'Todos os mortos', de Marco Dutra e Caetano Gotardo, concorre ao prêmio principal do evento com história ambientada logo após o fim da escravidão no Brasil. Margaret Qualley e Sigourney Weaver no Festival de Berlim 2020 John Macdougall/AFP Ficção e temas atuais se encontram na 70ª edição do Festival de Berlim, que começa nesta quinta-feira. São 18 filmes na disputa pelo Urso de Ouro, incluindo uma produção brasileira, e uma nova mostra dedicada a novas formas de fazer cinema. Sigourney Weaver e Margaret Qualley – filha de Andie MacDowell – foram responsáveis pela abertura de um dos festivais de cinema mais importantes da Europa, ao lado de Cannes e Veneza. O filme escolhido para abrir o festival foi "My Salinger Year", uma história sobre a criação literária e a ambição profissional que será exibida fora de competição. O brasileiro "Todos os mortos", de Marco Dutra e Caetano Gotardo, ambientado no fim do século XIX, poucos anos após o fim da escravidão, concorre ao Urso de Ouro. Ele disputa com filmes como "Siberia", do veterano Abel Ferrara, e "First Cow", da americana Kelly Reichardt. Outro destaque na mostra oficial é "The roads not taken", da britânica Sally Potter, na qual Javier Bardem interpreta um deficiente auxiliado pela filha (Elle Fanning). 'Hardcore' Outros filmes que desejam suceder "Synonymes", vencedor do Urso de Ouro do ano passado, são "There is no evil", do dissidente iraniano Mohamad Rasoulof, e "DAU. Natasha". Esse é um dos filmes do polêmico projeto do russo Ilya Khrzhanovskiy, que recriou uma cidade soviética na qual filmou a vida de 400 pessoas, repleta de violência e pornografia. "A maioria das cenas deste projeto são hardcore, não apenas este filme", disse o novo codiretor do festival, Carlo Chatrian, antecipando a polêmica. No conjunto, a mostra deste ano observa o mundo atual "sem ilusão, para abrir os nossos olhos", destacou ele. A premiação será anunciada em 29 de fevereiro pelo júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons e que tem a presença do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho ("Bacurau"). O júri do Festival de Berlim, de 2020, posa: Kenneth Lonergan, Bettina Brokemper, Luca Marinelli, Berenice Bejo, Jeremy Irons, Kleber Mendonca Filho e Annemarie Jacir Tobias Schwarz/AFP A britânica Helen Mirren receberá o Urso Honorário. Uma das homenagens mais emblemáticas da Berlinale, o Prêmio Alfred Bauer, foi cancelado há algumas semanas, após a revelação do passado nazista do primeiro diretor do festival. O jornal "Die Zeit" publicou que Bauer – diretor da mostra entre 1951 e 1976 – foi um alto funcionário do departamento cinematográfico de propaganda criado por Joseph Goebbels, ministro de Adolf Hiltler. Ele também espionou grandes figuras da indústria do cinema. Os novos diretores da Berlinale, Chatrian e Mariette Rissenbeek, também anunciaram a criação da mostra "Encounters", que exibirá obras mais ousadas de cineastas "inovadores". Fora de competição, a ex-candidata à presidência americana Hillary Clinton é esperada para apresentar a minissérie autobiográfica "Hillary". A Pìxar exibirá seu novo filme de animação "Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica" e a atriz australiana Cate Blanchett vai mostrar a série "Stateless". Cinema brasileiro 'em seu melhor momento' O Brasil terá uma forte presença no festival. Dezenove filmes do país foram selecionados para a Berlinale, destaca Kleber Mendonça Filho: "Estamos no melhor momento da história do cinema brasileiro, apesar de sua indústria estar sendo desmantelada quase diariamente." Na mostra "Panorama" serão quatro filmes, incluindo o documentário "Nardjes", do diretor Karim Aïnouz, premiado ano passado em Cannes por "A Vida Invisível". Outro documentário é "O reflexo do lago", de Fernando Segtowick. Ele mostra a vida de pessoas que moram nas proximidades da hidrelétrica de Tucuruí, também foi selecionado.