C&A: A forte presença local a coloca entre as maiores do setor (Germano Luders/EXAME)
A C&A é uma das maiores varejistas de moda do Brasil e uma das únicas internacionais a ter sucesso no país. Seu segredo é simples: a companhia tem uma grande produção local, o que melhora suas margens e diminui o tempo entre o desenvolvimento de uma coleção e sua chegada nas lojas.
Depois de um período de reestruturação e a abertura de capital em um IPO em outubro deste ano, a companhia deve acelerar a expansão de lojas e fortalecer sua logística e divisão financeira.
A forte presença local a coloca entre as maiores do setor. Suas principais concorrentes, como a Renner, Riachuelo, Marisa e Arezzo, foram criadas no Brasil. Já a C&A foi criada na Holanda em 1841 e chegou ao Brasil em 1976 e a espanhola Zara abriu a primeira unidade no Brasil em 1999.
Embora com um modelo de negócios semelhante à Zara, focado em fast fashion, as duas empresas têm grandes diferenças em sua operação. “Por mais de 40 anos, a C&A foi uma das poucas varejistas estrangeiras de moda a fazer negócios por aqui”, diz o BTG em relatório recente sobre a empresa.
Atualmente, a empresa tem 283 lojas pelo país e três centros de distribuição. Com vendas de 5,2 bilhões de reais em 2018, é a segunda maior do mercado com 5% de participação, atrás da Renner e ao lado da Riachuelo.
Índice Zara
O Brasil é um dos países mais caros para comprar roupas e acessórios, segundo outro levantamento chamado de Index Zara, feito pelo banco BTG Pactual e divulgado no início do ano. Por aqui, itens da varejista espanhola são 18% mais caros do que se comprados nos Estados Unidos.
Para o banco, um dos motivos é a desvalorização do real perante a moeda americana. Outra razão é a dificuldade de empresas estrangeiras de operarem no país. “Questões regulatórias, as complexidades do sistema tributário e os gargalos logísticos fazem com que outros atores que têm sucesso no exterior (por exemplo, Amazon e Walmart) lutem para ganhar força no país”, descreve o BTG na pesquisa.
No segmento de moda, a C&A se destaca por sua presença local. A Zara tem poucas fábricas parceiras no país – apenas 92 das confecções fornecedoras ficam no Brasil ou na Argentina – 1,3% de todas as fábricas da companhia.
Já a C&A construiu uma rede mais sólida de fornecedores no país. 72% dos fornecedores são locais, e desses 30% são exclusivos para a empresa, que também tem autonomia para desenvolver coleções próprias.
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Concorrentes nacionais
Se a C&A se destacou entre as multinacionais no país, agora deve enfrentar as concorrentes locais. Sua principal concorrente, a Renner, é a maior varejista de moda do país, com participação de mercado de 5,9%, vendas anuais de 8,5 bilhões de reais apenas na operação de varejo e quase 580 lojas, sendo 368 da marca Renner, além de Camicado e Youcom.
A Renner, assim como a Riachuelo, têm um modelo de produção e distribuição mais flexível e acelerado que a C&A. As brasileiras usam o método de abastecimento push and pull, que adequa a produção em fábrica a partir de dados do que os clientes estão comprando nas lojas.
Já a C&A produz as coleções apenas com base em decisões internas, o que pode levar a maior necessidade de descontos de peças que acabam não sendo vendidas.
A XP, em relatório sobre a empresa, destaca que essa é uma desvantagem competitiva da C&A em relação a suas concorrentes, “porque a velocidade das mudanças de tendência no segmento de moda fast fashion é alta, fazendo com que a assertividade de abastecimento se torne ainda mais relevante”, escreve a corretora em relatório.
Por isso, a companhia deve investir forte em logística nos próximos anos. O investimento não deve ser baixo: a XP estima gastos de 320 milhões de reais até 2022 nos centros de distribuição e nos sistemas.
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Futuro otimista
Os gastos devem se pagar com o aquecimento do setor de moda. “Com a retomada mais consistente da economia esperada para 2020, acreditamos que o segmento de vestuário será um dos principais beneficiados em função da demanda reprimida e volumes ainda pressionados”, escreve a XP em relatório.
A C&A, que teve receitas de 5,2 bilhões de reais em 2018, deve chegar a 5,4 bilhões de reais em 2019 e a 6,7 bilhões de reais em dois anos, segundo estimativas do BTG.
A C&A deve abrir mais 165 novas lojas nos próximos cinco anos. Além disso, com a retomada do crescimento econômico, as vendas de roupa devem voltar a se aquecer e beneficiar tanto a C&A quanto suas concorrentes.
A XP estima crescimento médio anual de 12% nas vendas, de 9% de EBITDA e 18% de lucro líquido para os próximos três anos.
Para o Bradesco, o momento é o ideal para a C&A recuperar mercado perdido durante os anos de crise. “Após o recente IPO, a C&A tem uma nova independência, energia e impulso após vários anos de contenção no Brasil. Isso significa que a empresa agora está se concentrando em acelerar o crescimento, conquistar participação de mercado e melhorar suas capacidades de execução após um período de cinco anos em que as lojas foram fechadas e o investimento foi reduzido”, escreve o banco em relatório.
Para a C&A, crescer está na moda de novo.