Mesmo vistas de perto, é necessária a explicação do toque para entender que a imagem de encher os olhos é uma reprodução.
Delicadas e de textura leve, pétalas moldadas em açúcar e cores traduzem a beleza das flores nas imperfeições dos detalhes. Mesmo vistas de perto, é necessária a explicação do toque para entender que a imagem de encher os olhos é uma reprodução.
A artista é Viviane Vieira, de 35 anos, que transformou o encanto pelas flores em negócio, criando bolos fake, peça central de qualquer decoração, seja em um casamento ou festa infantil.“Comestíveis, mas não comíveis”, as pétalas são trabalhadas em uma massa especial feita de açúcar e corantes preparados pela própria artista, que apesar do material e da aparência, faz das flores muito “doces e duras”, pouco agradáveis ao paladar, mas adoráveis ao olhar.
O amor pelas flores vêm desde muito antes de Viviane sequer pensar em transformar o hobby em trabalho. “Estudante informal” de botânica, ela sempre foi atraída pela delicadeza da natureza. Interesse marcado pela pintura, ainda na adolescência e que apenas que há quatro anos, ganhou dimensões em “3D”. Colecionando espécies que encontra pelas ruas, supermercados e floriculturas, o estudo começa pela observação das pétalas que leva para casa. Durante o processo, ela desmembra cada camada, recriando primeiro em desenho e depois em moldes de silicone, até ser capaz de reproduzir “flores que não apenas lembram as originais, mas que trouxessem a magia da realidade”.
Coletada às margens do córrego, até a flor de paineira tão comum ao dia-a-dia do campo-grandense, virou arranjo em bolo de casamento cheio de referências à flora regional. Reproduzidas em branco, as pétalas estão adornadas por ramos de “pata de vaca”, planta simples que passou a integrar a decoração, com folhas inclusive “marcadas” pelo tempo e pelos insetos que dela se alimentam. Basta prestar atenção às bordas e aos pequenos furos que interrompem o verde intenso.
Bem preservadas, assim como na natureza, a “florada” feita de açúcar dura cerca de um ano, fazendo com que os detalhes de cada bolo precisem ser refeitos após esse tempo. Feitas à mão, são cerca de duas horas, entre a moldagem da massa, o “boleamento”, processo que dá curva a cada pétala, a pintura e a montagem, mais dois dias até que esteja tudo seco. “Quando as pessoas fazem orquídeas, por exemplo, é comum que elas generalizem essa orquídea. O que eu faço é dar personalidade a essas flores, a rosa mesmo, sempre procuro observar as ondulações nas pétalas, entender como é possível todas terem o mesmo tamanho, mas se abrirem de maneira diferente? É importante prestar atenção ao movimento”.
A pintura é feita com corantes em pó ou em gel, dependendo do efeito final esperado, utilizando pincéis para maquiagem pela maciez das cerdas e técnica de desenho em telas, que ela estuda desde os 11 anos. Só para aperfeiçoar o resultado das rosas, por exemplo, foram quatro anos testando a melhor maneira de trabalhar e colorir as pétalas, para que representem uma beleza imperfeita, mas real.
Se a habilidade com os desenhos e cores veio da adolescência, Viviane conta que a arte da modelagem veio da infância, ajudando a avó, que trabalhava com bolos de metro para festa, na época comestíveis. “Me lembro dela construindo um cenário com jardins, pontes, detalhes que iam de flores até cascatas, isso quando ainda nem se falava em bolos de andar e que o acesso a informação era muito mais restrito do que é hoje”.
No início da fase adulta, Viviane até tentou se aventurar pela faculdade Direito, mas não chegou a concluir o curso porque acabou entendo que não o que “o coração mandava”. “A arte é muito importante na vida, é você preservar sua essência de criança, de não desaprender a brincar ou deixar a magia ir embora. Quando crescemos, as coisas parecem enrijecer, entrar no automático e eu não queria deixar de sonhar”.
Viviane acredita que arte é necessária para preservar a essência da infância e cria para não deixar de sonhar (Foto: Henrique Kawaminami)
Viviane acredita que arte é necessária para preservar a essência da infância e cria para não deixar de sonhar (Foto: Henrique Kawaminami)
Hoje as flores feitas são usadas na decoração de bolos para casamento, antes disso a especialidade da artista eram bolos infantis, segmento que ainda faz parte dos serviços oferecidos pela empresa e que possui um acervo de mais de 200 estruturas que são verdadeiras obras de arte misturadas a Engenharia. Com o tema “Volta ao mundo”, o bolo com base de isopor é revestido de biscuit e ganha características de mala, com direito a fecho e tudo. No centro, o globo terrestre munido de um motor feito de engrenagens de MDF e um avião com hélice, movida pelo mesmo motor e que aumenta a atmosfera “mágica” em torno do cenário projetado pelo marido de Viviane, André Martinelli, de 38 anos.
“Eu crio e ilustro os cenários, mas quem cuida de toda a estrutura e torna os projetos possíveis é o André”. Viviane também revela o casal está trabalhando em um bolo idealizado há muito tempo, vai ser ainda maior que o “Volta ao mundo” e promete contar com sistema de luzes controlado por wi-fi e microfone para captar os sons da festa e adaptar a iluminação do bolo de acordo com o clima no ambiente.
Fonte: Campo Grande News