JetSmart: fundada em 2017, empresa opera no Chile, na Argentina e no Peru (JetSmart/Divulgação)
Com passagens para voar do Rio de Janeiro a Buenos Aires por 1 real, a companhia argentina Flybondi fez neste mês sua entrada no mercado brasileiro. A promoção agressiva é puro marketing, claro, mas faz parte da estratégia das empresas de baixo custo de mostrar que o jogo mudou.
As companhias do segmento batizado de low-cost, low-fare (“baixo custo, baixa tarifa”, na tradução do inglês) esforçam-se para reduzir suas despesas fixas ao mínimo possível e colocam um preço básico pelo bilhete até 30% menor do que o oferecido pelas tradicionais, cobrando por extras que vão do check-in ao copo de café a bordo.
Até agora, além da Flybondi, três empresas de baixo custo foram autorizadas a operar no Brasil. A primeira a chegar foi a chilena Sky, em novembro de 2018. Em março, veio ainda a norueguesa Norwegian, ligando o Rio a Londres. Outra chilena, a JetSmart, começará a voar para o Brasil em março de 2020.
Há mais de 100 empresas do tipo low-cost no mundo, com uma frota que dobrou de tamanho em uma década e com 1,7 bilhão de passageiros transportados em 2018, segundo dados das consultorias de inteligência aérea OAG e Capa. O modelo é consolidado sobretudo na Europa, por meio de empresas como a irlandesa Ryanair e a britânica EasyJet. No Brasil, tornou-se possível após uma resolução de 2016 que permitiu cobrança pelo despacho de bagagem, transformada em lei neste ano.
Além da cobrança por serviços, as low-cost conseguem preços mais baixos ao operar em aeroportos mais baratos, focar em eficiência e ter aviões que rodam mais horas — na Flybondi, são 11 horas por dia, e na Sky, 12 horas, ante média de oito horas de empresas tradicionais. Pequenos detalhes fazem a diferença: os aviões ficam menos tempo parados entre um voo e outro, os voos são diretos, sem escalas, e a frota tem no máximo um ou dois modelos, para diminuir os custos com treinamento da equipe.
Enquanto as companhias de baixo custo fazem apenas trajetos internacionais, a conta pode até fechar. O próximo desafio é ganhar dinheiro no mercado doméstico brasileiro, uma barreira que as empresas ainda terão alguma dificuldade em superar. Por enquanto, ao operar apenas voos internacionais, as low-cost sul-americanas não precisam arcar com os custos de impostos e preços altos de combustível no mercado brasileiro.
A reportagem completa sobre as companhias aéreas low-cost, as possibilidades de uma operação no mercado doméstico e detalhes sobre como conseguem oferecer preços menores está na edição 1196 de EXAME, disponível na versão impressa e digital.
Os próprios consumidores ainda conhecem pouco as low-cost. Um estudo do buscador Viajala aponta que 70% dos consumidores ou nunca tinha ouvido falar do modelo low-cost, ou não entendia direito como ele funcionava. “O brasileiro ainda viaja pouco, então há um mercado a ser conquistado por essas companhias aéreas”, diz Eduardo Martins, diretor do buscador de voos Viajala no Brasil.
Quem são as mais baratas?
Baixo custo na operação não necessariamente significa que a passagem será baixa — fatores como a antecedência de compra ou a data da viagem podem afetar a precificação dinâmica usada pelas companhias, diz Martins. Na mesma classe de um avião, tanto nas low-cost como nas empresas tradicionais, viajam passageiros que compraram passagens a diferentes preços. Alguns podem ter se dado bem em alguma promoção, enquanto outros, que compraram o bilhete de última hora, podem ter pago o dobro.
Um levantamento feito pelo Viajala a pedido de EXAME em algumas das rotas operadas pelas low-cost mostrou que, de fato, na maioria dos destinos pesquisados em janeiro — um mês de alta temporada –, as novatas ofereceram os melhores preços. “Essas empresas ainda têm poucas datas de voos no Brasil e uma operação pequena, mas a tendência em alguns anos é aumentar a integração entre as cidades na América do Sul”, diz Martins.
