“Eu falo pra todo mundo: eu sou um agricultor que planto a cultura. Só que a cultura a gente não planta pra gente colher, a gente planta pras gerações futuras”. A frase é de Cláudio Ferreira de Sousa, de 49 anos, conhecido em Alter do Chão, no Pará, por Leopardo ou Capoeira. Mestre especializado na produção de tambores usados no carimbó, Sousa foi um dos vencedores do Prêmio Culturas Populares em 2018. A iniciativa, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania, visa estimular e valorizar as mais diversas expressões culturais do País. As inscrições para a edição deste ano do prêmio estão abertas até 16 de agosto. Saiba mais.
Natural de Rio Branco, no Acre, Leopardo mudou-se há 16 anos para o Pará, onde, nos últimos cinco anos, se destacou com a produção dos tambores de carimbó. O nome vem de curimbó, expressão em tupi para um instrumento longo de percussão. Produzido com um tronco oco de pupunha e couro de cabra, o instrumento estava caindo no esquecimento da população local. “Com o avanço da tecnologia e com a proximidade que temos de Manaus (AM), a cultura do carimbó em si, a tradicional, estava muito esquecida na minha região”, conta. “Então eu fui no mato, peguei matéria-prima e fiz sete tambores de carimbó. Foi uma revolução. Desses tambores surgiram vários grupos e o carimbó começou a ser fomentado por aqui”, relata orgulhoso.
Segundo Leopardo, os tambores de carimbó não são fáceis de produzir. “Por isso, essa cultura estava praticamente esquecida. O material a gente acha dentro da mata, aí a gente corta, tem todo um ritual, o transporte, às vezes, é por água, às vezes é por terra. Então é muito dificultoso para fazer”, explica.
Leopardo conta que, com os R$ 20 mil que ganhou na edição 2018 do Prêmio Culturas Populares, foi possível melhorar a oficina de trabalho, onde também funciona o Centro Cultural Banzeiro, comprar instrumentos, som, microfones e autofalantes e criar o grupo Banzeiros de Carimbó. “Como eu tenho um carrinho, comprei um reboque para levar os tambores para o show, para buscar e fazer novos tambores na mata. Esse prêmio foi tudo de bom que aconteceu para o trabalho do carimbó nesta região”, elogia.
Segundo o mestre, a retomada do carimbó movimentou a cultura de Alter do Chão. “Aqui era muito parado. E agora, muitas vezes estou em casa e escuto tambor tocando. Aí eu digo: olha só que coisa linda! A cultura está acontecendo”, relata, rindo e emocionado. “Agora nós estamos em todo canto, toda semana a gente apresenta num canto, apresenta em outro, tem oficina permanente aqui no Centro Cultural de Carimbó, de dança e tudo mantido por nós mesmos”, conta.
Muito popular na região amazônica, o carimbó é um ritmo musical e também um gênero de dança de roda de origem indígena, criado no século XVII no Pará. Assim como diversas outras manifestações culturais brasileiras, miscigenou-se, recebendo influências, principalmente da cultura negra. Sofreu repressão por séculos, chegando a ser proibido em Belém com base em uma lei promulgada em 1880. Nas últimas décadas, ressurgiu como música regional e como matriz tradicional de gêneros contemporâneos, como a lambada e o tecnobrega. Em 2014, foi registrado como patrimônio cultural imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Ministério da Cidadania.
Sobre o Prêmio Culturas Populares
Na edição deste ano, que homenageia o cantor gaúcho Vítor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, 150 prêmios serão destinados a iniciativas de mestres e mestras da cultura popular, 90 a pessoas jurídicas sem fins lucrativos com finalidade ou natureza cultural já reconhecidas como Pontos de Cultura ou cadastradas na Plataforma Rede Cultura Viva e 10 a pessoas jurídicas com ações comprovadas em acessibilidade cultural, também reconhecidas como Pontos de Cultura ou cadastradas na Plataforma Rede Cultura Viva. Serão 50 premiados de cada região do Brasil e cada um vai receber R$ 20 mil.
Criado em 2007, o Prêmio Culturas Populares já teve seis edições, com cerca de 11 mil inscrições e 2.045 mestres, grupos e entidades sem fins lucrativos premiados, com um total de R$ 28,75 milhões. A premiação ficou suspensa entre 2013 e 2016, tendo sido retomada em 2017. No ano passado, foram agraciadas 129 iniciativas da Região Nordeste, 123 da Sudeste, 99 da Sul, 98 da Norte e 51 da Centro-Oeste.
Bruno Romeo
Assessoria de Comunicação
Secretaria Especial da Cultura
Ministério da Cidadania