Filipe Gonçalves
Nunca me interessei pelo hype criado pelos filmes de heróis, a marvel criou um universo ao longo dos anos e foram por meio de nossas memórias afetivas, seja pelos quadrinhos,ou pelos desenhos animados, mas realmente nunca me envolvi daquele jeito de querer ver os filmes nas estreias ou coisas do tipo, mas lógico, isso não não quer dizer que gostei ou não dos filmes.Já o universo da DC sempre foi meio estagnado, e teve aquele boom com a franquia Batman do Christopher Nolan, mas é claro você tá careca de saber,indo além no que se refere a esse personagem já houveram dezenas de adaptações do homem morcego e toda sua patota de antagonistas,nas telonas o que tem deixado as pessoas mais intrigadas seja lá por seu realismo e psicopatia, e toda a catarse e ostracismo, é lógico o icônico Coringa, com brilhantes atuações de Jack Nicholson ou de Heath Ledger, esqueça o quanto puder essas representações por mais grandiosas que sejam e simplesmente deixe sua mente aberta para uma nova experiência com o Coringa de joaquin phoenix.
O longa tem um tom diferente se permitindo ir bem mais além — aliás esqueça o terninho roxo clássico, aqui a direção se permite criar nos mínimos detalhes — embora seja a apresentação do personagem Arthur Fleck (e de outros também) tudo bem orgânico e extremamente maluco, em outras em encarnações ele é boa parte enchido de frases e completamente previsíveis e uma loucura meio moderada — claro,isso é justificável pela classificação indicativa — Joaquim é totalmente surtado, e nesses picos de contrassenso pratica as maiores atrocidades presentes em seu âmago.
O caminhar da história é bem interessante, hora dá prioridade para o andamento fluido dos acontecimento, adiante revela coisas que já parecem bem claras (o que torna o filme autoexplicativo demais? talvez) mas o geral a construção desse personagem é perfeita, lá no começo as risadas e as piadas parecem um tanto forçadas e desnecessárias, logo no segundo ato já mostra a que veio, todo o trabalho de composição do ator também deixa bem claro quais são as reais intenções de cada ponto. A relação com a mãe é normal até determinado ponto,e deixa em aberto muitas questões, a impressão é de que várias partes são puramente alucinações causadas pelo transtorno psicótico de Arthur, é como se ele criasse realidades alternativas para o que realmente aconteceu, a cenas com a Zazie Beetz deixa claro? sim, mas também deixa aberto cenas em que ele poderia ter criado situações para que justificar seus atos, como a cena que envolve Thomas Wayne demonstram que mesmo diante de uma “verdade” (com verdade quero dizer isso também pode algo inventado pelo próprio Wayne), mostram que mesmo diante disso Arthur tende acreditar só em sua versão e está disposto a fazer o que for preciso para sustentar, diante do que é nos colocado e refletindo que estamos sobre a ótica dele essas “ memórias” podem ser transcritas de modo a ressaltar seus dramas na intensidade em que sente.
Joaquin Phoenix é um dos melhores atores de Hollywood atualmente, não é de hoje que o ator entrega brilhantes interpretações e tem também um background tenso por trás de sua carreira, com a morte de seu irmão também ator River Phoenix,e claro está sempre aberto há algo novo em relação a cinema, como quando disse que encerraria sua carreira para se tornar um rapper mas na verdade estava rodando um documentário falso.O terceiro ato é tenso e onde o ator mostra suas melhores performances como um completo louco agindo sob sua natureza nefasta e catastrófica, ao mesmo tempo que consegue dar voz há um tipo de histeria coletiva disposta a modificar os rumos da sociedade baseado na loucura e na destruição dos valores vigentes. Sem peso nenhum na consciência declaro que é a melhor representação do Coringa no cinema, seja por mostrar algum tipo de racionalidade na loucura, por ser subversivo e ousado, tomando vários caminhos fora da curva, seja no roteiro, seja no filme como todo.
A história é bem capa e espada, Arthur trabalha em uma agência de palhaços que faz todo tipo de apresentação, ele além de cuidar da mãe tem o sonho de ir bem mais além em sua carreira e ser um comediante respeitado como seu maior ídolo Murray Franklin (Robert De Niro) que dá um show nas pequenas cenas em que aparece — diga se de passagem brilhante ideia de deixar o coringa brilhar com muito tempo de tela,o Joaquin Phoenix se debulhar no personagem — um dos grande acertos desse roteiro concebido por Todd Phillips,Scott Silver é não focar nessa escalada na comédia e sim mostrar que o palco que Arthur procura é no meio do caos e o frenesi, que além de tudo entrega brilhantes planos e uma composição de cores de tirar o fôlego deixando evidente a decadência de Gotham,e sem parar muito nessa ideia dos anos 1980 que é uma decisão acertadíssima. Para o fã mais xiita esses novos ares podem soar com um desprezo pelo o que já foi feito, mas é só dar uma breve olhada com mais carinho para perceber diversas referências aos Coringas anteriores, mas como salienta no início permita-se ao novo também que com certeza será uma grande surpresa.