Ex-produtor de cinema foi condenado após dezenas de mulheres denunciarem seus assédios. Harvey Weinstein chega ao tribunal em Manhattan para ouvir decisão do júri, em 24 de fevereiro de 2020 Eduardo Munoz/Reuters A condenação do ex-produtor de cinema Harvey Weinstein por agressão sexual e estupro por um júri em Nova York, nos Estados Unidos, nesta segunda-feira (24), gerou fortes reações. Após quase um mês de julgamento e cinco dias de deliberações, o júri considerou Weinstein, 67 anos, culpado de agressão sexual em primeiro grau por praticar sexo oral na ex-assistente de produção Mimi Haleyi em julho de 2006. O produtor de filmes como "Pulp Fiction" e "Shakespeare Apaixonado" também foi declarado culpado de estupro em terceiro grau da ex-atriz Jessica Mann em março de 2013. Weinstein, no entanto, não foi considerado culpado do crime de estupro em primeiro grau de Mann e por duas acusações de comportamento sexual predatório, os delitos mais graves pelos quais era acusado e que poderiam resultar em uma pena de prisão perpétua. Durante a noite, ele teve que ser levado da prisão para um hospital por dores no peito, informou seu porta-voz. O júri teve que chegar a um consenso a partir do testemunho de três mulheres, entre as mais de 80 que o acusaram de assédio ou agressão sexual. A sentença será definida no próximo 11 de março pelo juiz James Burke, que presidiu o processo no tribunal penal estadual de Manhattan. Weinstein enfrenta a possibilidade de receber uma pena de 5 a 25 anos de prisão. Annabella Sciorra chega ao julgamento de Harvey Weinstein em Nova York Richard Drew/AP Photo A atriz de "Sopranos", Anabella Sciorra, que testemunhou durante o julgamento, divulgou uma declaração sobre o veredicto. “Meu testemunho foi doloroso, mas necessário. Falei por mim e com a força das oitenta vítimas de Harvey Weinstein em meu coração. Enquanto esperamos mais decisões que tragam Justiça absoluta, nunca devemos nos arrepender de quebrar o silêncio. Por falar a verdade diante dos poderosos, pavimentamos o caminho para uma cultura mais justa, livre do flagelo da violência contra as mulheres ”, disse Sciorra. Como reporta a rede NBC, Sciorra confrontou Weinstein da bancada de testemunhas no mês passado, relatando que o ex-chefe de estúdio de Hollywood a estuprou e fez outras atitudes inadequadas que incluíram o envio de chocolates com formas pornográficas e aparecer sem ser convidado em roupas de baixo com uma garrafa de óleo para bebês. Como voz trêmula, Sciorra disse ao júri que Weinstein invadiu seu apartamento em meados dos anos 90, a jogou numa cama para estuprá-la enquanto a atriz o chutava e socava. A atriz Rosanna Arquette, de 58 anos: denúncia de assédio contra o produtor Harvey Weinstein Divulgação/RosannaArquette.com A atriz Rosanna Arquette, que também acusa Weinstein, comentou a condenação no Twitter. "Gratidão às mulheres corajosas que testemunharam e ao júri por enxergar as táticas sujas da defesa. Mudaremos as leis no futuro para que as vítimas de estupro sejam ouvidas e não desacreditadas e para que seja mais fácil para as pessoas denunciarem seus estupros ", escreveu, segundo informações da NBC. Em comunicado, o Silence Breakers, um grupo de mulheres que se organizou para denunciar a má conduta sexual de Weinstein, afirmou: “Embora seja decepcionante que o resultado não ofereça a verdadeira e plena justiça que tantas mulheres merecem, Harvey Weinstein irá para sempre ser conhecido como um predador serial condenado". "Essa condenação não seria possível sem o testemunho de mulheres corajosas e de muitas outras mulheres que se manifestaram. Apesar da intimidação da equipe jurídica de Weinstein, elas compartilharam suas histórias corajosamente com o júri, o tribunal e o mundo. Esse foi um processo problemático desde o início, mas expôs ainda mais as dificuldades