Algumas pessoas realmente compreendem o profundo estado que é viver e conviver com tudo aquilo que temos dentro de nós mesmos, recentemente vi o mais novo filme do diretor Ari Aster, que compõe suas histórias de forma meticulosa tanto que dá impressão que escreve seu roteiro a maneira que sente, mesmo que se levem anos. Midsommar seu mais novo filme conta história de jovens que buscam conhecer um certo culto que se desenvolve em torno de uma cultura muito peculiar, mas que também passa aqueles ares de quem vêm de fora sempre será bem aceito para participar e compartilhar com os que ali vivem. A composição dos personagens logo no primeiro ato mostra o que cada um está fazendo para os preparativos da viagem para a Suécia, e de forma extremamente sutil o que cada um guarda para si e almeja nessa nova e louca jornada.
Com rimas visuais bem criativas — diga se de passagem uma das grandes virtudes desse diretor é criar coisas novas em cima do que já existe no subconsciente de cada um para subverter em seguida — o longa toma os caminhos deixando toda a movimentação do festival de forma orgânica, mas também coloca elementos do bizarro sem quebrar o clímax já criado.O que permeia boa parte das inseguranças da protagonista é um desastre familiar que ela leva por boa parte do filme, e o roteiro evidencia para nos deixar perturbados e fazendo com que nos coloquemos nessa situações, e aqui começam aquelas questões éticas para nós que estamos vendo e compactuando com os eventos relatados no filme, seja por meio de omissão de ajuda, seja por nos colocar em estados de desespero constante, ou algumas das vezes que não medimos as consequências de onde nos metemos, seja por uma experiência ou relacionamento que passam bem longe do nível saudável para algo que é mera necessidade ou capricho,e isso fica bem evidenciado depois que o diretor revelou que concebeu o roteiro depois do término de um relacionamento complicado. O grupo de pessoas logo mostra os costumes bem estranhos, que são poucos justificáveis por parte dos que se mostravam mais compreensíveis no começo, o elenco é muito competente principalmente a Dani (Florence Pugh) que está completamente entregue aquela realidade e em algumas cenas são bem desconfortáveis em uma ocasião ela tem uma descoberta com alucinógenos que acaba culminando em uma “bad Trip” o diretor mostra isso de forma crua, mas o mérito do espectador sentir com mais intensidade são todos da Florence.
O fator (dependência) também é bastante tratado aqui, seja dos casais ou dos recrutas para os ritual o que também não fica bem claro o propósito, mas essa é uma daquelas perguntas que não necessariamente precisam de resposta. O filme tem um tom de que a mensagem é que as pessoas ficam boa parte de suas vidas em convenções sociais — os nativos em algumas partes do ritual tem uma espécie de respirar profundo que pode ser encarado como uma espécie de ”enfim sentir a vida” em seus corpos depois de longos anos usando as mascaras sociais — Dani é um tanto dispersa sob os eventos, mas logo o roteiro vai deixando pistas de que há um certo interesse de um personagem em relação ao seu passado, e o que será de seu futuro perante aos novos acontecimentos. No terceiro Ato temos os elementos do estranho mais presente, porém contidos, os que têm mais enfoque são as reflexões sobre como percebemos os costumes alheios com mais profundidade enquanto esquecemos de nos perceber.O filme é uma alegoria aos demônios que tanto achamos que são as causas de nosso sofrimento interno mas na verdade é um convite para fazer parte de nós como um fortalecimento pessoal, que caminha junto com as estranhezas e tudo aquilo que temos de bom, Ari Aster tem visão bem particular para misturar elementos do terror e trabalhar a sua linguagem sem deixar cansativo, ou perder o controle, pelo contrário se é uma coisa que essa cara tem é controle de tudo em seu filme, os elementos e simbolismos que vão sendo criados trazendo esse misto de reflexão com estranheza que no fim pode ser interpretado de forma subjetiva pelo o que cada um tira dessa experiência.