A criação de Unidade de Atendimento Pediátrico em Campo Grande foi debatida na manhã desta quarta-feira (10), durante Audiência Pública na Câmara Municipal. A discussão foi proposta pelo vereador Junior Longo e convocada pela Comissão Permanente de Saúde da Casa de Leis. Uma das proposições é que além das unidades de saúde, a população possa dispor de um local específico onde terá a certeza de encontrar especialistas e já realizar os exames que necessita para atendimento da criança. Representantes das secretarias municipal e estadual de Saúde, Conselho de Saúde, Ministério Público, pediatras, mães e pais participaram da discussão com os vereadores.
O drama do número insuficiente de pediatras para fechar as escalas nas Unidades de Pronto Atendimento Médico (UPAs) faz com que pais e mães tenham de percorrer unidades de diferentes regiões em busca de especialistas. O vereador Junior Longo ressaltou a importância de uma solução a curto prazo para que os pacientes não tenham de passar por tantos transtornos. “Queremos levantar essa discussão. Não queremos deixar de ter pediatras nas unidades, mas saber que a população poderá contar com um local especializado para esse atendimento, com especialistas e estrutura para exames necessários”, afirmou.
Hoje, como foi confirmado pela Sesau, a UPA do bairro Coronel Antonino, na região norte de Campo Grande, é a que tem as escalas mais completas da pediatria. Porém, algumas falhas ainda ocorrem, a exemplo do domingo à tarde, quando geralmente não há especialistas no local. Longo falou da dificuldade de pais deslocarem-se até essa UPA, distante de muitos bairros da cidade, e propôs que, ao menos, haja uma outra Unidade como referência com escala completa em outro ponto da cidade.
“Não podemos deixar como está. Defendo a instalação de um lugar, onde a criança terá os especialistas, o acolhimento e atendimento diferenciado. Precisaríamos na rede de 800 pediatras na estrutura atual. Não vamos chegar a isso. Por isso, temos que direcionar para evitar pais rodando pela cidade em busca de atendimento”, disse vereador Junior Longo.
Essa dificuldade já foi enfrentada por Michele Aparecida Oliveira, quando a filha de 5 anos teve convulsões enquanto estava com febre. “Passei por três unidades e tive de esperar das 11h às 17h no Coronel Antonino para febre baixar. Se não tivesse carro, imagino que poderia ter acontecido. E o pai que depende de ônibus, chega onde pediatra está escalado e não consegue atendimento? Ficaria mais segura de saber que ia até um lugar onde poderia encontrar esse profissional”, disse. Luise Arruda Araújo Silva também passou por esse drama quando não encontrou pediatra na UPA da Vila Almeida e retornou para casa sem que a filha passasse por especialista. “Se tivermos Centro Especializado, esse cuidado será mais minucioso”, afirmou.
Desafios e encaminhamentos
O secretário municipal de Saúde, José Mauro Pinto de Castro Filho, apresentou encaminhamentos que já estão sendo feitos para tentar melhorar o atendimento da rede de pediatria em Campo Grande. Dentre eles, está em andamento concurso com 60 vagas de médicos pediatras. “Com essas vagas, pretendemos completar as escalas das UPAs existentes”, disse. Ele também ressaltou que a Sesau está planejando formalizar parceria com hospitais privados para ampliar os atendimentos, com mais profissionais e leitos.
O desafio é ainda habilitar as unidades para garantir financiamento pelo Ministério da Saúde. Das 10 UPAs, por exemplo, apenas seis são habilitadas e quatro ainda estão credenciadas como Centros Regionais de Saúde (CRSs), não recebendo esses recursos. Há ainda a proposta da prefeitura para criação de Hospital Municipal, que foi levada ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mas ainda em fase de negociação.
