'Não foi uma direção que veio da nossa cabeça. Como estratégia, não seria uma boa ideia', diz diretor ao G1. Podcast mostra como estilos mais conservadores buscam falar de temas LGBT. Cena do clipe 'Meu lugar é amor' do grupo gospel Preto no Branco Reprodução/YouTube do artista Alex Passos, do grupo gospel Preto no Branco, esperava uma reação mais exaltada do meio religioso quando lançou, na semana passada, o clipe de "Meu lugar é amor". "A gente achou que ia apanhar muito mais, mas até que não." O novo vídeo da banda, dirigido por ele, mostra depoimentos e cenas corriqueiras (passeios, conversas, abraços) com membros da comunidade LGBT. Também mostra uma drag queen se maquiando, enquanto lê a Bíblia. Assim como o Preto no Branco, outros artistas de gêneros considerados mais conservadores estão tentando levar mais diversidade para seus estilos. Ouça no podcast abaixo: Hoje, o Preto no Branco é formado pelo vocalista Clovis Pinho e o baterista Jean Michel. Alex, fundador e produtor do projeto, falou com o G1 sobre a ideia do vídeo e a reação de fãs. G1 – Como foi a ideia de fazer o clipe de 'Meu lugar é amor'? Alex Passos – Ia ser uma outra música. A gente tem uma música chamada 'Me deixa aqui' e nessa música a gente estava tendo uma direção de abordar esse assunto. Fizemos o clipe e depois de um tempo percebemos que merecia fazer uma música que falasse do clipe. 'Meu lugar é seu amor' nasceu pra casar com um clipe que já estava pronto. O clipe foi feito antes da música. G1 – Vocês receberam crítica de fãs mais religiosos, mais caretas? Alex Passos – É natural que em uma abordagem dessa em um contexto religioso, vão ter pessoas que não vão entender. E a crítica é muito normal. Eu não diria de mais caretas, porque tem gente que é careta no meio religioso, mas tem um entendimento. São pessoas que ou são preconceituosas ou são ignorantes no que diz respeito à própria Bíblia, né? Porque o que estamos dizendo é completamente bíblico, sobre o amor de Deus. A gente achou que ia apanhar muito mais, mas até que não. G1 – Qual a importância de gêneros musicais que podem ser considerados mais conservadores, como o gospel, abordarem temáticas da comunidade LGBT? Alex Passos – A gente entende que a arte tem grande poder de comunicação. A música toca a emoção, ela mexe na alma, traz raízes. Às vezes, você escuta uma música que ouvia na infância e viaja. A música é muito poderosa. Ela pode ser usada pro bem e pro mal. Como uma banda gospel, (gostamos mais do título de banda protestante do que gospel, mas somos uma banda gospel, sim), nosso papel também é protestar contra a falta de amor. Até hoje ninguém tinha feito isso no nosso meio. Acho que é o medo de ser incompreendido. Deus nos convidou a fazer isso, não foi uma direção que não veio da nossa cabeça. Como estratégia, não seria uma boa ideia. Cena do clipe da banda Preto no Branco Reprodução/Youtube do artista G1 – Fizemos recentemente um especial apresentando artistas do fado, rap e sertanejo que dizem ter essa missão (levar mais diversidade a gêneros considerados menos abertos). Qual sua opinião sobre esse tipo de iniciativa? Alex Passos – A temática do vídeo não é LGBT, a temática é amor. Existe uma guerra entre a igreja e o movimento LGBT? De certa forma, isso é real. Mas existem muitos trabalhos em igrejas de muito amor e acolhimento. É uma situação muito mal resolvida dentro das facções. Os ativistas dos dois lados não têm sido felizes na comunicação. Usamos um exemplo de LGBT pra falar de amor. Por que o tratamento é diferente no dia a dia? Por que alguns tratam diferente, se somos iguais no amor de Deus? G1 – Em uma das declarações sobre o clipe você disse que 'poderia escolher um viciado em drogas para falar sobre preconceito, violência, discriminação. Mas optamos por uma pessoa de orientação LGBT que passa pelos mesmos problemas'. Na sua opinião, dependentes químicos e a comunidade LGBT recebem um tratamento parecido? Por quê? Alex Passos – Quando falamos que o protagonista poderia não ser um LGBT ou um drag, poderia ser um viciado, por quê? O religioso quer ver que o 'cara virou homem', que o cara casou, teve filhos e tal. Ele não entende que a gente está falando de amor. Não estamos no mérito se é pecado ou não, não é essa a questão. A gente não está levantando nenhuma bandeira, só a bandeira do amor. Se eu coloco um camarada que se drogava e no final caiu de joelho e sentiu a presença de Deus, todo mundo ia achar bonito. Ninguém ia perguntar se ele parou de usar droga, se é viciado. Mas se eu coloco um drag montado, de peruca e tal. E não se desmontou, aí tem o questionamento. Mas peraí, ele mudou de vida? Como assim, se eu tivesse feito com outra história, você não iria perguntar isso. Você iria entender que as mudanças ali são só o começo. A relação com Deus vai mostrar o caminho que ele vai seguir. Não teria polêmica como tem tido se fosse outra história.