que as mulheres enfrentam para apresentar a verdade sobre agressores poderosos. Sua bravura será para sempre lembrada na história. Nossa luta está longe de terminar", prossegue o comunicado. Entre as Silence Breakers estão Rosanna Arquette e a atriz Ashley Judd, além de mais de dez outras. Ashley Judd também escreveu no Twitter que as mulheres que testemunharam "prestavam um serviço público a meninas e mulheres em todos os lugares". Durante uma conferência por telefone do Silence Breakers após o veredicto, a atriz Rose McGowan, uma das acusadoras de Weinstein, disse que a condenação de Weinstein "é um dia de poder e um grande avanço em nossa cura coletiva". McGowan, cujas acusações ajudaram a derrubar o outrora produtor, disse que ela decidiu 20 anos atrás que falaria depois de ouvir que ele fez o mesmo com outra pessoa. "Pela primeira vez ele não estará sentado confortavelmente. Pela primeira vez ele saberá como é ter poder em volta do seu pescoço", continuou ela. "Estamos em uma posição privilegiada", disse ela, porque "apenas 2% dos estupros são condenados". Na mesma conferência telefônica, Mira Sorvino chamou a condenação de "uma gota numa onda de justiça". "Ele apodrecerá na cadeia como merece", disse. "E teremos algum conforto." Lauren Sivan, que também é das "Silence Breakers", disse que "a vítima ser envergonhada não funcionará mais como defesa" pelos agressores. Zoe Brock, outras das acusadoras de Weinstein, chamou a condenação de "um grande dia" durante a conferência telefônica, acrescentando que "esperava o pior". "Harvey Weinstein é um estuprador condenado. Estou muito feliz com isso", disse ela. A Time's Up – uma organização que defende trabalho seguro, justo e digno para as mulheres – classificou o veredicto como "vitória para as sobreviventes em todos os lugares". Em um comunicado, Tina Tchen, presidente da Time's Up Foundation, disse: “Este julgamento — e a decisão do júri hoje — marca uma nova era da justiça, não apenas para as Silence Breakers, que se pronunciaram diante de grande risco, mas para todas as sobreviventes de assédio, abuso e agressão no trabalho". “Enquanto celebramos esse momento histórico, nossa luta para consertar o sistema quebrado que permitiu que abusadores em série como Harvey Weinstein abusassem de mulheres em primeiro lugar continua", afirmou a declaração de Tchen. A atriz Mia Kirshner simplesmente twittou: "O júri voltou. Harvey Weinstein é considerado culpado. Ele é. Ele fez isso". Trump e Hillary O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considerou a condenação do ex-produtor como "uma grande vitória" para as mulheres, além de passar "uma mensagem muito forte", disse nesta terça-feira (25). "Do ponto de vista das mulheres, acredito que simbolizou algo importante", disse Trump durante uma visita de Estado à Índia. "Foi uma grande vitória e passa uma mensagem muito forte", afirmou. Trump ressaltou não ser um "admirador" de Weinstein, insistindo na proximidade dele com os democratas. "Michelle Obama o adorava, Hillary Clinton também", disse. Em Berlim para a exibição de uma série documental dedicada a ela durante o festival de cinema, a ex-secretária de Estado americana declarou que já estava na "hora" de o produtor hollywodiano "prestar contas". "O veredicto do júri realmente fala por si só e é algo que as pessoas acompanharam com atenção, porque já era hora de prestar contas", disse Clinton. Ela, que foi muito criticada pela proximidade com o réu, acrescentou que "é fato que ele contribuiu com todas as campanhas democratas, de Barack Obama, John Kerry, Al Gore", reconheceu a ex-secretária de Estado americano. Clinton acrescentou que a condenação do produtor não é um motivo para não participar do financiamento das campanhas políticas, mas sim "colocar um fim a esse tipo de comportamento" que o fez ser condenado.