Médico com mais de 30 anos de carreira, o vereador Dr. Wilson Sami também acredita que a centralização do atendimento pediátrico possa ser uma alternativa. “Quando o médico solicita um raio-x, um hemograma precisa do exame na hora. Precisamos ter pediatra em todas as unidades de saúde, trabalhar a prevenção e podemos centralizar o atendimento de urgência. Temos que colocar em prática as mudanças porque da forma como está acontecendo, não está dando certo”, disse. Ele acrescentou ainda a importância de plano de cargos e carreiras para valorizar os profissionais e incentivar a buscarem a rede pública.
O vereador Dr. Cury lembrou que em todo País faltam pediatras. “Quando fui presidente da Sociedade de Pediatria, há 15 anos, já estávamos discutindo esse problema, prevendo o caos que poderia ocorrer”, afirmou. Ele acrescentou que até mesmo nos hospitais particulares da Capital há dificuldade para fechar as escalas. Dr. Cury também ressaltou a importância da prevenção.
O Centro Pediátrico, que chegou a funcionar na Avenida Afonso Pena, também foi lembrado durante a Audiência, como um modelo que teve aprovação da população. Houve impasse em relação ao contrato e o local acabou fechado, resultando em questionamentos judiciais. O vereador Dr. Cury, porém, falou de algumas falhas que existiam em relação a falta de alvará dos bombeiros por existir apenas uma porta de saída e tomógrafo que não funcionava.
O médico da Apae, Paulo Siufi, recordou que a satisfação do atendimento no Centro Pediátrico era de 99% e também enfatizou a importância de atendimento em local específico. “Na chegada tinha brinquedoteca. Precisamos de lugar humanizado. Hoje no mesmo lugar em que chega um esfaqueado está lá a mãe com criança que vai ser atendida”, afirmou. Ele sugeriu que o Ministério da Saúde avalie a possibilidade de UPA Pediátrico e também falou da importância de remuneração diferenciada aos pediatras.
Centralização
A promotora de Justiça Filomena Fluminhan afirmou que, apesar da preconização do Ministério da Saúde para descentralização do atendimento, sabe-se que não é possível manter pediatras em todas as escalas nas 10 UPAs. Por isso, o Ministério Público Estadual está aberto a essa proposta de centralizar para garantir essa melhoria aos pacientes. “Para que dez portas de entrada sem resolutividade?”, afirmou.
A promotora trouxe a reflexão sobre as várias necessidades existentes na área da saúde, apesar dos recursos finitos. “O Ministério Público tem trabalhado em relação a essas deficiências. Ingressamos com dez ações judiciais que preveem regularização de pediatras nas UPAs e CRSs. Juízes concederam liminares, a maioria já confirmada pelo Tribunal de Justiça”, afirmou. As liminares, porém, estão sendo descumpridas por conta das dificuldades financeiras da administração municipal. “É um tema emblemático. A médio prazo, o Hospital Municipal seria solução. Mas, hoje temos dificuldade em lotar pediatras nas escalas de 10 unidades. Em outras capitais, a exemplo de Curitiba, temos menos unidades”, argumentou.
A diretora do Conselho Municipal de Saúde, Maria Auxiliadora, falou da preocupação com a descentralização, em facilitar a proximidade do médico com a casa do paciente. “Queremos participar dessa discussão para buscar o melhor caminho, pensando no que for melhorar para atendimento ao usuário”, disse.
A vereadora Enfermeira Cida Amaral disse que “a pediatria é o futuro do País e o atendimento precisa ser revisto”. Ele defende a necessidade de Hospital Pediátrico. “Temos que descentralizar, precisamos de um programa dar resolutividade. Falta pediatra, mas temos empenho secretário resolver”, afirmou.
O vereador Ademir Santana enfatizou que Campo Grande precisa do Hospital Municipal. “Hoje 36% do orçamento da prefeitura de Campo Grande está investido na saúde e está dessa forma. Sou da opinião: Hospital Municipal já!”, recordando de abaixo assinado feito para sensibilizar o prefeito a essa proposta. Ainda, o vereador iniciou discussão com secretário de Saúde para atendimento com médicos cadastrados no sistema.
Fonte: Assessoria da Câmara Municipal