Prefeito estima em 1 bilhão de euros os prejuízos com as inundações. Praça de São Marcos tomada pela água neste domingo (17) Alberto Lingria/Reuters Veneza teve mais um dia de maré alta neste domingo (17). As lojas e os museus da cidade ficaram fechados na região da Praça de São Marcos, área mais atingida, mas alguns turistas com botas de borracha altas não deixaram de visitar o local. Muitos donos de lojas em torno da Praça de São Marcos esvaziaram seus estabelecimentos, enquanto outros aumentaram os produtos o mais alto possível e colocaram sistemas de bombeamento automático para manter a água sob controle. As portas da famosa Basílica de São Marcos também foram fechadas como medida de segurança, enquanto as autoridades tomaram precauções como empilhar sacos de areia nas janelas ao lado do canal para impedir que a água entrasse novamente na cripta da igreja. O Departamento de Marés de Veneza informou que a maré atingiu o pico de 1,5 metro, menor que o previsto, de 1,6 m, graças a condições meteorológicas que impediram a chegada de ventos do sul do mar Adriático. Na terça-feira, Veneza sofreu as piores inundações em 53 anos, quando o nível da água chegou a 1,87 metro – a maré submergiu 80% da Veneza histórica, provocou a morte de uma pessoa de 70 anos e o afundamento de gôndolas e 'vaporetti', os barcos de transporte público. O pico recorde foi registrado em 4 de novembro de 1966, quando a maré chegou a 1,94 m. Interior de igreja inundado na cidade de Veneza neste domingo (17) Manuel Silvestri/Reuters Veneza recebe a cada ano 36 milhões de turistas, 90% deles estrangeiros. Os hotéis da cidade começaram a registrar cancelamentos nas reservas para as festas de fim de ano. A prefeitura de Veneza anunciou a abertura de uma conta bancária para doações, na Itália ou no exterior, que ajudarão nos trabalhos de reconstrução. "Veneza, lugar único, é patrimônio do todo o mundo. Graças a sua ajuda, a cidade brilhará de novo", afirmou o prefeito Luigi Brugnaro em um comunicado. Ele estimou em 1 bilhão de euros os prejuízos com as inundações. Na quinta-feira, o governo do primeiro-ministro Giuseppe Conte aprovou o estado de emergência em Veneza e anunciou a liberação de 20 milhões euros para as obras mais urgentes. O ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini, afirmou que as obras de reconstrução serão consideráveis. Ele disse que mais 50 igrejas foram danificadas. Comerciante em loja aberta entre várias fechadas em frente à Praça de São Marcos Manuel Silvestri/Reuters Aquecimento global e cruzeiros Para o ministro do Meio Ambiente, Sergio Costa, a fragilidade de Veneza aumentou em consequência do que ele chamou de "tropicalização" do clima, com chuvas intensas e rajadas de vento, vinculadas ao aquecimento global. Os ecologistas também atribuem responsabilidade à expansão do grande porto industrial de Marghera, perto de Veneza, e às viagens de cruzeiros gigantes. Muitos visitantes parecem não perceber o risco de afundamento na cidade, construída sobre 118 ilhas e ilhotas majoritariamente artificiais e sobre pilares. Em um século, a cidade afundou 30 cm no mar Adriático. Diversas autoridades pediram a conclusão o mais rápido possível do projeto de comportas Mose. Esse plano de engenharia, apresentado em 2003 mas adiado por escândalos de corrupção, consiste em 78 barragens que sobem e bloqueiam o acesso à lagoa em caso de maré alta de até três metros de altura. O primeiro-ministro Conte afirmou que o projeto está pronto "em 93% e será concluído na primavera de 2021"