmaria em disco (in)tenso que junta os rappers Celo Dut, Vírus e Young Piva em Dedo no c… é gritaria, faixa assentada em beat hipnótico cuja suavidade contrasta com a virulência do discurso. Entre beats de DKVPZ, JLZ e Nansy Silvvz, Baco Exu do Blues volta a bater na tecla do racismo em Jovem preto rico – esfregando na cara da sociedade o preconceito dos racistas que identificam perigo na ascensão social de jovem negro – e Tropa do Babu, cujo título se refere ao ator Babu Santana, atualmente confinado na casa do programa BBB 20 (TV Globo). Outro alvo de Baco é o presidente Jair Bolsonaro. Sons de panelaço contra o presidente turbinam Tudo vai dar certo, faixa formatado com a adesão de 1LUM3, codinome artístico de Luiza Soares. No arremate do disco, Amo Cardi B e odeio Bozo corrobora o discurso corrosivo de Baco. “O Papa é pop / A quarentena é pop”, conclui Baco Exu do Blues no fluxo agoniado de álbum impregnado de ansiedade e impressionante atualidade.