Zeca Baleiro é compositor prolífico que por vezes soa prolixo. Lançado em CD e em edição digital neste mês de maio pelo selo independente do artista maranhense, Saravá Discos, o primeiro volume do 10º álbum solo do cantor, O amor no caos, aponta vícios e virtudes do compositor.
“Todo super-homem tem seu dia de Clark Kent”, resigna-se Baleiro no verso que arremata a música alocada na abertura do disco, Todo super-homem (Zeca Baleiro), talvez já sinalizando inconscientemente um álbum normal, correto, mas sem o poder encantador de um super-herói.
Verdade seja dita: os três bons singles que precederam a edição do álbum O amor no caos 1 – Te amei ali (Roberto Frejat e Zeca Baleiro), Por minha rua (Dany Lopez e Zeca Baleiro) e Ela nunca diz (Zeca Baleiro) – indicaram que o pulso do compositor ainda pulsa.
Só que nem sempre o pulso é forte. Ouvido na sequência das 11 faixas, o álbum evolui sem de fato empolgar ou sobressair na discografia do cantor, iniciada há 22 anos com o álbum Por onde andará Stephan Fry?(1997).
A canção Te amei ali – composta pelo artista com Frejat e valorizada pelo arranjo de metais orquestrados pelo pianista Adriano Magoo com sopro de soul – é uma das poucas músicas realmente inspiradas da safra atual de Baleiro.
Parceria de Baleiro com o uruguaio Dany Lopez, a canção Por minha ruatambém se impõe pelo tom melodioso realçado pelas cordas arranjadas pelo mesmo Adriano Magoo.
Embora flua bem, Ela nunca diz já deixa entrever certa repetição no estilo da narrativa cinematográfica que perfila personagem feminina com espirituosidade que já foi maior na obra do compositor, cujo habitual jogo de palavras também soa déjà-vu em alguns versos da letra de Outra canção do exílio (Zeca Baleiro), última das 11 músicas do álbum.
Talvez pelo fato de as três melhores faixas já terem sido previamente apresentadas em singles, a audição de O amor no caos soa como anticlímax. A poesia das letras vibra mais do que as músicas, como sinaliza a temperatura amena de Dia quente (Zeca Baleiro e Joãozinho Gomes).
Cantada por Baleiro em dueto com Ana A. Duártti, Balada do amor em chamas (Zeca Baleiro e Celso Borges) jamais arde, permanecendo em fogo brando de clima primaveril. Pela milésima vez (Paulinho Moska e Zeca Baleiro, 2018) já tinha se mostrado sem fôlego na gravação original feita pelo parceiro Moska para o álbum Beleza e medo (2018).
Levada na cadência do reggae, Saudade dá (Zeca Baleiro) dá saudade de temas mais sedutores do gênero. Nem mesmo a primeira parceria de Baleiro com o rapper Rincon Sapiência – O linchador, música composta com a adesão de Fernando Abreu – chega a bater forte com letra de tom social que fica dissociado da temática amorosa do álbum.