O Taj Mahal é a construção mais famosa da Índia e atrai milhares de turistas. Mas o Suprema Tribunal do país advertiu que uma combinação de negligência e poluição ameaça a existência do monumento. Taj Mahal, a construção mais famosa da Índia, pode desaparecer Dominique Faget/AFP Shamshuddin Khan organiza visitas para o Taj Mahal, na Índia, há mais de 30 anos e foi guia turístico de mais de 50 chefes de Estado de todo o mundo. Durante esse tempo, viu seu cabelo embranquecer e o Taj Mahal ficar mais escuro. Ao se aproximar da construção, Khan mostra as rachaduras e o mármore danificado da edificação. "Há momentos vergonhosos, em que os turistas estrangeiros me perguntam porque o Taj Mahal não é mantido como deveria. Também nos perguntam por que está perdendo sua cor e brilho. Nós, os guias, não temos as respostas", diz Khan. O Taj Mahal é um dos principais pontos turísticos da Índia. De 2010 a 2015, recebeu entre quatro e seis milhões de turistas, segundo o Ministério de Turismo e Cultura do país. Foi construído na cidade de Agra, no século 17, pelo imperador Shah Jahan. Era um mausoléu para sua rainha favorita, Mumtaz Mahal, que morreu ao dar à luz o décimo quarto filho do casal. Para construir o edifício, o imperador encomendou mármore do Rajastão, que tem uma característica singular: parece rosa pela manhã, branco à tarde e leitoso à noite. Problemas estruturais Mas o Taj Mahal começou a perder seu brilho. Suas fundações estão danificadas e as rachaduras estão cada vez maiores e mais produndas na cúpula de mármore do monumento. Diz-se que as partes superiores dos minaretes estão à beira do colapso. No começo deste ano, ventos fortes provocaram a queda de dois pilares do lado exterior. Em julho de 2018, o ambientalista e advogado MC Mehta apresentou uma petição para o Supremo Tribunal da Índia solicitando novos esforços para salvar o Taj Mahal. Os juízes concordaram e ordenaram audiências periódicas com os responsáveis pela conservação do edifício. A corte criticou a letargia dos funcionários públicos a respeito do destino da construção mais famosa da Índia. "O Taj Mahal deve ser protegido. Porém, se a indiferença dos funcionários continua, então, deve fechar. Inclusive, se as coisas não forem feitas corretamente, as autoridades deveriam demolí-lo", disse a sentença. Se por um lado muito poucos estão dispostos a tolerar a demolição do Taj Mahal, por outro lado a mera menção desta ideia pelo Supremo Tribunal indica que há uma verdadeira interrogação sobre seu futuro. Poluição do ar, chuva ácida e mudança de cor do Taj Mahal A petição que MC Mehta entregou ao Supremo Tribunal este ano não foi a primeira. Desde meados dos anos 1980, o ambientalista e advogado tem cobrado as autoridades indianas para que tomem medidas para preservar o Taj Mahal. Naquela época, os ambientalistas estavam particularmente preocupados com uma refinaria de petróleo em Mathura, a 50 quilômetros de distância, que havia começado a funcionar na década de 1970. Em 1978, um comitê de especialistas que estudou a qualidade do ar em Agra e seus arredores descobriu níveis substanciais de dióxido de enxofre na atmosfera. Além do dano para a saúde pública, esta contaminação também era danosa para o Taj Mahal. O dióxido de enxofre, junto com outros poluentes, se combina com a umidade na atmosfera, provocando a chuva ácida. Um relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para o governo indiano descobriu que o monumento estava se tornando amarelo devido a "partículas suspensas e poeira na superfície". A ameaça ao Taj Mahal não provém apenas do ar, mas também da água. O trecho do rio Yamuna que passa por Agra é um dos canais mais contaminados do mundo. "As indústrias ao longo do rio, desde Delhi até Agra, estão despejando seus resíduos químicos diretamente no rio", afirma o ambientalista local Brij Khandelwal. Khandelwal ressalta ainda que o esgoto de Agra vai diretamente para o Yamuna, sem nenhum tratamento. Nessas condições, os peixes não conseguem sobreviver. Assim, moscas, mosquitos e outros insetos que normalmente seriam comidos pelos peixes acabam proliferando sobre a água suja e infestam o entorno do Taj Mahal. Falta de