A porteira da propriedade de Osvair está aberta para quem quiser conhecer a beleza que ele enxerga desde que nasceu. Em Furnas do Dionísio, comunidade quilombola situada em Jaraguari, desde o ano passado, morro, cachoeira e comida típica têm atraído quem quer buscar sossego na natureza a 40 quilômetros da Capital. A gente ainda não visitou, mas embarcou nas imagens de quem já experimentou o que pode ser um programão para o final da semana.
Osvair não é só um mero guia local. É da família dos fundadores do quilombo e acredita que os 46 anos ali ainda sejam pouco. “É sim, porque quero chegar aos 150 anos”, brinca o guia e produtor rural, Osvair Barbosa da Silva, de 46 anos.
Como nasceu e foi criado em Furnas, fazer trilha é como levar os visitantes a passear pelo quintal de casa. Dono da chácara Beira Serra, que antes era aberta só para motos, decidiu abrigar também trilhas para caminhadas devido à procura.
“Final do ano para cá veio uma febre de caminhada, então comecei a levar o pessoal aos pontos mais estratégicos”, conta. O início da trilha é dentro de sua propriedade mesmo, um pouco acima da Escola Estadual Zumbi dos Palmares e o caminho pode chegar a 18 quilômetros a serem percorridos. Tudo depende do fôlego e da disposição dos visitantes. O trajeto faz o morro “Alto do Quilombo”, onde se tem a vista de quatro mirantes e passa também pelo córrego Pombal, formado a partir do encontro dos córregos Boa Vista e Rochedinho.
“Começa perto da minha casa, passa pelas serras, faz o contorno, pega a estrada e depois vai para a cachoeira”, descreve. O roteiro, o guia garante, não provoca desgaste ambiental nenhum. “Como eu já conheço, vou onde está o trieiro dos gados tudinho”, explica.
Apesar de estar, como ele classifica, “praticamente dentro de Campo Grande”, Furnas do Dionísio ainda passa desconhecido diante de muita gente. “Meu pai era daqui, meu outro avô veio e foi acolhido pelo pai dele, que deu terra para ele arrendar e no final, ele se casou com a minha mãe e construíram uma família”, descreve.
A narrativa contempla a história da comunidade quilombola, descendente de seu Dionísio Antônio Pereira, o fundador que chegou à região por volta de 1890 e começou a trabalhar na agricultura e na fabricação de doces.
E a mescla de história com beleza tem levado Osvair a estruturar a propriedade para também oferecer pouso a quem quiser acampar. “As pessoas me solicitam, como eu não vou fazer uma coisa dessas?”, se pergunta.
Quem vai diz que busca sossego e contato com a natureza, além de conhecer melhor a comunidade. Os produtos típicos, como a rapadura e a mandioca, ficam à disposição de quem quiser comprar.
“A impressão que eu tenho é que todo mundo fica satisfeito, graças a Deus”. Por enquanto, ainda há um certo “receio”, como Osvair descreve, da própria comunidade em se abrir para o turismo.
“É que eles não sabem, mas o turismo já existe aqui dentro e podemos ser um setor muito forte”, acredita.
No roteiro de trilhas do Sopa de Pedra, o trekking pelas Furnas de Dionísio já teve duas edições. “É uma mistura de duas modalidades, da mata mesmo com a caminhada rural, quando andamos em estradas e interagimos com a comunidade, passando em frente de fazendas”, diferencia o guia do Sopa, Nilson Young.
O circuito que o Sopa faz junto ao guia local é de 7 quilômetros, percorrido em uma média de 3h. “O bacana dessa caminhada é o Osvair. Como ele nasceu ali, conhece toda a história da comunidade. Então não é só a apreciação da natureza, é também um passeio cultural”, completa Nilson.
E quem quiser também pode esticar a trilha para um almoço típico, de comida feita no tacho. “Muitos grupos querem ver como é a nossa refeição. E é sul-mato-grossense mesmo, feita no nosso estilo de comida caipira”, anuncia Osvair. No cardápio, pode ter costelão ou frango com gueroba e no peito, vai a alegria de ver a “casa cheia”.
“Meu sentimento é de prazer, principalmente porque as pessoas estão valorizando um pouco a nossa região, que praticamente por ser uma comunidade negra, era pouco visitada”, resume.
Fonte: Campo Grande News