Faltam mais de dois meses, mas Sandy & Junior já estão de malas prontas para visitar dez cidades do país numa excursão que, pela venda antecipada de ingressos, tem tudo para ser vitoriosa – mesmo que eles não cheguem a reviver os dias em que vendiam discos aos milhões e faziam mais sucesso que seu pai, o Xororó da dupla com Chitãozinho.
Naquela época, houve quem os comparasse aos Carpenters, dupla de irmãos que nos anos 70 conquistara o público jovem dos Estados Unidos com suas canções românticas, bem comportadas, de um pop que muitos diziam datado.
Hoje, doze anos depois de tentarem caminhos independentes, Junior e Sandy refazem a dupla livres da comparação. Motivo: os Carpenters não existem mais.
É verdade que já não existiam quando Sandy, um ano mais velha que Junior, nasceu em 1983, exatamente uma semana antes de Karen Carpenter, alma e voz da dupla americana, morrer em consequência de uma anorexia nervosa. Tinha 32 anos.
Quando Sandy, menina ainda, começou a cantar profissionalmente, os Carpenters ainda eram lembrados. Mais que isso, seus discos continuavam fazendo sucesso.
É possível que Sandy & Junior crescessem sem saber de certos detalhes da história dos Carpenters. Em fins de 1978, quando Richard Carpenter – o irmão mais velho, pianista e segunda voz do duo – afastou-se temporariamente por causa das drogas, Karen sentiu-se livre para realizar o velho sonho de um disco só seu.
Começou por chamar para produzi-lo o experiente Phil Ramone, admirador de sua voz, mas não das canções “de adolescente” que, produzidas por Richard, formavam o repertório dos Carpenters.
No final de 1979, começo de 1980, Karen foi para Nova York, onde gravou 21 faixas, das quais 12 ela e Ramone escolheram para o disco. Eram, segundo o produtor, canções de maturidade, de uma cantora que trocava as juras inocentes do romance juvenil por fazer “amor à tarde”, ou “a noite inteira”, ou ter “a cabeça guiada pelo corpo”, ou fingir que “é sempre a primeira vez”. Enfim, 12 canções escritas para ela por nomes como Rod Temperton e Paul Simon.
Karen voltou a Los Angeles com a prova do disco pronta para a apreciação de Richard, já de volta à ativa. Além de se dizer traído pela irmã, ele detestou o que ouviu. Considerou as canções vulgares, perfeitas para destruir a imagem de “garota legal” que haviam construído.
Richard foi além: convenceu Herb Alpert e Jerry Moss (donos da gravadora A&M, da qual os Carpenters eram exclusivos) a não lançar o disco, obrigando Karen a arcar com os 400 mil dólares gastos na produção. Para ela, alma e voz da dupla, golpe mortal.
Os Carpenters gravaram um disco depois disso, “Made in America”, o último com Karen viva. Álbuns póstumos se seguiram, todos com Richard aproveitando takes de arquivo. Estranho que seja, um desses álbuns, “Voice of the Heart”, incluía, rearranjada por Richard, uma das canções do disco solo vetado, a nada ingênua “Make believe it’s your first time”.
Outro álbum, “Lovelines”, recorre a quatro canções dos mesmo disco solo, sem mexer numa nota do que Karen gravara. Uma delas, a tal sobre fazer amor a noite inteira. Quer dizer, Richard Carpenter continuava ganhando dinheiro com a voz da irmã, inclusive – pior ainda – já em 1996, quando decidiu pôr à venda a íntegra das 12 faixas que, 16 anos antes, achara tão vulgares.
O fato de serem irmãos –– e de fazerem sucesso com repertórios pop adolescentes – realmente aproxima as histórias das duas duplas, Carpenters e Sandy & Junior. Mas, irmão por irmão, tanto Sandy como Júnior tiveram muito mais sorte que Karen.
Fonte: G1