As bibliotecas e os bibliotecários trocaram de pele ao longo de suas históricas existências. De espaço sagrado e apenas reservado para elites religiosas, nobres e intelectuais a lugar de difusão do conhecimento físico e digital, as bibliotecas moldaram profissionais à medida do seu tempo.
O papel das bibliotecas como promotoras de mudanças é o ponto de debate no encontro Bibliotecas – Diálogos para Mudança, que ocorre nesta segunda (11) e terça-feira (12), das 9h às 17h, no Auditório Interlegis (Senado Federal), com participação aberta ao público e apoio do Ministério da Cidadania. A data escolhida para o evento não foi casual: 12 de março é o Dia do Bibliotecário. “O grande papel do bibliotecário dos equipamentos públicos é o de motivador social. Nesses espaços, chegam pessoas em busca de uma mudança social, seja por meio de um concurso público, seja pelas atividades artísticas que promovemos dentro desse espaço de encontro de multilinguagens”, destaca Marmenha Rosário, coordenadora da rede de bibliotecas públicas do DF.
Numa era em que ainda se discute o futuro do livro físico e a explosão da informação dividida em um trilhão de fragmentos, a função do bibliotecário tornou-se crucial na chamada sociedade do conhecimento. Cabe a esse profissional coletar, reorganizar e restituir esse todo que se pulverizou. Separar o que é realmente significativo para que a história do conhecimento siga seu curso de emancipação da humanidade.
Diante da enxurrada de informações propagadas por todos e a todo momento, a presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo, aponta: “O desafio é identificar as fontes com credibilidade e trabalhar para fortalecê-las enquanto indica o conteúdo adequado ao público leitor. A formação desse público também é parte fundamental: é preciso fomentar o pensamento crítico e a capacidade de reflexão”.
Essa transformação não se dá apenas pela sistematização digital das bibliotecas, aquisição de um software sofisticado ou da implantação de uma plataforma de e-books. Requer o raciocínio lógico e criativo do bibliotecário, um gestor de dados, adaptando-se às características regionais dos seus leitores.
“O bibliotecário, como profissional da informação, tem hoje como desafio atender as novas demandas informacionais surgidas com o crescimento do uso da Internet, e pensar novos serviços diante de um mercado cada vez mais tecnológico. Esses desafios poderão ser superados pelo bibliotecário e suas instituições, buscando novas capacitações, conhecimentos em tecnologias e inovando seus serviços”, acredita Guilherme Relvas, diretor do Departamento de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secretaria Especial de Cultura.
Entre abismos
Estudiosos, como o historiador inglês Peter Burker (autor de dois volumes de Uma história social do conhecimento), aponta, em seus livros, que, na era da explosão digital, é crucial diferenciar os conceitos entre “busca” e “pesquisa”. Enquanto a primeira ação significa encontrar a informação rapidamente em velozes ferramentas que acessam esse banco de algoritmos, a segunda implica retornar aos recursos originais com fontes confiáveis. É nesse abismo que caminha o bibliotecário do século 21, um mediador de dados, capaz de dar credibilidade e legitimar a informação.
“As profissões são desafiadas no decorrer dos séculos a lidar com o uso das novas tecnologias e com ambientes cada vez mais dinâmicos, criando diferentes perfis de gestão e liderança. Os bibliotecários são exemplos disso quando observamos a evolução de suas diversas frentes de atuação no mercado de trabalho e da inovação de seu papel frente às bibliotecas em todo o país”, diferencia Guilherme Relvas.
Coordenadora da Biblioteca Demonstrativa Maria Conceição Moreira Salles, Carolina Perdigão diagnostica que a reinvenção do ofício acabou com o medo da perda de espaço no mercado de trabalho, impulsionado pela revolução digital. Ninguém imagina mais o bibliotecário como aquele romântico organizador de estantes.
“Esse profissional pode atuar em repositórios institucionais, em estruturas de ambientes digitais bem como em análise de dados digitais, centros de cultura, recuperação e disseminação da informação em provedores de buscas, projetos sociais de disseminação da informação e da cultura, entre tantos outros”, elenca.
Entusiasta da profissão, Carolina Perdigão aponta, por exemplo, a regulamentação da Lei 12.244/2010, que afere, até 2020, a existência de uma biblioteca em todas as instituições de ensino públicas e privadas no Brasil, gerida por bibliotecários comprometidos com a construção cultural do país.
Manuel Bastos Tigre
A data de 12 de março foi definida como o Dia do Bibliotecário em homenagem a Manuel Bastos Tigre, nascido neste dia, em 1882. Pernambucano, ele queria ser “muitos” em sua trajetória única. Foi engenheiro, dramaturgo, poeta, jornalista, humorista, compositor, cronista e publicitário (é da sua autoria o famoso slogan “Se é Bayer é Bom”). Parecia não existir mais espaço para tantas personas. Até que, numa viagem aos Estados Unidos, em 1915, ele teve o estalo para dar forma a sua maior façanha: a de ser o primeiro bibliotecário concursado no Brasil.
Aos 33 anos, ficou diante de Melvil Dewey, considerado o pai da biblioteconomia moderna, que lhe detalhou o Sistema de Classificação Decimal. Nascia assim o ofício apaixonado que lhe acompanhou até a morte, em 1957.
Desde o ano de 1980, por meio do Decreto nº 84.631, o Dia do Bibliotecário é estratégia simultânea para refletir tanto sobre um dos ofícios mais nobres da humanidade quanto para pôr em circulação a memória de um homem culto e incorrigivelmente divertido, que, ao lado de Ary Barroso, compôs a canção Chopp engarrafado, em alusão à primeira cerveja em garrafa industrializada no Brasil.
Serviço
Bibliotecas – Diálogos para Mudança
De 11 até 12.03, das 9h às 17h
Auditório Interlegis (Senado Federal)
Entrada franca
Para acessar a programação completa, clique aqui.
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cidadania