Com poesias em meio ao verde. A sensibilidade que vem das placas, parece sair do olhar e do sorriso de dona Celanira Gomes de Oliveira, de 62 anos, proprietária da área de 16 hectares que abriga a “Trilha do Agrião”. No meio da semana, ela abriu as portas de sua residência para uma visita guiada, cheia de histórias e belezas naturais, mas que revelou também seu amor pelas cores e decoração afetiva que transforma cada cantinho.
Na propriedade, a única casa de alvenaria completou 88 anos de história. Foi construída pelo avô do marido, no pé de um morro próximo a MS-010, em Campo Grande. Quando casou, há 44 anos, viveu pouco tempo no meio da cidade até se mudar de vez com Carlos para “o meio do mato”, diz.
De lá pra cá, apenas uma varanda e uma cozinha externa foram transformadas. O restante da casa se mantém com a arquitetura original, especialmente as portas e janelas, de madeira, feita pelo próprio avô. Em tantos anos de existência, ela propaga que a casa proporciona calma e alegria em meio a natureza. “É simples, mas é da gente. É uma casa que sempre nos acolheu muito bem e todo mundo que chega aqui fica apaixonado, não sei se pela história ou pela antiguidade”, diz Celanira.
Mas o que nos chamou atenção mesmo foi a infinidade de cores por todos os lados, não só nas janelas e portas azuis, mas a varanda verde que também passeia pelo amarelo, marrom e tons amadeirados.
A decoração da casa é toda feita por Celanira, quase diariamente. Com uma nova pintura, crochê, retalhos, esculturas e até materiais recicláveis, ela transforma paredes por todos os lados.
As cortininhas de crochê dão aquela sensação de entrar em uma casa bem interiorana. Já os quadros posicionados na parede, lotados de frases, são o momento mais reflexivo da visita. É possível passar longos minutos lendo cada uma das frases e também poesias criadas pela proprietária. “São coisas que saem da minha cabeça, que eu vou pensando e refletindo”.
Alguns quadros e elementos decorativos trazem em sua composição uma mistura de texturas, como tinta e crochê. Mas o ponto alto da decoração e o que desperta olhares de quase todo mundo são as paredes revestidas de coadores de café.
Depois de servir muito café quentinho as visitas, um dia Celanira decidiu reaproveitar cada papel desperdiçado. “Não queria jogar tudo aquilo no lixo. E acabei aprendendo como reaproveitar”.
Depois que o café é coado, os papeis são guardados até secar. Basta retirar o excesso de pó e depois colá-los na parede ou recipientes com uma cola adequada. No caso de Celanira, os coadores foram parar na cozinha e até no quarto. “Eu achei bonito, dá um efeito bem rústico”.
Já o marido adora um mobiliário em madeira, inclusive, bem ao lado de casa, ele mantém uma marcenaria só para fazer os próprios móveis e acessórios em madeira, tudo com madeira reaproveita de árvores que caem naturalmente ao longo do tempo pelo vento forte ou chuva.
Os antigos donos da casa amavam a estrutura antiga, então acabou herdando o gosto pela preservação da arquitetura original e, hoje, seu único desejo é intervir na casa com arte, deixando-a mais colorida e alegre.
Inspiração curiosa – Mas esse talento para os trabalhos manuais não começou por acaso, uma história um tanto conturbada permeia o despertar de Celanira para as cores. Há cerca de 15 anos, ela passou a dormir o tormento de um zumbido no ouvido esquerdo. No começo, o som que ela escutava ninguém mais ouvia.
Não havia dor e tampouco a sensação física de algo pulsando, mas ao longo do tempo, até o marido, ao encostar no ouvido da esposa, conseguia sentir o barulho. “Foram inúmeros médicos em busca de um diagnóstico, mas a gente não conseguia descobrir o problema. Com o tempo aquilo foi incomodando cada vez mais e fui me sentindo desorientada”.
Fonte: Campo Grande News