A limitação de até 600 turistas por dia no Parque Estadual do Ibitipoca, em vigor há um ano, gerou um excedente de visitantes que empreendedores tentam atrair. As agências de turismo locais elaboraram pelo menos dez roteiros por áreas vizinhas ao parque. E além disso, uma nova unidade de conservação na mesma região pode ajudar a acolher mais turistas apostando na riqueza da fauna, da flora e da gente de Minas Gerais.
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) é o responsável pela gestão do Parque Estadual do Ibitipoca e pelos roteiros dentro dele. No entanto, o aumento da demanda por turismo na unidade somado à limitação do número de visitantes por dia gerou oportunidades.
“No último ano, a limitação de apenas 600 visitantes diários deixou muita gente de fora do parque em feriados. Nós criamos mais de dez roteiros que, além de absorver esses turistas, fazem o dinheiro girar na região”, explicou Gabriel Fortes, guia turístico e dono da agência Sauá Turismo.
Ao ouvir turistas, comunidade e administradores na série de reportagens do Desafio Natureza que, nesta etapa, avalia como o turismo também pode ser abordado como uma questão ambiental.
Entre os passeios oferecidos há expedições de caiaque, travessias à cavalo, acampamento selvagem e passeios de bicicleta que duram até sete dias, um roteiro chamado “Volta das Transições”, com 390 km de extensão, passando por 11 cidades.
No entorno do parque, alguns dos roteiros operados pelas agências de turismo são geridos pelos proprietários de terras, que abrem esses espaços para visitação. Este é o caso do roteiro “Janela do Céu parte baixa”
“É o roteiro fora do parque mais procurado. A Janela do Céu fica em cima do município de Lima Duarte, mas as cachoeiras deságuam em Santa Rita do Ibitipoca”, disse Gabriel Fortes. “A gente faz um deslocamento de 50 minutos de jipe entre Lima Duarte e Santa Rita, até a reserva particular, que abriga 3 das 7 quedas”, continuou.
A coloração das águas é mais clara do que no parque de quartzito, caindo sobre um terreno argiloso. No passeio, que dura o período da manhã, os turistas têm uma aula prática de biologia, se deparando com líquens colados aos troncos e às rochas, que dão condições para o nascimento de briófitas (musgos) e pteridófitas (samambaias), os três colonizadores pioneiros de toda a mata, que ainda abriga muitos gêneros vegetais, como as bromélias.
Além de envolver o dono do espaço onde se insere o atrativo e o guia turístico, o passeio “Janela do Céu parte baixa” pode incluir a compra de artesanato, goiabada, queijo, cachaça mineira e um almoço na casa da dona Lúcia Bongrates, que mora há 50 anos no município de Santa Rita do Ibitipoca.
Embora nunca tenha visitado o parque, a renda dela é incrementada pelo turismo e aumentou no último ano com a limitação de visitantes na unidade. “Eu preparo almoços por encomenda de quem vem fazer esses passeios fora do parque”, contou. “Nas férias tive muita gente, pois quem não consegue entrar, vem para cá. O movimento aumentou aqui”, continuou.
O guia turístico Gabriel Fortes destacou a proporção que os lucros de um turismo bem gerido podem resultar. “O turismo é uma cadeia que envolve ganhos às vezes não contabilizados pela falta de uma estrutura física que o dimensione. A pessoa faz turismo desde o momento em que ela entra em uma plataforma online para pesquisar até quando ela chega aqui, passando pela telefonia que usou para marcar a hospedagem e pelo mecânico a quem recorreu para uma revisão no carro”, resumiu.
A unidade possui 4.200 hectares de área, quase três vezes maior que Ibitipoca, mas a mesma riqueza natural e o mesmo potencial de geração de emprego e renda por meio do turismo.
“Ele ainda não está aberto à visitação, mas já tem uma equipe, que aguarda as diretrizes da Secretaria do Meio Ambiente”, disse Márcio Lucinda, turismólogo e gestor da Associação dos Municípios do Circuito Turístico Serras de Ibitipoca.
“O turismo está começando a acontecer nas propriedades particulares do entorno de Serra Negra da Mantiqueira e é imprescindível a delimitação de expansão da área urbana”, alertou.
“Esse parque é Ibitipoca 40 anos atrás, lindo e com centenas de atrativos, muitos deles ainda nem descobertos, que prometem fazer da nossa região um dos principais destinos de ecoturismo do estado de Minas Gerais e até do Brasil”, concluiu.
Fonte: G1