Aumento da procura fez os preços no Brasil ficarem perto de níveis recordes. Café: compradores tentam manter estoques na crise do coronavírus Pixel2013/Pixabay/Creative Commons CC0 Importadores de café em alguns dos principais países consumidores estão acumulando estoques, ao antecipar pedidos em até um mês, para evitar escassez caso a cadeia de suprimento seja impactada por quarentenas adotadas contra o coronavírus. A pandemia global tem levado governos ao redor do mundo a impor severas restrições à movimentação de pessoas para conter a disseminação do vírus. Isso tem impactado a cadeia de fornecimento, ao tornar difícil para empresas encontrar motoristas de caminhão e tripulações para navios, além de reduzir fortemente a capacidade em fretes aéreos. Em contraste com a forte queda de preços em muitas commodities, as cotações do café estão mais elevadas devido à forte demanda e expectativas de que a oferta, que estava apertada mesmo antes do vírus, possa ficar ainda menor. Produtores nos maiores países exportadores como Brasil e Colômbia, entre outros, têm visto os preços crescerem. "Todo mundo está tentando acelerar as coisas", disse o diretor para a Colômbia da exportadora Caravela Coffee, Carlos de Valdenebro. Embora a Colômbia esteja em período entressafras, ele disse estar preocupado com pedidos para aceleração dos embarques, uma vez que a maior parte dos exportadores que ainda tem estoques no país reduziu temporariamente a capacidade operacional. Um grande importador de café dos EUA disse que torrefadores norte-americanos também estão tentando acelerar as entregas de suas origens, como a América Central. "Nós tivemos pedidos de compradores em todos principais países, Estados Unidos, Japão, Alemanha", disse o chefe de um dos maiores exportadores de café do Brasil, sob a condição de anonimato. "Basicamente de todos grandes torrefadores do mundo. Eles querem ter os grãos lá mais rápido, por precaução." Os futuros do café arábica na ICE estão no território positivo até o momento em março. Os futuros do petróleo, por outro lado, já caíram 50%, enquanto o índice de ações dos EUA Dow Jones tem queda de 15%. A Europa e os Estados Unidos estão com dezenas de milhares de contêineres a menos disponíveis, uma vez que receberam apenas um pequeno volume de China durante meses de isolamento no país devido ao coronavírus, enquanto outros remetentes também lidam com quarentenas que impactam portos e geram escassez de tripulantes. "Os torrefadores e traders estão estocando porque antecipam interrupções no fornecimento", disse um operador do mercado de café em Londres, que disse que grandes torrefadores estão comprando cargas à vista (spot). "Existem alguns pedidos que não consigo atender inteiramente." Demanda por café Os preços no Brasil também estão perto de níveis recordes em termos locais, chegando a R$ 550 por saca de 60 kg. Os agricultores no país tendem a vender quando os preços ultrapassam os R$ 500 por saca. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) disse que os embarques estão normais por enquanto, mas operadores de navios alertaram que pode haver falta de contêineres nos próximos meses, quando o Brasil pode colher uma safra recorde, de cerca de 70 milhões de sacas, segundo analistas independentes. Além das preocupações de torrefadores, há relatos de que o vírus pode causar escassez de mão-de-obra, o que prejudicaria a colheita de café em regiões-chave como a América Central e do Sul, onde muitas fazendas de café ainda não foram mecanizadas. "A colheita começará no final de abril, início de maio, e devemos nos preparar para uma alta probabilidade de que esse confinamento seja estendido além do dia 13", disse Roberto Velez, chefe da federação de produtores da Colômbia. O país andino iniciou uma quarentena nacional de 19 dias na semana passada. Embora agricultores e seus empregados estejam isentos de medidas de quarentena, será difícil transportar e abrigar cerca de 150.000 trabalhadores sob as condições sanitárias adequadas, disse ele. Com isso, também será difícil assegurar o processamento e envio dos grãos, acrescentou. "Temos talvez um dos melhores preços da história", afirmou Velez. "Mas, (mesmo) com esse preço, estamos enfrentando problemas logísticos, o coronavírus e medo".