O termo ainda gera confusão nos mais conservadores, mas Turismo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) não é sobre vestir a bandeira colorida ou pintar a fachada do estabelecimento com as cores do arco-íris, ele fala sobre respeito e reconhecimento da diversidade sexual dentro do segmento. O termo hoje faz parte do mercado e com ampla aceitação no exterior. No Brasil, as coisas ainda patinam e, por isso, vale entender como destinos LGBT-Friendly são capazes de fomentar o turismo e unir pessoas em todas as partes do mundo.
Em um momento que diversos destinos nacionais se fecham para o assunto, o seminário “Isto é Mato Grosso do Sul”, realizado pela Fundação de Turismo, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, trouxe Alex Bernardes para falar sobre o tema.
Alex é campo-grandense e saiu de Mato Grosso do Sul para São Paulo em 2008 com o desafio de lançar a ViaG, única revista brasileira de informações turísticas voltada para o público LGBT com conteúdo editorial de roteiros, eventos e acontecimentos que respeitam a diversidade sexual.
Depois de um tenso painel sobre a “pesca esportiva e boas práticas” que inflamou os ânimos de quem é contra ou a favor do “Cota Zero”, que proíbe o transporte de peixe para fora das regiões de pesca, Alex se apresentou bem-humorado e quebrou o gelo com um vocabulário criado pela comunidade LGBT. “Como diria na nossa língua, esse painel foi um bafo”, brincou.
O especialista falou sobre números, informações, inspirações e boas práticas que podem ser aplicadas nos negócios sul-mato-grossenses. Alex citou empresas que apoiam a comunidade LGBT e como o respeito pela diversidade aumenta a lucratividade.
É importante saber – Em números e histórias, antes de tudo é preciso entender que discriminação e a falta de inclusão causam um prejuízo emocional. Em razão disso, o palestrante exibiu um vídeo da ONU que mostra o preço da exclusão e as individualidades de LGBT que são marcas para o abuso e a violência.
De acordo com as pesquisas, entre metade e dois terços da juventude LGBT sofreu o bullying na infância, forçando um em três a faltar ou até mesmo abandonar a escola. Jovens gays e lésbicas são até quatro vezes mais propensos a cometer suicídio. “Para os indivíduos em questão, essas são tragédias pessoais. Para a comunidade geral, isso representa um grande desperdício de potencial humano que pesa gravemente sobre a sociedade e sobre a economia”, mostrou o conteúdo da ONU.
De acordo com um estudo do Banco Mundial, a discriminação contra LGBT pode custar uma economia do tamanho da Índia, até 32 bilhões de dólares ao ano. “Ou seja, não é surpreendente que a ONU defina o combate à homofobia e à transfobia como uma prioridade dos Direitos Humanos”, aponta o texto.
Dados econômicos – Os números reais provam o tanto que se perde com a discriminação, de maneira social e econômica. Alex então mostrou diversos dados do Mercado LGBT na Europa e Estados Unidos. “Isso porque a gente ainda tirou a China e a Rússia do armário”, disse.
Na Europa, o potencial de consumo é estimado em US$ 873 bilhoes e nos EUA, chega a US$ 760 bilhões. No Brasil o número é R$ 18 milhões e é o país latino-americano de maior potencial para o turismo LGBT.
“O LGBT nasce com a estigma de não ser o orgulho da família e diversos outros fatores, e para poder se destacar, nós temos que nos esforçar mais, estudar mais e isso a gente chama de compensação que é possuir salários acima da médica nacional, os melhores cartões de créditos e passaportes ativos”, explicou Alex.
Na prática quando se fala em Turismo LGBT, os abertos ao assunto pensam na possibilidade de fazer uma festa. Alex explica que não se resume a isso, os turistas LGBT não querem somente festas semelhantes a Parada Gay, eles estão pelo mundo em busca de gastronomia, artes, aventuras e também conforto no segmento, claro, aliados ao respeito.
Perceber o crescimento desse tipo de mercado é pensar em atender necessidades com um serviço que não exclua. Não são atrações exclusivas, mas com um atendimento sem preconceito e olhares, por exemplo, quando dois homens ou duas mulheres pedem uma cama de casal e o atendente insiste em oferecer pacote com duas camas de solteiro. Pasmem, isso acontece diariamente. “Já soube de muitas gafes, por exemplo, de casamentos em hotéis de um casal lésbico e a equipe colocar um casal hétero em cima do bolo”, citou.
Outros exemplos como ter um selo de LGBT-Friendly, reconhecer um casal homossexual como tal e chamá-los naturalmente pelas nomenclaturas que são, como maridos, namorados ou namoradas, são exemplos de reconhecimento que não só agregam para o estabelecimento, mas ganha a confiança do cliente LGBT que também se sente mais acolhido e “não precisa esconder a própria orientação sexual”, explicou.
Além disso, unir-se ao combate contra a homofobia, ajudar a melhorar as estatísticas que mostram que o Brasil está em primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos de LGBT. “É claro que ao demonstrar esse apoio haverá os haters (odiadores), mas basta saber lidar e entender que a inclusão é respeito e a união de pessoas”.
Pouquíssimas pessoas fizeram parte da palestra, mas quem ficou para assistir saiu dali com boas ideias. Joice Carla Santana Marques, do Joice Pesca e Tur, vencedora do prêmio Isto é Mato Grosso do Sul, disse à plateia que já está pensando em uma pescaria no Pantanal para o público LGBT. Alex apoiou. “Olha, te garanto que vai ser muito divertido e tem público para isso”, reforçou.
Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundação de Turismo do Estado, defendeu a temática e garantiu capacitação durante o ano dentro do segmento. “Já fechamos parceria e vamos promover capacitação. É um mercado que a gente quer atuar e ser vanguarda novamente no turismo brasileiro. Se a gente não abraça essa ideia, nosso discurso está contrário à nossa prática”, afirmou.
Cenário sul-mato-grossense – De olho em quem consome mais, Bonito recebeu ano passado 1ª agência de turismo “LGBT-friendly”. Na página da agência, os pacotes também são atrativos com destinos para um público aventureiro de dias ou apenas um fim de semana.
No Pantanal, a Fazenda e Pousada Baía Grande foi eleita o primeiro espaço para o turismo “LGBT-friendly” na região. O reconhecimento está estampado em uma das paredes da fazenda em Miranda com os dizeres “Aqui respeitamos a Diversidade”.
Fonte: CG News