água pode prejudicar fundações Outro problema é a falta de água. As fundações do Taj Mahal estão localizadas sobre 180 poços de água e bases de madeira, que requerem água durante todo o ano. Se a base não for regada durante todo o ano, a madeira abaixo eventualmente se secará, apodrecerá e se romperá. Mas o que explica a falta de água? Quando o Taj Mahal foi construído, a maioria dos negócios e das viagens eram feitos ao longo do rio. Porém, à medida que a população crescia e as indústrias floresciam, foram construídas represas no Yamuna, reduzindo o fluxo do rio. "O rio Yamuna, que flui através do Himalaia, encolhe e se torna um fio d'água no momento em que atinge Agra", diz o ambientalista Khandelwal. Assim, adverte Khandelwal, para salvar o Taj Mahal, o Yamuna precisaria retomar seus níveis originais. "Se só a cúpula (do Taj Mahal) pesa 12,5 mil toneladas, podemos imaginar quanto pode pesar o restante da construção. As fundações de um edifício tão pesado deveriam ser sempre fortes", afirmou. Ilustração mostra o funcionamento das fundações do Taj Mahal, acima de poços de água BBC Justiça impôs restrições, mas efeitos foram poucos Em 1984, Mehta apresentou uma petição para o Supremo Tribunal, argumentando que as fundições, as indústrias químicas e as refinarias eram a causa principal da descoloração do Taj Mahal. Nove anos depois, o Supremo Tribunal anunciou que estava de acordo e elaborou uma lista de medidas para reduzir a contaminação da região. Foram aprovados pedidos para fechar todas as indústrias poluentes ao redor de Agra, especialmente aquelas muito próximas ao Taj Mahal. Além disso, as empresas que operam na cidade e cercanias foram obrigadas a usar apenas gás natural como combustível. O uso de carvão foi tornado ilegal. Também foi imposta uma proibição a veículos e equipamentos movidos a diesel. E foi proibido levar búfalos para o Yamuna, bem como lavar roupas em suas águas. Já em 1998, o Supremo Tribunal estabeleceu uma área de exclusão especial, para manter a indústria pesada a certa distância do monumento. Mas Mehta afirma que as autoridades não seguiram as ordens do Supremo Tribunal. "Infelizmente, nada mudou e tive de bater à porta do Supremo Tribunal novamente". O uso de veículos a diesel, por exemplo, continuou. O gado também continuou banhando-se no rio Yamuna e as roupas seguiram sendo lavadas ali. Além disso, fumaça, pó e poluentes tóxicos das indústrias de Agra e arredores continuaram sendo despejados no ar e no rio Yamuna, fazendo a contaminação crescer a níveis alarmantes. Proprietários das indústrias locais chegaram a formar uma organização com o slogan: "Eliminar o Taj, salvar a indústria". Tentativas de preservar o Taj Mahal O Supremo Tribunal confiou a tarefa de conservar o Taj Mahal a K Mohan Rao, o prefeito da cidade. Rao afirma que estão sendo tomadas medidas para fazer frente à quantidade de lixo que emana dos canais e nas casas da cidade. "Estão sendo instaladas unidades de tratamento de águas residuais", afirma. Segundo ele, há propostas para transformar Agra em uma "cidade inteligente", o que implica uma renovação completa na infraestrutura. Khandelwal e Mehta, no entanto, não estão contentes com o programa de conservação do Serviço Arqueológico da Índia, que restaura o Taj Mahal com uma camada de lama que supostamente absorve a sujeira que descolore as paredes da construção. Segundo os dois ativistas, para restaurar a glória do Taj Mahal seria preciso estudar como foi feita a conservação da infraestrutura durante o império mongol e o reinado britânico na Índia. Para isso, seria preciso recuperar o rio Yamuna. Porém, depois de tantas décadas dedicadas à preservação do Taj Mahal, Mehta diz que tem poucas esperanças de que o monumento seja salvo. À medida que as fundações enfraquecem, Mehta se preocupa que um dia reste apenas a lembrança. "O Supremo Tribunal já pediu que tantas agências realizassem estudos sobre como salvar o Taj Mahal. Essas agências, então, apresentaram suas descobertas de tempos em tempos. E a Justiça tem emitido ordem atrás de ordem. Mas, infelizmente, as autoridades não são sérias. Eu já estou envelhecendo, mas seguirei lutando", diz Mehta.