Safra autoral da artista emperra disco gravado entre Brasil e Argentina sem nuances que justifiquem o trânsito entre os dois países. Capa do álbum 'A máquina do tempo', de Isabella Taviani Fotonauta com arte de Philippe Leon Resenha de álbum Título: A máquina do tempo Artista: Isabella Taviani Gravadora: Edição independente da artista Cotação: * * ♪ Gravado entre setembro de 2017 e abril de 2019, o oitavo álbum de Isabella Taviani, A máquina do tempo, ganhou forma entre estúdios do Brasil e da Argentina com produção musical dividida entre Fabricio Matos e André Vasconcellos. Contudo, nenhum marcante traço portenho é identificado no registro das 11 músicas autorais reunidas pela cantora e compositora carioca em A máquina do tempo, disco lançado em 31 de janeiro. Além de jamais justificar o trânsito na ponte Brasil-Argentina, embora alterne faixas gravadas com músicos nacionais e canções registradas com instrumentistas portenhos em tom supostamente mais denso, o álbum apresenta uma das safras autorais menos atraentes da artista, mesmo se o parâmetro for o padrão de Taviani. Intérprete de tom passional potencializado pelo ardor do público majoritariamente feminino que lota as plateias dos shows da cantora, sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), Taviani aciona A máquina do tempo com canções de intensidades variadas que oscilam em círculo vicioso como o citado em verso de Céu de sangue, balada de letra “envenenada pelo rancor” recorrente no cancioneiro do (des)amor demais da artista. O fim da faixa, de pegada roqueira, tenta evocar o espírito grunge… Para quem gosta de ouvir a cantora arder na fogueira de paixões, há pérolas como Me desculpe se não fui pior – cuja letra cita verso de Frevo mulher (Zé Ramalho, 1979) – e Rivotril, canção composta e gravada com a devida ansiedade, sob o incentivo de fãs da artista. Isabella Taviani canta com a parceira Myllena uma canção de tom ruralista, 'Luar de prata' Fotonauta / Divulgação Entre canções inquietas, há espaço para tempos de delicadeza em baladas como Arranha-céu e Tudo em volta é só você, canção adornada com cordas gravadas por orquestra russa de São Petersburgo. Tudo em volta é só você é uma das parcerias de Taviani com a companheira Myllena, também coautora de Aconteceu, Alfabeto grego (canção que persegue a forma de ijexá estilizado sem sair do típico universo musical de Taviani), Luar de prata, Não brinca comigo – fluente faixa apresentada em single editado em 10 de janeiro – e da música-título A máquina do tempo. Nos registros mais suaves, a afinação da voz da cantora fica mais evidenciada, como na já mencionada faixa Luar de prata, por exemplo. Nessa canção sobressalente no repertório, gravada por Taviani em dueto harmonioso com Myllena, o acordeom de Marcelo Caldi esboça clima ruralista. O disco se ressente de mais nuances como o elegante tom sertanejo que ilumina Luar de prata em gravação feita na Argentina. Anunciado em março de 2018 com a edição do single A vida vive sem você, o disco A máquina do tempo é arrematado com o clima pretensamente psicodélico que desnorteia a gravação da composição que batiza o álbum autoral menos sedutor da discografia de Isabella Taviani, cuja obra fonográfica alcançou bom momento com o tributo prestado ao duo norte-americano The Carpenters no álbum em inglês Carpenters avenue (2016). Diluídas ao longo do disco, as pretendidas ousadias estilísticas de A máquina do tempo parecem ter ficado mais no plano das ideias do que propriamente impressas no repertório de inspiração rarefeita. De todo modo, é a qualidade da atual safra autoral de Taviani que emperra o pleno funcionamento d'A máquina do tempo na obra fonográfica da artista.