Contaminação: Ao todo, 16 mil litros da cerveja Belorizontina, principal marca da Backer, foram apreendidos (./Agência Brasil)
As atividades da cervejaria Backer, em Belo Horizonte (MG), foram suspensas na tarde desta sexta-feira,10, após o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fecharam a fábrica, como uma medida cautelar. A substância dietilenoglicol – um anticongelante – foi encontrada por autoridades sanitárias, em dois lotes da empresa. Ao todo, 16 mil litros da cerveja Belorizontina, principal marca da Backer, foram apreendidos. Também foram determinadas ações de fiscalização para apreensão dos produtos existentes no mercado.
O presidente da Associação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Abracerva), Carlo Lapolli, disse hoje (10) para a EXAME, que a substância dietilenoglicol raramente é usada na produção de cervejas e que o nível de segurança na produção é muito alto. “Beber cerveja é algo muito seguro, é mais seguro do que andar de avião”, disse.
Ainda de acordo com Lapolli, o incidente causa um impacto momentâneo no setor, porque, se for confirmado, “é uma situação muito grave, mas acho que o próprio desfecho vai garantir a credibilidade da área.
“A maior perda é a perda de uma vida. O setor todo está consternado e muito preocupado, querendo descobrir o que aconteceu”.
Lapolli observou que, devido a suas propriedades anticongelantes, o dietilenoglicol costuma ser empregado em sistemas de refrigeração, por vários segmentos produtivos. E que também pode ser encontrado em radiadores de veículos. No entanto, segundo o dirigente da entidade que representa parte dos fabricantes de cerveja, dos fornecedores de matéria-prima e de pontos de venda da bebida, a indústria cervejeira costuma optar por outros produtos.
“Quase a totalidade das cervejarias artesanais utiliza álcool etílico [como anticongelante], ou seja, o álcool puro, que não oferece nenhum tipo de risco de contaminação caso entre em contato com a cerveja”, explicou Lapolli.
Ainda de acordo com Lapolli, as investigações sobre as causas da contaminação, que levou nove pessoas a serem internadas em hospitais da região metropolitana de Belo Horizonte e de Juiz de Fora, com insuficiência renal aguda e alterações neurológicas centrais e periféricas, terão que apontar como e em que momento as cervejas da Backer foram contaminadas pelo dietilenoglicol.
“Essa é uma pergunta que terá que ser respondida, já que a própria cervejaria Backer afirma que não utiliza o dietilenoglicol em sua fábrica”, disse Lapolli.
Em duas notas já divulgadas à imprensa, a Backer assegurou que a substância não faz parte de seus processos de produção. Ainda assim, por precaução, a empresa acatou a decisão de recolher os lotes L1 1348 e L2 1348, dos quais faziam parte as amostras testadas pela Polícia Civil. A proprietária da cervejaria não atendeu as ligações de EXAME para uma entrevista.
Segundo Lapolli, em todo o mundo, cervejarias utilizam um sistema de refrigeração parecido, empregando tanques duplos, encapsulados, que evitam o contato da cerveja armazenada com o produto usado no sistema de refrigeração.
“O sistema de resfriamento de uma cervejaria serve para manter a cerveja gelada nos tanques. A cerveja fica armazenada em tanques revestidos internamente por inox. Ao redor destes há uma serpentina que fica protegida por uma outra placa de inox, que forma a camada que vemos por fora”, explicou Lapolli.
“Esse sistema de tanques encamisados é utilizado no mundo inteiro e não temos notícias desse tipo de contaminação em nenhuma cervejaria do mundo. Seria um fato inédito. Eu, particularmente, não tenho notícias de vazamentos desse tipo na indústria [mundial]”, comentou Lapolli, ao considerar a hipótese de que o dietilenoglicol tenha contaminado parte da produção da Backer.
Mesmo apontando a necessidade de aprofundamento das investigações, o presidente da Abracerva considerou acertada a decisão da Backer de recolher os dois lotes de cerveja. “Há algumas perguntas que teremos que aguardar para ver respondidas. Acho que temos que aprofundar a investigação e realmente saber a origem desta contaminação, a causa desta síndrome e se, realmente, ela está ligada ao dietilenoglicol e não a nenhum outro tipo de agente [contaminante] externo”, disse Lapolli.
A Secretaria de Saúde de Belo Horizonte colocou à disposição da população da capital mineira nove pontos de recolhimento do produto.
A Backer também se dispôs a receber os vasilhames de Belorizontina, mesmo que de outros lotes além dos dois sob suspeita das autoridades policiais e sanitárias. Os dois lotes em cujas amostras foi identificada a presença da substância dietilenoglicol são os L1-1348 e L2-1348.
Caso desejem devolver qualquer garrafa de Belorizontina que tenham guardada em casa, os consumidores devem procurar o estabelecimento comercial onde a compraram a partir da próxima segunda-feira (13), levando consigo o cupom fiscal. A cervejaria promete que o cliente será ressarcido no momento da devolução.
Quem mora em Belo Horizonte pode procurar, de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h, em um dos seguintes endereços: Barreiro: Av Olinto Meireles, 327 – Barreiro; Av. Augusto de Lima, 30 – 14ª andar – Centro; Rua Salinas, 1.447 – Santa Tereza; Rua Queluzita, 45 – Bairro São Paulo; Rua Peçanha, 144, 5º andar – Carlos Prates; Rua Pastor Murilo Cassete, 85 – São Bernardo; Av. Silva Lobo, 1.280, 5º andar – Nova Granada; Av. Antônio Carlos, 7.596 – São Luiz; Av. Vilarinho, 1.300 – 2º Piso – Parque São Pedro, Venda Nova.
Nos endereços serão recebidos apenas garrafas de Belorizontina de consumidores que adquiriram o produto para consumo próprio, não sendo aceitas devoluções de bares, restaurantes e supermercados. Todo o material entregue nesses pontos ficará sob custódia da secretaria até que sua destinação final seja definida.
Histórico
Uma pessoa morreu e nove foram internadas em hospitais da região metropolitana de Belo Horizonte e de Juiz de Fora desde que os primeiros casos da doença começaram a ser registrados, no último dia 30. Todos os pacientes apresentavam insuficiência renal aguda e alterações neurológicas centrais e periféricas, o que levou a Secretaria estadual de Saúde a classificar os episódios como uma “síndrome nefroneural”. Um nono caso foi descartado pelo fato de não apresentar os mesmos sintomas dos demais e por sofrer de doença renal prévia.