Iniciado gradativamente em fins dos anos 1960, o processo de eletrificação pop da música sertaneja precedeu período em que as duplas do gênero ainda ecoavam um som regional, vindo das zonas rurais, e faziam música adequadamente rotulada como caipira sem teor pejorativo.
Esse som chegava em algumas capitais através do rádio, exalando nostalgia para a população que migrara do campo para a cidade em busca de melhores oportunidades profissionais.
Foi nesse contexto que floresceu a obra da dupla Liu & Léu, formada em 1957 por dois irmãos paulistas de Itajobi (SP). A dupla já tinha saído de cena há sete anos com a morte de Lincoln Paulino da Costa (6 de agosto de 1939 – 5 de agosto de 2012), o Liu.
Ocorrida na noite de ontem, a morte de Walter Paulino da Costa (2 de abril de 1942 – 16 de maio de 2019), o Léu, faz com que a dupla passe a ser definitivamente um verbete saudoso na enciclopédia da música sertaneja.
Liu & Léu lançaram o primeiro disco em 1959 – ano em que tiveram a primazia de apresentar Boiadeiro errante (Teddy Vieira, 1959), música que se tornaria um clássico do universo sertanejo e que seria regravada por várias duplas e cantores do gênero – e viveram o auge artístico na década de 1960.
Os irmãos gravaram regularmente ao longo dos anos 1970, mas Liu & Léu perderam força no mercado fonográfico a partir da segunda metade dos anos 1980 – década em que começou a se impor paulatinamente nas paradas sertanejas uma música melodramática, derivada do cancioneiro sentimental de cantores urbanos e já distanciada das origens caipiras.
Ainda assim, contaram com o próprio selo, Tocantins, criado em 1978 e desativado em 1992, para gravar repertório fiel à essência caipira da dupla.
Liu & Léu seguiram juntos até 2012, nos rincões e nichos do Brasil onde ainda havia quem quisesse ouvir a música caipira personificada em modas de viola, arrasta-pés e guarânias como O ipê e o prisioneiro (Ipê florido) (José Fortuna e Paraíso), música gravada pelos irmãos em 1983.
Com a morte de Léu, a dupla passa a simbolizar nostalgicamente uma era em que a música sertaneja ainda não tinha se amalgamado com o pop urbano, preservando as chamadas raízes. É sobre essas raízes que está fincada a obra orgulhosamente caipira de Liu & Léu.
Fonte: G1