Veja abaixo como se saiu cada empresa no comparativo, em trajetos de ida e volta e sem incluir eventuais serviços extras.*
Operação da Flybondi no Galeão: empresa estreou no Brasil em outubro
Operação da Flybondi no Galeão: empresa estreou no Brasil em outubro (André Valentim/Você S/A)
Flybondi (Galeão – Buenos Aires)
A Flybondi fez o primeiro voo no Rio de Janeiro em outubro. Para janeiro de 2020, a aérea argentina teve o melhor preço em 61% das rotas entre o aeroporto do Galeão e Buenos Aires analisadas — porém, em 30% das rotas, a Flybondi não teve o melhor preço sozinha, com preço igual ou similar ao de uma concorrente. Seu preço médio ficou acima do da brasileira Azul, a mais barata da rota no mês.
- Preço médio da Flybondi: 1.541 reais (o segundo melhor, atrás da Azul);
- Melhor preço médio do trecho: Azul, com preço médio de 1.492 reais;
- Preço médio geral do trecho: 2.005 reais;
- Passagem mais barata encontrada: Flybondi, a 1.394 reais.
Sky (Guarulhos – Santiago)
A Sky foi a primeira low-cost estrangeira a voar no Brasil, em novembro do ano passado. Para janeiro do ano que vem, a companhia chilena apresentou o melhor preço médio em 96% das rotas analisadas entre o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e Santiago, capital chilena.
- Preço médio da Sky: 1.312 reais (o melhor do trecho);
- Segundo melhor preço médio: Gol, com preço médio a 1.479 reais;
- Preço médio geral do trecho: 2.517 reais;
- Passagem mais barata encontrada: Sky, a 1.230 reais.
Norwegian (Galeão – Londres)
A norueguesa Norwegian fez em março deste ano seu primeiro voo no Brasil, ligando o aeroporto do Galeão, no Rio, a Londres. É a única low-cost europeia e a única que faz voos de longa distância no Brasil — trajetos mais longos vêm se tornando especialidade da companhia norueguesa. A Norwegian apresentou o melhor preço em 100% das viagens analisadas em janeiro de 2020. Mas o mês de janeiro, explica Martins, é de alta temporada e a viagem para Londres é especialmente cara nesse período, puxando o preço médio de todas as empresas para cima.
- Preço médio da Norwegian: 4.556 reais (o melhor do trecho);
- Segundo melhor preço médio: Gol, a 5.217 reais;
- Preço médio geral do trecho: 6.262 reais;
- Passagem mais barata encontrada: Norwegian, a 3.019 reais.
JetSmart (Guarulhos – Santiago)
A chilena só começa a operar em São Paulo em março do ano que vem, no aeroporto de Guarulhos. Assim, foram comparados os preços das passagens no mês de abril de 2020, primeiro mês completo de operação, mas que tem preços médios mais baratos do que em janeiro, mês usado no comparativo das outras companhias. A JetSmart teve o melhor preço em 79% das rotas analisadas em abril entre Guarulhos e Santiago.
- Preço médio da JetSmart: 1.068 reais (o melhor do trecho);
- Segundo melhor preço médio: Gol e Aerolíneas Argentinas, com preço médio a 1.300 reais;
- Preço médio geral do trecho: 2.353 reais;
- Menor preço da JetSmart: 969 reais;
- Passagem mais barata encontrada: Sky, a 781 reais (JetSmart e Sky voaram no mesmo dia em 21% das datas analisadas. Quando isso aconteceu, a Sky teve o melhor preço em todas as viagens).
*Os valores são absolutos, incluindo taxas obrigatórias, mas sem serviços extras eventualmente cobrados pelas companhias, como bagagem e comida a bordo. As empresas low-cost operam poucas datas por semana, de modo que as comparações foram feitas apenas para as datas em que elas estejam disponíveis (50 datas para Sky, JetSmart e Norwegian e 30 para a Flybondi). A busca pelos valores foi feita em 17 de outubro, e os preços podem ter sofrido alterações desde então.
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