Os palcos brasileiros perderam uma de suas vozes mais expressivas. Abigail Izquierdo Ferreira, conhecida como Bibi Ferreira, faleceu nesta quarta (13), no Rio de Janeiro. A primeira atriz do teatro musical brasileiro morreu em casa, na Zona Sul, aos 96 anos. A Secretaria da Cultura do Ministério da Cidadania lamenta a morte da multiartista, um dos maiores fenômenos artísticos do País.
O secretário da Cultura, Henrique Pires, comentou a perda. “O Brasil se despede de uma das mais completas artistas de sua história. Foram mais de 90 anos brilhando nos palcos nacionais como atriz, diretora, cantora e compositora. Como seu pai, Procópio Ferreira, dignificou as Artes Cênicas e abriu caminho para tantos artistas que vieram depois. Que sua trajetória nos sirva de exemplo”, afirmou.
A Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cidadania, conta com uma biografia da artista no projeto Brasil Memória das Artes. O projeto é uma iniciativa de difusão do acervo sonoro e fotográfico da fundação. Além de salvaguardar esse acervo, a Funarte disponibiliza ao público a memória cultural brasileira. A artista também já foi contemplada com um programa especial do Estúdio F, também da fundação.
Sobre a Bibi Ferreira
Bibi Ferreira nasceu no Rio de Janeiro, em 1 de junho de 1922. Filha do ator Procópio Ferreira e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, desde cedo deixou claro que carregava o gene do teatro. Estreou no palco com apenas 20 dias na peça Manhã de Sol, no colo de sua madrinha Abigail Maia, esposa do autor e padrinho Oduvaldo Viana.
Com a separação dos pais, seguiu com a mãe, que trabalhava em companhia espanhola de teatro de revista, a Companhia Velasco. Na Espanha, tornou-se conhecida como “la niña de Velasco”, a partir de participações em espetáculos da companhia. De volta ao Brasil, aos sete anos, Bibi ingressou na escola de dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde estudou com Maria Olenewa. Em seguida, já começou a trabalhar na companhia de teatro do pai.
Em 1941, protagonizou a peça La Locandiera, de Carlo Goldoni, como a esfuziante Mirandolina. No ano seguinte, montou sua própria companhia, por onde passam futuros grandes nomes do teatro, como Cacilda Becker, Maria Della Costa, Henriette Morineau, Sérgio Cardoso e Nydia Licia. Tornou-se, assim, uma das primeiras mulheres a dirigir teatro no Brasil.
Na década de 50, montou repertório com sua companhia e, depois de bem-sucedidas temporadas cariocas, viajou pelo Brasil com elenco numeroso, grandes cenários e produções caprichadas. Dentre seus maiores sucessos está A Herdeira, de Henry James. Em 1960, inaugurou a TV Excelsior com o programa Brasil 60, no qual usa o moderno recurso do videotape para transmitir reportagens das capitais brasileiras, aposentando o programa ao vivo que até então era comum na TV brasileira.
Na década de 60, estrelou dois musicais memoráveis: Minha Querida Lady (My Fair Lady), de Frederich Loewe e Alan Jay Lerner; e Alô Dolly (Hello Dolly!), adaptado a partir de The Matcmaker, de Thornton Wilder. Por seus impecáveis desempenhos nesses musicais, tornou-se a primeira atriz do teatro musical brasileiro, aquela que interpreta, canta e dança.
Em 1983, após cinco anos ausente do palco, voltou em Piaf – A Vida de uma Estrela, em que viveu a cantora francesa Edith Piaf. Sua performance elaborada chegou a ser “mediúnica”, tal a sutileza na encarnação da anima/persona da cantora: a semelhança da voz, do frágil aspecto físico e do temperamento quente. Com a interpretação, ganhou diversos prêmios: Molière, Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Governador do Estado e Pirandello.
Em 2003, recebeu homenagem da escola de samba niteroiense Viradouro, tornando-se tema do enredo “A Viradouro Canta e Conta Bibi”, uma homenagem ao Teatro Brasileiro, do carnavalesco Mauro Quintaes.
Assessoria de Comunicação
Secretaria Especial da Cultura
Com informações da Funarte
Ministério da Cidadania