Se existem pelo menos 13 mil fãs fervorosos do Arctic Monkeys no Rio de Janeiro, é razoável admitir a possibilidade de que todos eles estavam na Jeunesse Arena na noite desta quarta-feira (3).
Sim, porque o que se viu na casa de espetáculos na Barra da Tijuca, Zona Oeste da capital, não foi uma experiência oferecida por ouvintes eventuais da banda de Sheffield, Inglaterra. Pelo contrário – o que aconteceu ali foi uma manifestação vigorosa de fãs muito dedicados.
As luzes se apagaram às 21h32 e a espera do público – contado o atraso de pouco mais de meia hora, algo incomum para grupos ingleses – enfim terminou.
Inteligente, a banda comandada por Alex Turner iniciou a apresentação com uma sequência matadora: “Do I wanna know?”, “Brianstorm” – esta com um solo de bateria ao fim, cortesia de Matthew Helders – e “Snap out of it” determinaram que o jogo já estava ganho desde o início, com a público não cantando, mas gritando as letras do começo ao fim.
A energética “Don’t sit down ‘cause I’ve moved your chair” abriu caminho para a pianística “One point perspective”, primeira incursão da noite no álbum “Tranquility Base – Hotel & Casino”, responsável pela turnê que agora passa pelo Brasil.
Aqui, cabe um parêntese sobre a obra: lançado no ano passado, o disco talvez seja a experiência mais aguda da banda no sentido de criar um álbum conceitual – a descrição de situações passadas em um hotel localizado na lua, entre outros elementos de natureza espacial.
Alguns fatores contribuíram para que o grupo caminhasse nessa direção: o cansaço de Turner em escrever canções de amor, o fato de quase todas as canções terem sido compostas no piano – o que atenuou de forma significativa a presença das guitarras – e a paixão recém-descoberta do vocalista/guitarrista/compositor pela literatura de ficção científica.
De volta ao show, a banda entrega ao público uma performance de seu primeiro grande sucesso: “I bet You look good on the dancefloor”, do álbum de estreia do grupo, “Whatever people say I am, that’s what I’m not”, lançado em 2006.
A canção provoca uma espécie de catarse coletiva na Jeunesse Arena e essa sensação permaneceria durante a execução das três faixas seguintes: “Library pictures”, “Knee socks” e ” The Ultracheese”, esta última com Turner deixando a guitarra de lado e assumindo seu recorrente ar de “crooner” de big band em meio a um belo show de luzes de celulares garantido pelo público.
“Teddy picker” e sua característica frase de guitarra coloca todos para dançarem. O mesmo acontece quando a banda executa a batida cadenciada de “Dancing shoes” e, em seguida, “Why’d You only call me when You’re high?”, entoada pelo público do início ao fim.
Seguiram-se “Cornerstone”, “505”, acompanhada por um mar de palmas, e a sequência instrumental “Drawbridge”, que precedeu novo mergulho no álbum “Tranquility Base”, desta vez pela faixa homônima.
Em nenhum outro momento o público pareceu tão enlouquecido quanto no instante em que gritava o refrão de “Crying lightning”, canção que antecedeu “Pretty visitors” e sua batida quase marcial. “4 out of 5”, outra faixa de “Tranquility Base” cujo clipe tem evidente inspiração na obra do cineasta Stanley Kubrick, encerrou a primeira parte do show.
Após um intervalo de menos de 10 minutos, a banda retorna ao palco para finalizar a apresentação com “Star treatment”, “Arabella” e “R U Mine?”. Ao todo, foram 22 canções em pouco mais de uma hora e meia de apresentação.
Alex Turner, Matt Helders, Jamie Cook, Nick O’Malley – e os quatro músicos de apoio que os acompanharam durante a apresentação – deixaram o palco aplaudidos pelos 13 mil adoradores mencionados no início do texto e com energia de sobra para encararem o desafio de serem a atração principal do Lollapalooza na noite desta sexta-feira (5), em São Paulo.
O Arctic Monkeys é um fenômeno nascido na primeira década deste século. Não seria exagero afirmar que talvez seja o grupo mais importante surgido no rock inglês nos anos que se seguiram ao ocaso das bandas seminais do movimento que se convencionou chamar de brit pop – Oasis e Blur, que dominaram os anos 1990.
Um olhar mais atento ao público que compareceu à Jeunesse Arena deixa claro que boa parte de seus fãs ainda é bem jovem e muito dedicada.
De alguma forma, depois do show em território carioca, os integrantes da banda devem saber que a conexão Rio-Sheffield está mais que consolidada.
Setlist:
- Do I wanna know?
- Brianstorm
- Snap out of it
- Don’t sit down ‘cause I’ve moved your chair
- One point perspective
- I bet You look good on the dance floor
- Library pictures
- Knee socks
- The Ultracheese
- Teddy picker
- Dancing shoes
- Why’d You only call me when You’re high?
- Cornerstone
- 505
- Drawbridge
- Tranquility Base – Hotel & Casino
- Crying lightning
- Pretty visitors
- 4 out of 5
- Star treatment
- Arabella
- R U Mine?