Embraer: a fabricante de aeronaves apresentou em 2018 seu primeiro prejuízo em mais de dez anos (Germano Lüders/EXAME)
A Embraer terá como foco em 2019 fazer uma transição suave após a venda para a Boeing. “Depois de meses de incerteza e especulação”, a empresa está “muito feliz” que a transação foi aprovada pela maioria dos acionistas, disse o vice-presidente financeiro, Nelson Salgado, em conferência com os analistas para a apresentação dos resultados do quarto trimestre e do ano de 2018.
A fabricante de aeronaves americana acordou a compra de 80% da empresa brasileira por 4,2 bilhões de dólares, e a aprovação de 96,8% dos acionistas da Embraer aconteceu no último dia 26 de fevereiro, em assembleia extraordinária. O governo brasileiro também já havia aprovado a transação em janeiro.
O negócio ainda aguarda aprovação de órgãos reguladores de diversos países. A Embraer reafirmou nesta quinta-feira que todo o processo deve ser finalizado até o fim de 2019, mas que a transição terá impacto nos resultados do ano.
Salgado afirmou que, por conta da transição, o ano “será atípico” e o lucro não tão “brilhante”, com o Ebit (lucro antes de juros e impostos) devendo ter margem perto de zero.
O acidente com o Boeing 737 Max também não interfere na parceria entre as empresas, segundo os executivos. Um avião deste modelo, operado pela Ethiopian Airlines, caiu no último domingo, 10, deixando 157 mortos e fazendo países como Estados Unidos e China proibirem o uso da aeronave.
Nos dois dias após o acidente, a Boeing perdeu 4,2 bilhões de dólares em valor de mercado. No Brasil, a Gol, única que usa o modelo que caiu, viu as ações baixarem 2,6% no dia após a tragédia e decidiu suspender o uso da aeronave. “Não tem conexão com a Embraer e não afeta a parceria estratégica com a Boeing”, afirmou Salgado.
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A Embraer apresentou em 2018 seu primeiro prejuízo em mais de dez anos. Segundo os dados divulgados nesta quinta-feira, a empresa registrou prejuízo de 669 milhões de reais, ante lucro de 850,7 milhões que havia tido em 2017.
O trimestre também fechou com prejuízo, com baixa de 78,1 milhões, ante lucro de 132 milhões de reais no ano anterior. O faturamento do período foi de R$ 6,37 bilhões, um crescimento de 13%, mas que se deve muito mais à variação cambial no período do que a uma melhora nos resultados de fato.
A empresa vendeu menos jatos do que gostaria, segundo os executivos. Parte da queda no lucro também se deve à revisão de custos do KC-390, avião da divisão de Defesa e Segurança da fabricante. O avião será desenvolvido em parceria com a Boeing e a primeira entrega ocorre ainda em 2019. Segundo os executivos, é um momento de transição do jato, saindo do desenvolvimento e passando a produção e entregas. A joint-venture de defesa que produzirá o KC-390 tem participação de 51% da Embraer e 49% da Boeing.
No quarto trimestre, o segmento de aviação comercial, justamente o adquirido pela Boeing, foi bem, representando metade da receita, ante 38% no mesmo período de 2017. No acumulado de 2018, o setor de defesa & segurança perdeu participação no faturamento total: 14,6% em 2017 para 11,7%.
Após o anúncio, as ações da empresa caiam por volta de 2,18% na manhã desta quinta-feira. Os resultados fracos já eram aguardados pelos analistas, que continuam apostando na transação com a Boeing para números melhores no futuro.