Rubem Novaes, presidente do BB: "não venderemos nada açodadamente, destruindo valor; isto é certo" (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
São Paulo – O Banco do Brasil está em plena transformação. Tem se desfeito de participações em companhias pouco correlatas ao negócio, buscado parceiros internacionais e, ao mesmo tempo, procurado maximizar valor para os acionistas. À frente do banco está o executivo Rubem Novaes, que tem como principais desafios atrair as novas gerações com produtos e serviços que atendam seus gostos e hábitos e conseguir adaptar a instituição aos novos tempos de digitalização, open banking e fintechs.
“O corpo funcional tem sido capaz de enfrentar estes desafios com incrível denodo e competência, mas reconhecemos que as amarras de banco público atrapalham”, diz Novaes a EXAME. Por isso mesmo, o executivo é a favor da privatização do banco. Veja os principais trechos da entrevista.
EXAME: O senhor já disse algumas vezes que acha que o BB poderia ser privatizado (apesar de não ser o intuito do governo) ou virar uma corporation (empresa que possui sua identidade legal e tributária independente de seus donos ou gestores). Como isso se daria? Há apoio do ministro Paulo Guedes?
Sou a favor da privatização do banco e o ministro Guedes também é, mas esta é uma decisão política que teria que ser aceita pelo presidente Bolsonaro e pelo Congresso. Acho que um dia não muito distante a privatização do BB se tornará inevitável em função dos novos rumos da atividade bancária, mas acho também que a ideia ainda não amadureceu o suficiente do ponto de vista político. Em termos de mecânica da privatização, bastaria uma pequena venda de ações do governo para termos uma situação de empresa privada com “controle minoritário” governamental. Daí poderíamos evoluir para uma “corporation” de verdade, com controle pulverizado, lembrando que é esta a estrutura societária adotada pela maior parte dos grandes bancos mundo a fora.
Na sua opinião, qual é o papel do BB hoje? É possível ter um papel de fomento e dar retorno para os acionistas?
O BB tem um compromisso com seu acionista majoritário, mas tem quase 50% de suas ações em mãos privadas. Esta característica de empresa de capital aberto não pode ser desconsiderada na formulação de suas diretrizes. Nosso papel de fomento se cumpre naturalmente pelo simples fato de sermos um banco. Nosso mandato é no sentido da maximização de valor para os acionistas, cabendo lembrar que a União se beneficia duplamente de bons resultados: pelo recebimento de dividendos e pelo recolhimento de tributos.
Por que o BB decidiu fazer parcerias com outras instituições como a do UBS para o banco de investimento? Quando a parceria da BB DTVM deve ser anunciada?
Fazemos parcerias quando se evidenciam complementaridades. Quando julgamos que as partes juntadas valem mais que a soma das partes tomadas em separado. Isto aconteceu com certeza em nossa joint venture do BI com o UBS. Só faremos a parceria na BBDTVM se tivermos a convicção de que o preço oferecido por terceiros por participação societária garante um aumento de valor global para o BB. Lembrando que estaríamos abrindo mão de retornos consideráveis em nossa atividade de asset management (gestora).
Por que o BB decidiu vender a sua participação em empresas como a NeoEnergia e IRB? O próximo pode ser o Banco BV e o Banco da Patagônia? Qual é o intuito dessa estratégia?
Nossa estratégica é só manter no conglomerado atividades que tenham sinergia com nosso “core business”. Atividades que precisem de nossa rede de distribuição ou de nossa clientela para fazer bons negócios. As vendas de nossas participações em Neoenergia e no IRB seguiram esta lógica. Outros ativos do banco estão na mesma situação de não sinergia com a “nave mãe”, mas não venderemos nada açodadamente, destruindo valor. Isto é certo.