O projeto Biblioagrorural, da Biblioteca Pública Municipal Desembargador Wilson de Jesus Marques da Silva, no município de Tomé-Açu, no Pará, é um exemplo de integração entre equipamentos culturais e a geração de cidadania. Por meio do ensino de técnicas sustentáveis de manejo de terra com uso adequado de adubos orgânicos, a iniciativa capacitou agricultores locais, contribuiu para a preservação do meio ambiente, para a saúde da população local e para a economia da cidade.
Tomé-Açu foi um dos primeiros municípios da Amazônia a receber imigrantes japoneses. Dedicados ao cultivo da terra e aproveitando o saber dos povos ribeirinhos, a comunidade nipônica local, a terceira maior no Brasil, desenvolveu uma agricultura de ponta, voltada à exportação de pimenta-do-reino, açaí e cacau. Tudo isso produzido com técnicas da consorciação – plantação conjunta de diferentes culturas e cujo ciclo de produção é distinto. Outro diferencial implantado pelos imigrantes é o sistema agroflorestal, que combina as plantações com a mata existente, o que evita o desmatamento. Toda a produção é adquirida por uma cooperativa dos próprios agricultores, que exporta para o Japão, países da Europa e os Estados Unidos.
Só que, durante muito tempo, os pequenos produtores rurais, naturais da região, ficaram ao largo desse desenvolvimento. E, além disso, a alta produtividade e qualidade dos produtos das grandes fazendas pertencentes aos imigrantes encareceu o valor de verduras e hortaliças na região. Com isso, os pequenos agricultores ficaram pressionados e começaram a fazer uso de agrotóxicos para acelerar e baratear o cultivo. De acordo com a Secretaria de Saúde local, o uso constante de pesticidas elevou os índices de câncer de estômago na região.
Capacitar é a solução
Foi aí que a Biblioteca Municipal entrou em ação. Como parte do programa Conecta da ONG Recode, a coordenadora da biblioteca local, Elanir Fernandes Cardoso, criou o projeto Biblioagrorural, para capacitar os pequenos produtores e ensiná-los a produzir alimentos sem o uso de agrotóxicos e de forma barata. “Quando fizemos a pesquisa com a população da cidade, de acordo com as normas do programa Conecta, descobrimos a necessidade de oferecer cursos profissionalizantes”, disse Elanir.
Assim, em agosto de 2018, a biblioteca organizou as oficinas. A primeira, curso básico de Olericultura Sustentável (Hortaliças e Agrotóxicos naturais), ofereceu noções de sustentabilidade e técnicas desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a produção orgânica, compostagem e plantio direto. Na segunda, curso sobre Agricultura de Baixo Carbono, foram ensinados manejo sustentável, redução de gases do efeito estufa, boas práticas para uso dos equipamentos de proteção individuais e reflorestamento por meio do sistemas agroflorestais.
“Por meio do ciclo de palestras e oficinas de manejo sustentável, o projeto estimulou os jovens das zonas rurais a se aprofundarem nos conhecimentos e técnicas com o uso adequado de adubos orgânicos e, com isso, auxiliou os mais velhos a utilizarem as práticas corretas de cultivo”, afirma Elanir.
Os resultados já são evidentes. Além de fazer uma horta ao lado da biblioteca, os pequenos agricultores iniciaram suas próprias plantações. “Já foram feitas as primeiras colheitas, já venderam os primeiros produtos na feira. Foi maravilhoso”, diz a coordenadora.
Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas
O Ministério da Cidadania é, atualmente, responsável pelo Sistema Nacional de Bibliotecas (SNBP). Criado em 1992, tem como objetivo proporcionar à população bibliotecas públicas que favoreçam o hábito da leitura e estimulem a comunidade a acompanhar o desenvolvimento sociocultural do País.
“É próprio da constituição das bibliotecas trabalharem em cooperação com as comunidades. Isso porque, na verdade, facilita o trabalho de todo mundo, a troca de informações, o intercâmbio de experiências, de profissionais”, destaca Ana Maria da Costa Souza, coordenadora do SNBP.
Atualmente, o País está na presidência do Programa Iberoamericano de Bibliotecas Públicas, o Iberbibliotecas, que também vem trabalhando com foco no desenvolvimento sustentável. “O Iberbibliotecas tem como foco a agenda do desenvolvimento sustentável, oferecendo cursos de capacitação e editais de ajuda para as bibliotecas que desenvolvam projetos nessa linha e, concomitantemente, intercambiando com outros países as informações e projetos bem-sucedidos, por meio de assistências técnicas”, destaca a coordenadora.
Para Elanir, a biblioteca precisar ir além dos serviços regulares que presta à comunidade. “A gente verificou a necessidade de construir um novo modelo de biblioteca pública. Não só apoiar a tradição oral, escrita e assegurar o acesso do cidadão a todos os tipos de informação, mas também para a geração de renda, de emprego, de empreendedorismo. É nosso papel promover políticas orientadas para o desenvolvimento da nossa comunidade”, conclui.
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