Gerd Leonhart (Daniel Ramalho/Divulgação)
Rio de Janeiro – Se você tem dinheiro aplicado no Facebook, desinvista.
O conselho foi dado pelo futurista alemão Gerd Leonhard nesta quinta-feira (13) na Convergence Capital Conference, evento sobre alinhar investimentos com impacto positivo ambiental e social.
Ele vê uma ascensão do techlash, uma crise de desconfiança e reação do público ao lado obscuro por trás da fachada atraente de empresas de tecnologia que também incluem Amazon, Apple e Google.
As preocupações vão de violações de privacidade, vigilância, mineração de dados, evasão de impostos até problemas de vieses, manipulação, desumanização e até mesmo vício. “A tecnologia virou nossa religião e nossa droga”, diz Gerd.
A importância disso se reflete no mercado financeiro: as participação das grandes empresas de tecnologia no índice Dow Jones foi de 3% em 1970 para 17% em 2019.
No livro “Tecnologia versus Humanidade”, publicado em 2016, Gerd já mencionava alguns dos dilemas éticos das companhias tecnológicas que se seguiram a esta expansão.
No caso do Facebook, o marco do desgaste foi o escândalo da Cambridge Analytica, uma empresa que agregou dados de usuários sem seu consentimento para uso em propaganda política focada.
A revelação em março de 2018 do seu uso nas campanhas surpreendentemente vitoriosas de Donald Trump nos Estados Unidos e do Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, levou o Facebook a perder US$ 37 bilhões em valor de mercado em um único dia.
O fundador e presidente Mark Zuckerberg foi convocado para depoimento no Congresso americano e o fortalecimento da regulação virou tema de campanha entre os pré-candidatos democratas.
Gerd critica o Facebook por se defender adaptando o discurso da indústria armamentista, de “não são as armas que matam, são as pessoas” para “não é o Facebook que gera desinformação, são as pessoas”.
As grandes empresas de tecnologia também viraram alvo por estarem ligadas ao fenômeno de alta da desigualdade, que seriam, junto com as mudanças climáticas, os grandes tema da atualidade.
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Não por acaso, o futurista também prevê que e investir em óleo, gás e carvão se tornará “socialmente indefensável” com o tempo e que haverá boicotes a combustíveis fósseis e impostos de carbono.
Isso apesar da petrolífera saudita Aramco ter realizado recentemente a maior oferta pública inicial de ações da história. Para Gerd, foi “último esforço desesperado para monetizar o big oil“.
Na outra direção vai a decisão da gestora BlackRock, que maneja US$ 7 trilhões (cerca de três PIBs brasileiros), de tirar do portfólio empresas com mais de um quarto da sua receita oriunda do carvão.
As mudanças estão no contexto de transição do paradigma de shareholder capitalism (o capitalismo do acionista) para a de stakeholder capitalism (o capitalismo que agrega todas as partes afetados).
O conceito foi o tema do Fórum Econômico Mundial deste ano e foi abraçado pela Business Roundtable. A organização, que reúne 181 presidentes de grandes empresas, abandonou em agosto de 2019 a noção de prevalência total do acionista pela primeira vez desde seu primeiro comunicado em 1997 .
“Isso é só pose corporativa? Pode ser, mas é uma mensagem forte para o acionista”, diz Gerd.