DJ carioca de 22 anos, que emplacou este e outros hits, diz que 'intercâmbio' entre novos músicos brasileiros foge de formato 'enlatado' da indústria e permite misturas sem perder 'essência' regional. Da esquerda: DJ JS O Mão de Ouro, Pedro Sampaio e Felipe Original, de 'Sentadão' Divulgação O sotaque carioca e a batida pernambucana de "Sentadão" deram liga neste verão. A parceria entre o carioca Pedro Sampaio e os pernambucanos Felipe Original e JS O Mão de Ouro surgiu de uma conexão instantânea: no primeiro encontro entre eles, no meio de uma viagem. A ponte entre ritmos populares, especialmente eletrônicos, entre o Sudeste e do Nordeste do Brasil, é cada vez mais forte. Dela surgiram várias apostas de hits para o carnaval 2020, inclusive "Sentadão". Ouça abaixo o podcast G1 Ouviu: Leia mais: Arrocha, brega e funk: como os MCs e o batidão do Nordeste estão se espalhando pelo Brasil A descrição empolgada e detalhada de Pedro sobre a criação de "Sentadão" é um bom exemplo desse intercâmbio. Também ajuda a revelar o método de trabalho do DJ e cantor – que, até agora, está funcionando. Aos 22 anos, Pedro Sampaio é um nome em ascensão no pop brasileiro. Começou a tocar como DJ aos 13, chegou a trabalhar com Dennis DJ, veterano do funk do Rio, e já teve outros sucessos em parcerias ("Chama ela", com Lexa) e só na sua voz ("Vai menina", "Bota pra tremer"). G1 – Como foi a história da criação de 'Sentadão' até virar um dos possíveis hits deste carnaval? Pedro Sampaio – Quando conheci o brega-funk, foi paixão à primeira vista, achei que precisava saber mais. Fui entender sobre a cultura, a dança, quem fazia, como era feito, como começou e evoluiu. Aproveitei que ia tocar no Recife e fui conhecer a fundo. Eu já estava falando com o Felipe Original pelo Instagram. Em princípio, a gente ia fazer um remix de uma música minha, para eu ir conhecendo mais o ritmo e eles. Aí fui lá na quebrada de Olinda em um tempo livre entre um show e outro. Chegando lá, me senti tão em casa.. A família dele estava lá com a minha música tocando na televisão. Era um atmosfera muito boa. A gente começou a fazer o remix, mas eu falei: "Peraí, Felipe, vamos fazer uma nossa?". Eu estava à vontade para criar ali. Exclui tudo que a gente estava fazendo e peguei um beat com o pianinho, que eu tinha guardado. Na hora que mostrei o pianinho o Felipe e o JS curtiram, e eu achei que tinha tudo a ver com o brega-funk. A gente começou a criar. Foi rápido. Já veio o refrão, a gente sabia que era bom. Foi muito natural. G1 – Mas por que essa paixão? O que você viu no brega-funk e por que você acha que ele está tão popular? Pedro Sampaio – Os ritmos urbanos que nascem nas periferias, nas ruas, do povo, têm essa evolução constante, essa envolvência. São apaixonantes. O brega-funk parece muito com o reggaeton, mas é brasileiro, tem o calor do interior do Brasil. É tudo que eu precisava ouvir. Aumenta muito a gama de possibilidades de misturas. Porque o funk 150 [batidas por minuto] era maneiro, e o brega-funk agora chega a 160, 170. A gama de ritmos que a gente pode misturar aí é grande. Ele pode até perder força em algum momento, mas não vai sumir. Quem está levantando a bandeira está fazendo de uma forma estruturada. Conheci também os moleques do passinho, que fazem parte do movimento e são super importantes. É uma coisa fascinante que a gente não via há muito tempo. Quando essas coisas acontecem, novos ritmos aparecem, muitas vezes a indústria pega e coloca numa lata. E aí fica uma coisa muito genérica. Mas não é só isso. Tem uma essência por trás. Não é só fazer o 'tchum tcha tum tum tum.' Tem uma verdade por trás. Aquilo que eu fui captar. Uma coisa interessante é a voz feminina da música, a Duda Rosa. Aquilo ali foi de uma forma totalmente natural. A gente estava compondo e veio vontade de ter uma voz feminina bem brega, bem real, bem de verdade. Eu soltei no ar e o JS falou: "ah, minha mulher canta." Eu eu falei: "chama ela." Ela veio, cantou e não teve coisa melhor na música do que isso. Encaixou perfeitamente e é uma voz que não tem vício de cantora. Voz dura mesmo, real. Foi perfeito. Rodeio de Jaguariúna teve apresentação de Pedro Sampaio Julio Cesar Costa G1 – Você é um cara que tem feito muito bem essas pontes que o pop brasileiro de hoje proporciona. De onde saiu seu interesse por esse tipo de mistura? Pedro Sampaio – Eu tocava como DJ desde os 13 anos, em festa de família mesmo, da minha avó. Sempre fui um cara que ouvi de tudo e me permiti ser influenciado por diversos ritmo. De DJ, fui me interessar por produção, por fazer música, fazer beat. E aí fui conhecer os estúdios, tive toda a relação com o Dennis DJ. Eu fui entendendo, pesquisando, aprendendo, evoluindo, botando a mão na massa. E uma coisa de que eu gostei foi isso, misturar os ritmos. G1 – E como passou de DJ para gravar seu próprio vocal? Pedro Sampaio – Nunca pensei nisso, mas como te falei, eu me permitia as coisas. Eu fazia os beats e tinha dificuldade de achar quem pudesse cantar. Quando você está no início, é difícil mesmo. E eu falei: "Vou fazer um experimento, gravar minha voz e ver como fica." Já fui pensando numa estética diferente, usando o que o estúdio me proporciona. Efeitos, e tudo mais. A primeira voz que eu achei boa foi "Bota pra tremer". Que eu fiz super rápido, brincando, gravei de uma forma experimental. Eu gostei do resultado, as pessoas à minha volta também. Deu muito certo. E continuei: "Vai menina", "Fica à vontade". G1 – Você vê hoje uma chance de trabalhar mais com estilos diferentes, sair das bolhas? Por exemplo, tem um remix de 'Sentadão' viralizando em ritmo de pisadinha, pelo Biu do Piseiro. Pedro Sampaio – Eu vejo demais. Claro, a internet ajuda muito, acelera o processo. O período que a gente está vivendo também ajuda. No carnaval sempre aparecem coisas incríveis, como a MC Loma. Elas têm a oportunidade de aparecer no carnaval. Eu sou uma das pessoas que gosto de trazer coisa nova e fazer esse intercâmbio. Às vezes em SP eu largo um piseiro no meio do show. Acho que a música só tem a crescer com isso, a atmosfera fica mais saudável. E quando rola esse intercâmbio de artista, sei lá, alguém de uma cidade maior com outra do interior, é muito interessante. Porque um dá oportunidade para os dois. Um está mostrando o público dele para o outro. Eu sou super a favor disso.