Airbnb: lustrar a imagem é fundamental este ano, em que a empresa pretende ir à bolsa (Airbnb/Divulgação)
No que parece um primeiro passo concreto na direção de dar mais poder a todos os públicos envolvidos com uma empresa – e não mais apenas aos acionistas –, o Airbnb anunciou nesta sexta-feira, dia 17, uma reestruturação de sua governança corporativa, para incluir todos os “stakeholders” em seu processo de decisões. Pelo menos no discurso, esta é uma das mais fortes tendências do século: uma das maiores evidências disso foi o comunicado emitido em agosto passado pela Business Roundtable, organização que reúne uma grande parte das maiores empresas dos Estados Unidos.
Na declaração, o grupo afirmou que o propósito de uma companhia não deve mais ser simplesmente promover os interesses de seus acionistas, mas também investir nos empregados, proteger o meio ambiente, lidar de forma justa e ética com fornecedores e clientes. Trata-se de uma virada em relação à posição predominante no mundo dos negócios, até então alinhada à tese do economista Milton Friedman, de que a missão social de uma empresa é dar lucro.
A grande dúvida é: na prática, como adotar esse novo princípio? Em última análise, são os acionistas que detêm o poder e a responsabilidade sobre os rumos da empresa. Pois cinco meses depois do comunicado da Business Roundtable o Airbnb apontou uma direção. Anunciou a criação de um comitê de stakeholders, a inclusão de métricas para avaliar os benefícios para eles, com impacto direto nos pacotes de compensação dos executivos, e até um “dia do stakeholder”, um encontro parecido com a tradicional reunião de acionistas.
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Em conversa com o The New York Times, o executivo-chefe do Airbnb, Brian Chesky, disse que não quer ser “um desses CEOs que dizem estar tentando fazer um monte de coisas sensacionais, mas tratam as reuniões de conselho exatamente como qualquer outra empresa”.
Não está claro, ainda, o quanto os esforços do Airbnb serão diferentes de outras empresas que já têm métricas ambientais e de satisfação dos consumidores, por exemplo, incluídas nos sistemas de bônus. Até o anunciado compartilhamento de lucros – um programa que dará 100 milhões de dólares para financiar iniciativas locais ao redor do mundo pelos próximos dez anos – pode ser confundido com investimentos de companhias nas comunidades em que atuam. De qualquer forma, é uma primeira aproximação para regulamentar a suposta ênfase que as companhias modernas devem conceder aos interesses dos públicos com os quais se relacionam.
No caso do Airbnb, esse esforço é crucial. Pode fazer diferença na contínua batalha que a empresa tem com reguladores nas milhares de cidades onde atua. Se beneficia hóspedes em busca de pouso mais barato e locadores de imóveis em mais de 100.000 cidades pelo mundo, o Airbnb também irrita vizinhos que não querem seus condomínios frequentados por estranhos e, obviamente, concorrentes do turismo tradicional, como hotéis e pousadas – além, é claro, da dificuldade em estabelecer o nível correto de impostos para a atividade.
Ser uma empresa bem vista é especialmente importante este ano, em que o Airbnb pretende fazer sua abertura de capital. Por outro lado, potenciais investidores podem não gostar tanto das restrições impostas a seu poder (se é que elas serão efetivas). De acordo com o comunicado, esta é uma primeira aproximação para “os problemas e oportunidades que exigirão o trabalho de várias equipes, durante vários anos”.