Já se passaram cinco anos desde a última vez que a russa Alexandra Surina, de 30 anos, pisou em terras brasileiras. Ainda assim, o tempo não apagou a ligação com a nossa cultura, pelo contrário, as fotografias, cartas, memórias e experiências vividas ao lado dos alunos do projeto Asas do Futuro, aqui em Campo Grande, levadas na mala viraram sementes que hoje se espalham por Moscou com letras, ritmo e gingado no pé.
Alexandra passou cerca de dois meses por aqui, o objetivo era aprender na prática a língua que já estudava há alguns anos, o Português. Na época, escolheu Mato Grosso do Sul para participar de um projeto de intercâmbio social, em que ensinava Inglês para as crianças atendidas pela organização não governamental Asas do Futuro, no Parque do Lageado.
O destino escolhido veio do desejo de ver de perto a cultura brasileira sem interferências estrangeiras, o centro-oeste pareceu o lugar perfeito. A maior parte do que viveu por aqui, Alexandra conta já ter visto em novelas como Mulheres de areia, A Escrava Isaura, A próxima vítima, Esperança, Senhora do destino e principalmente O Clone, uma das mais populares por lá. O que, de acordo com ela, até hoje desperta o interesse de curiosos que fazem perguntas sobre o Brasil baseados, não só nas aventuras dela por aqui, como também nas ideias “vendidas” pela televisão.
Além das novelas, a russa também teve influência da escola de música em que estudou durante a infância. Por lá, ela participou do “Samba clube”, projeto em que os alunos eram ensinados a cantar e tocar samba, pagode e até forró.
Com os dias contados por aqui, os dias foram divididos entre as aulas na ONG e os passeios turísticos, com roteiro que incluiu desde museu, barzinhos, bailes de forró, sertanejo e até alguns dias em Bonito. Mesmo assim, a imersão não teria sido completa sem a influência dos alunos, principais “culpados” pelo fascínio da russa pelo samba.
A oportunidade de continuar experimentando um pouquinho do ritmo brasileiro só apareceu em setembro do ano passado, mas Alexandra não deixou passar. Atualmente, além da companhia de dança liderada por uma professora brasileira, ela também faz parte da escola Samba Real, uma das maiores de Moscou, o grupo participa de quase todos os festivais e carnavais, incluindo no Rio de Janeiro. Também são os responsáveis por organizar o carnaval de rua na capital russa.
“Como bateria tocamos muito durante o nosso verão, por exemplo durante maratonas para os competidores, tocamos nas ruas durante vários festivais e eventos mais comuns no verão. Às vezes durante inverno também tocamos nas ruas, por exemplo este ano no dia 31 de dezembro tocamos na rua e temperatura era -10, -12 graus”, relata.
Recentemente, o grupo participou do Moscovo Samba Festival, que já está em sua 6º edição. Além do “Samba real”, escolas de outras cidades como São Petersburgo, Arkhanguelsk, Kostroma e Samara também se juntaram à festa de rua.
Além dos festivais, Alexandra também se apresenta em português com a banda formada pelos mesmos integrantes da escola de samba, em shows feitos em clubes com entrada gratuita e muita música brasileira. Por ali, o público costuma cair da pista de dança, seja para aprender os primeiros passos ou matar a saudade de casa, ainda assim, ela ressalta que a maioria das pessoas que aparece são russas. “Aqui a cultura brasileira é muito popular, especialmente samba e capoeira”.